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A falácia do sequenciamento: Projeto AEC e Planejamento

Publicado em 06/04/2016

Hoje vamos tentar demonstrar que uma prática relativamente comum no mercado de empreendimentos em construção civil é um grande equívoco. Falamos do sequenciamento que é imposto como solução a alguns trabalhos e que, na realidade, acaba sendo um problema. O caso mais emblemático é o sequenciamento que se estabelece entre o desenvolvimento dos projetos de Arquitetura e Engenharia (Projetos AEC) e o planejamento da obra.

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A prática comum do mercado é que empreendedores contratem inicialmente os Projetos AEC do empreendimento para apenas depois pensar nas estratégias de implantação do mesmo. Ou seja, o planejamento formal do empreendimento tem como trabalho predecessor o desenvolvimento dos Projetos AEC.

Contudo, boa parte das decisões de planejamento não depende de se conhecer de antemão o Projeto AEC do empreendimento. Por exemplo, algumas estratégias de aquisições costumam ser condicionadas por características do mercado local ou regional e isso independe das soluções de engenharia que são dadas no Projeto AEC. Ou seja, estas questões de planejamento parecem preceder o desenvolvimento da Arquitetura e Engenharia e até mesmo estabelecerem requisitos para as soluções técnicas.

Mas vejamos outros casos. Pense nas prospecções de subsolo necessárias para estudos de fundações de qualquer empreendimento. Os resultados deste levantamento podem impor requisitos ao planejamento, pois as condições de subsolo acabam por restringir as possibilidades de solução e metodologia de execução. Neste caso, estas informações técnicas devem preceder uma série de decisões de planejamento (estratégias de aquisições, metodologia de execução, plano de ataque à obra, etc.).

Ora, se há casos em que o planejamento precede o Projeto AEC e outros em que o inverso acontece, temos aqui um forte indício de que tais trabalhos são na realidade paralelos, simultâneos. Se formos discriminando as atividades em cada área encontraremos diversas situações em um depende do outro e essa dependência inverte de sentido conforme o caso.

Cito mais um exemplo bastante característico: as planilhas de serviços. Se a execução de uma obra será contratada de um único construtor, a planilha de serviços é única e bastante completa. Por outro lado, quando planeja-se fazer várias contratações dividindo o escopo da obra, cada parte deve ter sua própria planilha de serviços (e de custos consequentemente). Neste segundo caso, embora haja uma maior dificuldade gerencial, costuma-se obter reduções de custo para o empreendedor por reduzir subcontratações entre construtores. A formatação dos documentos do Projeto AEC (planilha de serviços e custos neste exemplo, mas o impacto pode ser maior) está condicionada por uma decisão de planejamento. Esta estratégia de contratação definida após a finalização do Projeto AEC quase sempre leva a um retrabalho, uma reformatação de vários documentos.

Ou seja, o desenvolvimento do Projeto AEC do empreendimento e o planejamento de sua implantação correm de mãos dadas condicionando-se mutuamente e devem ser, portanto, paralelos. Decisões de planejamento condicionam o desenvolvimento de soluções de arquitetura e engenharia e estas, por sua vez, condicionam o planejamento.

É comum que se alegue que a equipe de projetistas faz as considerações de planejamento quando definem as soluções. Pergunto então, porque não cobram pelo planejamento da obra? A resposta é simples: a equipe de projetistas costuma fazer várias análises e considerações quanto a isso, mas não tomam as decisões quanto ao planejamento. Portanto, não se pode considerar que houve planejamento da implantação, pois decisões a esse respeito não foram tomadas. O que houve foram análises de construtibilidade ou algo semelhante. E essas análises são, de fato, responsabilidades da equipe de projetistas.

Se levarmos essa análise a fundo concluiremos que tanto o desenvolvimento do Projeto AEC quanto o planejamento da implantação iniciam-se praticamente juntos com a própria concepção do negócio que se empreende. Porém, a prática comum dos empreendedores no mercado é contratar primeiramente o desenvolvimento do Projeto AEC para apenas depois se preocupar com a implantação do empreendimento. Essa prática, embora dilua o investimento inicial num prazo maior, traz como consequência o retrabalho sobre o Projeto AEC e a restrição de alternativas de planejamento em função de decisões de engenharia já tomadas no Projeto AEC.

Enfim, o sequenciamento entre Projeto AEC e Planejamento é uma prática comum, mas é um equívoco considerarmos isso uma boa prática. Na realidade, a vivência no setor demonstra que esse sequenciamento traz mais problemas que boas soluções.

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Sobre o Colunista: Renê Guimarães Ruggeri. Formado em Engenharia Civil, MBA em Gestão de Projetos, Especialista em Gestão de Empresas, 20 anos como Coordenador de Projetos AEC, autor dos livros “Redescobrindo o Processo do Projeto” (2015) e “Gerenciamento de Projetos no Terceiro Setor” (2011), Eng. Máster Coordenador de Projetos na Vale S/A (2011-2015), Professor da Academia Militar de MG no CFOBM (2003-2010), Diretor de Projetos da FEOP(2006-2008), participação em mais de 100 Projetos AEC de variados portes e tipologias (1995-2015), Instrutor, palestrante e escritor nas áreas de Engenharia de Projetos e Gestão de Projetos. Atualmente é Sócio-Proprietário da Renê Ruggeri Engenharia e Consultoria e atua com Gestão de Empreendimentos com foco em Gestão de Engenharia.

Email de contato: rgruggeri@gmail.com – Site: www.reneruggeri.com

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