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Como medir o nível de qualidade do seu empreendimento com base na construtibilidade do seu projeto

Publicado em 14/01/2016

RESUMO

As exigências quanto a qualidade feitas pelos órgãos financiadores da construção civil levaram a necessidade de se melhorar as metodologias construtivas, a fim de minimizar riscos e aumentar a performance das empresas deste setor, Ribeiro (2005). Dentre as alternativas adotadas, pode-se citar a inclusão de novas formas de gerenciamento, cujo principal objetivo é integrar as diferentes disciplinas do projeto e, dessa maneira, antecipar soluções, princípio da Engenharia Simultânea, o principal objetivo desta técnica é o aumento da construtibilidade.

O termo construtibilidade é definido de várias formas na literatura, dentre elas, como uma ferramenta essencial para adequação do planejamento, de modo que este conduza à realidade da futura construção e esteja de acordo com os pilares da gestão de projeto: escopo, custo e prazo (CII, 1987), em outra definição clássica, construtibilidade é entendida como o “uso ótimo dos conhecimentos de construção e experiência em planejamento, projeto, aquisição e logística para alcançar todos os objetivos do projeto” (CII 1987).

No entanto, este assunto ainda é pouco explorado e existem poucos estudos que apontam de forma tangível os benefícios em se aplicar técnicas de construtibilidade. Atualmente, a inserção destas diretrizes estão limitadas, em sua maior parte, a indústria da construção civil, que realiza as medições do nível de “construtibilidade” apenas na pós ocupação, ou seja, a análise atual é utilizada em boa parte para alimentação de projetos futuros, inviabilizando a retro análise de projetos em andamento.

Assim, este artigo realizará uma revisão na bibliografia disponível, a fim de apresentar o conceito de construtibilidade e tratar dos benefícios de avaliar sua aplicação no gerenciamento de projetos de diferentes áreas e nas fases iniciais de desenvolvimento.

INTRODUÇÃO

A preocupação crescente por parte de integrantes de um determinado projeto, com a melhoria de desempenho dos processos envolvidos no mesmo, tem gerado ao longo dos anos uma discussão envolta do termo: construtibilidade.

Conforme apontado por Merrow (2011), o gerenciamento clássico de projetos tem demonstrado um índice elevado de insucesso quando se trata de megaprojetos. Alguns estudos realizados pelo IPA (Independ Project Analysis) apresentam dados de 300 megaprojetos industriais com orçamento superior a um bilhão de dólares em 2010, estes apresentaram 65% de insucesso e em alguns setores da indústria, esta taxa chegou a 75%.

Autores como Picchi (1993) e Rodríguez e Heineck (2001) apontam que uma adequada gestão do processo de projetos pode significar uma redução de 6% do custo direto das obras. Já Ferreira (2015) diz que a adoção da Construtibilidade durante as fases iniciais dos empreendimentos pode acarretar uma redução de custos em torno de 6 a 23%, ou seja, uma taxa de custo x benefício na ordem de 10:1, mais uma redução de prazo significativa.

Isso significa que se faz necessário o planejamento e acompanhamento bem de perto dos projetos, aplicando todas as ferramentas possíveis para tentar alcançar o sucesso do projeto em todos os âmbitos da palavra, seja esse sucesso financeiro, conceitual, ou simplesmente atendendo aos requisitos mínimos de prazo e escopo.

Logo, é apontada neste trabalho como ferramenta de sucesso do projeto a adoção das diretrizes da construtibilidade, que como citado por CII(1987) pode gerar inúmeros benefícios em relação a custos gerais, melhorias de prazos, aumento da qualidade dentre outros. No entanto sua implementação está atrelada a adoção de novas técnicas de gerenciamento como a Engenharia simultânea e o Lean construction. Isso se deve ao fato de que para se aumentar a construtibilidade de um empreendimento, em qualquer ramo, é necessário que exista sinergia entre as diversas disciplinas relacionadas e seus stakeholders, essa conduta interativa desde o início do projeto é conceito básico para a engenharia simultânea. Essa interação prematura acarreta a diminuição de retrabalho e ao uso de técnicas mais eficientes que tragam menos desperdícios, diminuindo as atividades que não agregam valor.

Mas não se trata de apenas aplicar a metodologia, é necessário avaliar e como relatado por Ribeiro (2005), é preciso desenvolver métodos para validar o nível de construtibilidade do projeto , ou seja , verificar o quanto das diretrizes foram aplicadas possibilitando a verificação de quanto dos riscos foram minimizados e se nível de qualidade será compatível ao exigido.

