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Gestão de Crises e Comunicação: 5 Casos que Mostram o que Fazer e o que não Fazer em Situações Adversas

Publicado em 15/08/2018

Gerir uma crise é algo altamente desafiador. Independente dos motivos que possam ter levado à situação de instabilidade, sem o manuseio correto dos recursos a sobrevivência da instituição é ameaçada, podendo levar à sua extinção.

Intrinsecamente ligada a esse cenário está a comunicação conduzida pelo gestor e pela organização ao longo processo. Trata-se de um dos principais fatores dentre aqueles que podem conduzir ao sucesso ou ao fracasso ao enfrentar a condição adversa.

Pensando nisso, apresentamos abaixo 5 casos emblemáticos de gestão de crises que mostram como o desenvolvimento adequado ou não das iniciativas pode sustentar ou afundar de vez um empreendimento e as pessoas envolvidas nele.

A Johnson & Johnson e o Caso Tylenol, 1982

Em 1982 a Johnson & Johnson enfrentou uma das crises corporativas mais emblemáticas da história. Após o envenenamento de cápsulas de Tylenol com cianeto, 7 consumidores do medicamento morreram (FORNI, 2017, P. 17). Naturalmente, isso conduziu à insegurança de seus consumidores, ampla cobertura da mídia e investigações governamentais.

No entanto, mesmo diante de um caso tão grave, a empresa conseguiu reverter a situação e a forma pela qual ela conduziu as tratativas chama à atenção pela eficiência alcançada (MORAES, 2018).

Segundo Forni (2018, p. 17), para solucionar o problema e prevenir novas ocorrências, a empresa recolheu todos os medicamentos das prateleiras e criou uma nova embalagem, mas segura que a anterior. No entanto, a manutenção de sua imagem e credibilidade foram asseguradas por meio de um plano de comunicação que envolveu as seguintes etapas:

  • Divulgou amplamente o ocorrido, inclusive sugerindo aos consumidores que não adquirissem o produto até que uma solução fosse encontrada;
  • Noticiou e comprovou, por meio de total abertura e transparências, para a mídia e para o público que não se tratou de um erro industrial, mas de um caso de ação criminosa diretamente no produto acabado;
  • Ofereceu aos consumidores a possibilidade de troca dos itens adquiridos por novas unidades com a embalagem à prova de contaminação;
  • Assumiu a responsabilidade pela resolução do problema, arcando com todos os custos de retirada dos itens contaminados do mercado e disponibilização de outros mais seguros;
  • Investiu amplamente em campanhas para esclarecimento da questão para o público em geral.

Adicionalmente a esses aspectos, tudo foi conduzido de forma ágil e com o próprio presidente da empresa na época, James E. Burke, como porta voz de algumas das principais iniciativas (MORAES, 2018).

O resultado foi que a empresa, apesar dos gastos imediatos para remediar o problema, manteve uma boa reputação no mercado e garantiu sua recuperação a longo prazo. Aqui temos um caso no qual a comunicação realizada externamente à organização se destaca e serve como um elemento crítico na resolução da crise.

O Atentado ao World Trade Center, 2001

O atentado ao World Trade Center pode ser encarado como uma das maiores crises de todos os tempos. É sabido que os EUA realizaram profundas modificações em seus sistemas de defesa e na própria forma como encara o terrorismo desde que o ataque ocorreu (Imagem: Sean Adair/Reuters).

Mesmo com um sistema robusto para gestão de crises, muitas oportunidades de melhoria e lições aprendidas foram extraídas do caso (BELÉM, 2018, p. 26). Apesar de se tratarem de diversas observações isoladas, todas remetem ao mesmo fator: comunicação.

Isso fica evidente diante dos principais fatores apontados por Belém (2018, p. 26) como fragilidades na resposta aos fatos ocorridos:

  • Ausência de um sistema de comando unificado para todas as corporações envolvidas, tornando lenta, difícil e desorganizado o fluxo de informações entre eles;
  • Planos independentes e incompatíveis das agências atuantes, impedindo a sinergia e a integração das frentes;
  • Falta de planos formais por parte dos bombeiros;
  • Ausência de uma missão claramente definida;
  • Lentidão e dificuldade de comunicação com os oficiais que se encontravam nas torres, impedindo um senso de urgência e uma perspectiva adequada dos fatos. Muitos sequer sabiam da queda do segundo avião;
  • Falha no sistema de rádio utilizado pelos bombeiros;
  • Oficiais sem orientação seguiram de forma independente ao local, conduzindo atividades sem um comando adequado.

Tantos aspectos críticos em um evento de tamanha seriedade, naturalmente ajudam a agravar uma situação que, por si só, já é extremamente desafiadora. Não se pode afirmar que a ausência de qualquer dessas falhas houvesse impedido mortes ou outras situações adversas, mas é fácil perceber como a comunicação interna pode ser impactante na condução de intervenções a crises.

A Crise dos Pedais da Toyota, 2010

Em 2010 a Toyota, uma das maiores montadoras de veículos do mundo, enfrentou um caso que marca até hoje sua história: a crise dos pedais, ocorrida nos EUA (FORNI, 2017, p. 53). Após diversas denúncias ao longo de 2009 relacionadas com falhas mecânicas nos pedais de freio e aceleração dos carros da empresa, em 2010 uma família de 4 pessoas morreu devido a um problema semelhante.

