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As lições aprendidas na Copa do Mundo no Brasil

Publicado em 26/05/2014

Às vésperas da Copa do Mundo no Brasil muito se fala do atraso, da não execução das obras previstas, do excesso de gasto, da falta de planejamento… Em 2007 o país do futebol foi escolhido para sediar o evento mais importante do futebol, criando uma expectativa muito grande na população brasileira, que imaginou que a Copa iria alavancar o crescimento do país, fato que não ocorreu.

Se fossemos ouvir opiniões e debater sobre a Copa no Brasil, a competição terminaria  e ainda estaríamos discutindo, até porque a política está diretamente envolvida.

No entanto, nesse post, vamos levantar alguns fatos que ocorreram durante o período de preparação para o evento, relacionando com o gerenciamento de projetos. Sei que muitos vão discordar, mas vivemos em um país democrático e qualquer comentário e crítica será bem vindo.

Escopo

Segundo levantamento da Folha, a 30 dias da copa, apenas 41% das 167 obras previstas foram concluídas, 36% estão incompletas, 17% serão executadas após o torneio e 7% foram abandonadas.

Isso nos leva a crer que o escopo foi mal definido e mal controlado. As constantes mudanças de escopo e demora na liberação de recursos são as principais justificativas dos estados para o não cumprimento das intervenções previstas.

gestao de projetos

Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO – Legado Incompleto

 

Gerenciamento das Partes Interessadas

Se o governo brasileiro fizesse um levantamento em 2007, quando o Brasil foi escolhido para sediar o mundial, acredito que a grande maioria da população brasileira seria favorável a Copa do Mundo. Movidos pela paixão pelo futebol e esperançosos no crescimento do país, a população criou muita expectativa com as promessas do governo.

Porém, o governo negligenciou e não gerenciou a principal parte interessada: a população. Com intuito de distribuir o evento para as regiões do país, o governo optou por utilizar 12 estádios no mundial, enquanto a FIFA sugeria oito. Foram construídos “elefantes brancos”, que se tornarão inviáveis após o mundial.

Em contrapartida apenas 10% das obras de mobilidade urbana foram concluídas. As promessas não cumpridas causaram indignação, expressada nas manifestações por todo o país durante a Copa das Confederações, o que parecem ter sido apenas uma prévia do que teremos durante o mundial.

gestao de projetos

Custo e Prazo

Em 2007 o ex-ministro dos esportes, Orlando Silva, garantiu que não seria gasto nem um centavo de dinheiro público com a reforma dos estádios. A CBF havia apresentado uma estimativa de 1,1 bilhão de dólares para os estádios.

A apuração mostra que gastamos, até agora, cerca de 10 bilhões na construção dos estádios, sendo que 70% desse dinheiro é público. Estima-se que as obras contabilizarão R$ 31 bilhões, mais que o somatório gasto nas últimas três edições do mundial.

Um erro crasso de estimativa de custo e no critério de seleção para onde foi destinado os gastos, uma vez que as obras realizadas não atenderam as expectativas dos principais stakeholders.

Desde o início, a principal restrição foi o prazo. Os estádios deveriam ser entregues a FIFA em Dezembro de 2013. Dos 12 estádios do Mundial, apenas as arenas de Belo Horizonte e Fortaleza cumpriram o prazo estabelecido pela FIFA.

Um noticiário esportivo me chamou atenção recentemente, quando um comentarista disse que obra pronta no Brasil tem vários significados. Ele se referia aos estádios e demais obras que, mesmo inacabadas estão sendo maquiadas para receber o evento. O Itaquerão, palco de abertura da Copa, que acontece daqui a 20 dias, ilustra o cenário de obras “quase concluídas”. Conclusão: O prazo também não foi cumprido.

gestao de projetos

Construção do Itaquerão – Palco de abertura da Copa do Mundo

Lições aprendidas

Infelizmente a preparação do Brasil para sediar a Copa do Mundo nos ensinou o que não deve ser feito em nossos projetos. São exemplos claros e tangíveis de que o mal gerenciamento causa prejuízos irreparáveis aos empreendimentos e a imagem da empresa, neste caso, do país.

Estou convicto de que a culpa pelos problemas relatados não devem ser atribuídas aos profissionais que trabalharam diretamente nos projetos, e sim aos nossos governantes e a uma cultura (ou doença) chamada “jeitinho brasileiro”.

 Referencias:

duilio_paiva

Sobre o Colunista: Duílio Paivaprofissional pós-graduado em gestão de projetos pelo IETEC, engenheiro de Produção/Civil pela FUMEC com formação técnica em Edificações pelo CEFET/MG. Possui nove anos de experiência na construção civil, onde atuou em obras de infraestrutura, industrial, predial e ferroviária. Atualmente engenheiro de planejamento da PHV Engenharia, onde é responsável pelo planejamento e controle de obras comerciais e residenciais de alto padrão.

E-mail de contato: duilio.paiva@outlook.com

Se você tem comentários, sugestões ou alguma dúvida que gostaria de esclarecer, aproveite o espaço a seguir.

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  1. Duílio Paiva disse:

    Com certeza. Como será o ciclo de vida do produto Estádios? Mas será que alguém pensou nisso quando decidiu construir a Arena Amazônia com capacidade de 40.000 pessoas no estado onde a final do campeonato local leva cerca de 8000 pessoas ao estádio?

    Os interesses foram outros…

  2. Duílio Paiva disse:

    Esse também é meu maior medo Alexandre. Nos comentários sobre os atrasos, sempre falam que não teve planejamento.
    Infelizmente, o primeiro legado que vejo da Copa será essa imagem de que não temos competência para gerenciar grandes projetos.

  3. Duílio,
    Muito bom artigo com assunto pertinente ao momento.
    Infelizmente, a preparação para a Copa do Mundo não pode ser analisada sem o forte componente “político” que envolve as obras públicas brasileiras (político esta entre aspas você sabe porque, certo?).
    Na minha opinião, nada do que aconteceu nesses sete anos, pode ser analisado somente à luz do gerenciamento de Programa e Projetos, pois o gerenciamento de escopo, prazos e, principalmente, de custos foi conduzido por princípios que nada se relacionam com as Boas Práticas de gerenciamento.
    O meu maior receio é que o legado que a Copa vai deixar para o Brasil é a imagem de um povo desorganizado, que não sabe e não tem competência para gerenciar obras e empreendimentos de grande porte. Quando, na verdade, sabemos que a realidade é bem diferente. Se esse Programa da Copa do Mundo 2014 tivesse sido entregue à iniciativa privada, os resultados certamente seriam bem diferentes.
    Abraço.

  4. Eduardo Johnny disse:

    Tão importante quanto aos comentários que faz o colega será a sequencia dada de agora para frente. Como estará o plano de ação para que não tenhamos muito prejuízo, pois após Copa como será feito o diligenciamento para a conclusão das obras. Muito dinheiro ainda será gasto para conclusão e retrabalho..

  5. Ronan disse:

    Uma discrepânica tão grande de custo e prazo do foi planejado indica indubitavelmente que o projeto falhou. Diferenças de custos e prazos e mudança de escopo são muito comuns, mas nada justifica tamanho desvio do projeto.

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