DESENVOLVIMENTO

Para o “Construction Industry Institute”, o termo construtibilidade é definido como “o uso ótimo do conhecimento, das técnicas construtivas e da experiência nas áreas de planejamento, engenharia, contratação e operação em campo, para se atingir os objetivos globais do empreendimento” (CII 1987).

Esse termo remete a construção civil, uma vez que se originou com esse fim, no final da década de 80, nos Estados Unidos, através de vários artigos publicados por uma empresa do ramo, cujo propósito era instigar as demais empresas da construção a melhorarem seus métodos de trabalho, reduzindo custo, ganhando tempo e chegando aos melhores resultados.

Porém, pelo conceito de construtibilidade, pode-se ver claramente que não é somente na construção civil que ele pode ser aplicado, podendo se estender a outras áreas de conhecimento, como projetos de engenharia em geral, desenvolvimento na área de tecnologia da informação, entre outros.

E os possíveis benefícios que traz são muitos, como pode ser visto a seguir:

  • Simplificação do processo com redução do número de partes ou passos;
  • Padronização de elementos do processo construtivo: deverá ser implantando no projeto uma metodologia construtiva desde o primeiro momento, estabelecendo métricas e padrões minimizando retrabalho e aumentando a produtividade;
  • Melhor acessibilidade para pessoas, materiais e equipamentos: construtibilidade será aumentada se a acessibilidade é considerada no projeto e nos estágios da execução do projeto.
  • Otimização do processo de construção: o processo construtivo deve ser considerado e elaborado para empregar técnicas inovadoras para aumentar a construtibilidade;
  • Minimização das operações de montagem;
  • Redução do Custo do Projeto: os princípios de construtibilidade auxiliam na compatibilização entre projetos, proporcionando uma melhoria na qualidade e na produtividade do produto e consequentemente na redução dos custos e aumentando o lucro do investimento.

Na indústria da construção civil brasileira essas necessidades foram destacadas a partir do crescimento de programas de aceleração, período em que se tornou necessário criar “regras” para manter um nível mínimo de qualidade. Visto que construtibilidade e qualidade são diretamente proporcionais, ao se medir o quanto foi aplicado de um, poderíamos aferir que o outro terá um nível similar (de acordo com a constante adotada). A ISO 9001(2000) cita que a análise de construtibilidade está relacionada ao plano de qualidade, ou seja, podemos afirma que ela deve ocorrer nas etapas iniciais do projeto, antecedendo sua execução e possibilitando a retroalimentação do sistema para melhor planejamento.

Ao se analisar o texto de Ribeiro (2005), é possível destacar como principais benefícios da avaliação da construtibilidade como:

  1. Validação de projetos, para que ao se atingir a fase executiva este atenda as diretrizes da qualidade de acordo com a ISO 9001;
  2. Possibilidade de se avaliar a qualidade do empreendimento antes da ocupação;
  3. Possibilidade em se retroalimentar o sistema e minimizar os riscos do empreendimento.

Dentre os itens que podem ser utilizados como métrica de avaliação, são apontados, pelo mesmo autor, a análise de atendimento de fatores que afetam soluções construtivas e o nível de utilização de metodologias de avaliação de projetos.

Alguns itens apontados como diretrizes para o aumento da construtibilidade em empreendimento de construção civil voltados para habitação popular são abordados  por (Barbosa, Andery, 2014). Esses itens podem ser inseridos e verificados nas fases iniciais do projeto, como observado no fluxo de projetos criado pelo centro de tecnologia de edificações-CTE, figura 01. As ações tomadas antes da fase executiva são as que têm maior valor para o empreendimento com relação à qualidade.

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Figura 1- Aplicação de diretrizes de construtibilidade ao longo do projeto de construção civil

O embasamento teórico para desenvolver a figura 01 compreende o universo da construção civil, no entanto, ele pode ser aplicado em diferentes tipos de projetos, como no desenvolvimento de novos produtos, onde algumas industrias já adotam técnicas similares para minimização do risco.

CONCLUSÃO

Este artigo definiu e caracterizou o termo “construtibilidade”, dentro da gestão de projetos, mostrando o quão amplo pode ser, não sendo aplicável somente a construção civil. O mapa da figura 02 apresenta os principais benefícios em se mensurar essa característica.

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Figura 2 – Mapa mental

É importante ressaltar que a literatura encontrada para embasar esse artigo ainda é muito voltada à área de construção civil, mesmo que o termo já tenha se difundido.

A conclusão mais importante se refere à aplicabilidade da ferramenta no mundo dos projetos, cujos ganhos são efetivamente comprovados.

REFERÊNCIAS

  • MERROW, Edward Industrial Megaprojects – Concepts, Strategies and Practices for Success. Willey;2011. ISBN 9781118067505
  • FERREIRA, Wellington. Construtibilidade em projetos de engenharia. Disponível em :<http://www.academia.edu/5401062/CONSTRUTIBILIDADE_EM_PROJETOS_DE_ENGENHARIA>. Acesso em 02 de Dezembro de 2015.
  • PICCHI; F.A. Sistemas de qualidade: uso em empresas de construção de edifícios. São Paulo: Escola Politécnica, 1993. Tese (Doutorado em Engenharia) – USP.
  • RODRÍGUEZ, M.A.A.; HEINECK, L..F.M. Coordenação de projetos: uma experiência de 10 anos dentro de empresas construtoras de médio porte. In: II Simpósio brasileiro de gestão da qualidade e organização do trabalho no ambiente construído, Anais, Fortaleza, 2001
  • BARBOSA, Patricia (1); ANDERY, Paulo (2) CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DE MEDIDAS PARA A MELHORIA DA CONSTRUTIBILIDADE NO PROCESSO DE PROJETO EM EMPRESAS CONSTRUTORAS. In: XV Encontro nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, Maceió, 2014
  • RIBEIRO, Sabrina G. METODOLOGIA PARA VALIDAÇÃO DE PROJETOS BASEADA NA ANÁLISE DE CONSTRUTIBILIDADE. Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense. 2005. Mestrado em Engenharia Civil.

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Sobre os Autores:

Amanda Fernanda das Mercês Silva: Analista do Produto, graduada em Engenharia Química pelo Centro Universitário Newton – MG. Experiência em Garantia da Qualidade, Manual de Boas Práticas de Fabricação e Controle, Registro de não conformidades, treinamento de funcionários, auditoria interna de qualidade, Gerenciamento de Projetos e Coordenação de reuniões. Atualmente responsável pela Gestão de modificações e Cost Tracking para um novo modelo de veiculo na FCA. E-mail: amandafernanda2000@yahoo.com.br .

Felipe Bitencourt Fagundes Carvalho: Pós graduado em Gestão de Projetos com ênfase em Construção e Montagem (IETEC-BH) e graduado em Engenharia Civil (Faculdade Kennedy – Belo Horizonte MG). Atualmente trabalho como Engenheiro Civil Coordenador de Obras na Instituição Casa Santo Antônio. Email:  felipebitencourt@yahoo.com.br  .

Flávia Ciqueira: Pós-graduada em Gerenciamento de projetos pelo IETEC 2015, Graduada em Engenharia Civil, pela UFMG 2012. Possui experiência como engenheira de calculo estrutural e analista de orçamentos. Atualmente trabalha como Engenheira de planejamento pela empresa Exertus Engenharia. E-mail: ciqueira.flavia@gmail.com

Marco Antônio Pinheiro: Graduação em Tecnólogo de Banco de Dados, com atuação em empresa de desenvolvimento de software, já passei pelas áreas de suporte técnico, implantação e desenvolvimento de sistemas, hoje atuo como coordenador na área de qualidade corporativa, focado em auditorias internas, preparatório para certificação ISO e ISAE, implantação e definição de metodologias de software, suporte nas ferramentas corporativas de gestão de projetos e atendimento. E-mail: marcoaspinheiro@gmail.com.

Michelle França: Mestre em Engenharia Mecânica (área automotiva), pela PUC-MG em 2005, pós graduada em Gerenciamento de Projetos pelo IETEC em 2016, especializada em Automação Industrial pela UFMG 2009, graduada em Engenharia Mecânica, com ênfase em Mecatrônica, pela PUC-MG em 2002. Atualmente, atua com projetos de Automação e Instrumentação para grandes empresas da área mineradora pela empresa de consultoria multinacional SNC-Lavalin. Email: michellecruzfrance@gmail.com

Contexto: Este e outros artigos fazem parte do trabalho desenvolvido dentro da disciplina de Módulo 2.1 – Complexidade e Construtibilidade em Projetos, desenvolvida pelo Professor Ítalo Coutinho na Turma 22 do MBA em Gestão de Projetos do IETEC.

Para ver outros artigos referentes a Complexidade e Construtibilidade , clique aqui

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