A partir daí a empresa passou a ser sabatinada pelo público e pelo governo, que buscavam explicações para o fato. Quando precisou atuar diante da situação, a empresa mostrou despreparo e acabou desgastando sua marca frente ao público e gastando grandes montantes financeiros na recuperação (FORNI, 2017, p. 54).

Seguem aqui os aspectos que, segundo Forni, (2017, p. 53), representaram posturas indevidas por parte da organização:

  • Falta de ação quando as reclamações iniciais foram recebidas, antes mesmo do acidente da família que morreu;
  • Demora em se pronunciar e em formar um comitê para gestão da crise;
  • Negação constante quanto à existência de algum problema mecânico;
  • Omissão e até mesmo desaparecimento de alguns dos principais executivos da empresa;
  • Tomada de medidas para correção do fato apenas quando foi obrigada pelo Governo norte-americano a fazê-lo.

Apesar da recuperação da empresa, que foi causada principalmente pelo fato de a crise ter ficado restrita aos EUA e por ela ter uma reputação sólida no mercado, suas vendas caíram 16% no país e ela ainda gastou mais de 2 bilhões com o processo de recall exigido.

O Naufrágio do Navio Canadense no Brasil, 2010

Em fevereiro de 2010 um veleiro com bandeira canadense, após enfrentar ventos fortes e ondas com mais de 2 metros de altura, naufragou próximo ao litoral carioca (GLOBO, 2018). Havia 64 tripulantes na embarcação, sendo que a maioria deles eram jovens de 10 a 17 anos sem experiência no mar, e todos foram resgatados com vida.

Segundo Forni (2017, p. 124), nesse caso o que fez grande diferença foi a preparação pré-crise. Por meio de exaustivos treinamentos, todos os envolvidos estavam preparados para uma situação adversa e sabiam de antemão exatamente o que fazer para que o pior não acontecesse.

Sendo assim, trata-se de um caso no qual a comunicação interna da organização se mostrou fator essencial para que a crise fosse solucionada, antes mesmo de se concretizar.

O Surto de Ebola no Oeste Africano, 2014

A crise enfrentada em 2014 na África devido ao elevado número de casos de Ebola identificados foi de grande seriedade para o país e ameaçadora para todo o mundo. Segundo Fischer II e Fischer (2018), em casos passados a doença chegava a matar 9 de cada 10 pessoas que a contraíam (Imagem: The Associated Press).

Diante dessa situação, uma segunda crise foi identificada internamente à situação que já representava grande gravidade por si só: por ser uma doença contagiosa, as equipes de tratamento tinham medo de ter contato com os pacientes, o que atrasava e dificultava as respostas ao problema (FISCHER II e FISCHER, 2018).

Para lidar com a situação, um dos principais caminhos foi o uso da comunicação que envolveu as seguintes medidas:

  • Engajamento prático da equipe e das lideranças com os problemas enfrentados, o que ajudou a identificar boas práticas e pequenas mudanças que davam maior segurança aos processos desenvolvidos;
  • Utilização de protocolos técnicos estruturados e bem definidos, que definiam claramente as etapas a serem seguidas para evitar situações de contaminação;
  • Criar canais abertos à comunicação e ser flexível às mudanças necessárias para processamento das informações recebidas;
  • Encontrar formas criativas de lidar com os problemas e comunicar isso às equipes envolvidas. Basicamente a ideia de que situações extremas exigem medidas extremas de resposta.

Por meio de práticas conduzidas com base nesses conceitos, a intervenção ganhou maior consistência e possibilitou uma resposta à altura do problema (FISCHER II e FISCHER, 2018). A confiança e a segurança dos profissionais se elevou, conduzindo ao um desfecho positivo do caso.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROS, A. J. S. e LEHFELD, N. A. S. Fundamentos de Metodologia: Um Guia para a Iniciação Científica. 2 Ed. São Paulo: Makron Books, 2000.

BELÉM, Rodrigo Caselli. Planejamento e Gerenciamento de Emergências e Desastres – ICS. Material de apoio à disciplina de Planejamento e Gerenciamento de Emergências e Desastres da Faculdade Unyleya. Rio de Janeiro, 2018.

FICHER II, Willian A.; FICHER, Bill. Fighting Ebola Means Managing Fear. Harvard Disponível em: <Business Review. https://hbr.org/2014/10/fighting-ebola-means-managing-fear> Acesso em: 10 de junho de 2018

FORNI, JOÃO JOSÉ. Gestão de Crises e Comunicação: o que gestores e profissionais de comunicação precisam saber para enfrentar crises corporativas. 2 Ed. São Paulo: Atlas, 2017.

HERMANN, C. Some consequences of crisis which limits the viability of organizations.Administrative Science Quarterly. Cornell University, Ithaca, New York, EUA: v.8, p.61-82, 1963.

LUECKE, Richard. Gerenciando a Crise: dominando a arte de prevenir desastres. Consultoria de Larry Barton. Tradução de Ryta Magalhães Vinagre. 5.ed. Rio de Janeiro: Record, 2015. 160p.

Métodos de pesquisa / [organizado por] Tatiana Engel Gerhardt e Denise Tolfo Silveira; coordenado pela Universidade Aberta do Brasil – UAB/UFRGS e pelo Curso de Graduação Tecnológica – Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural da SEAD/UFRGS. – Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.

MORAES, Mário de. Caso Tylenol: Um (bom) Exemplo de RP. Disponível em: < http://www.uel.br/ceca/portalrp/?p=64> Acesso em: 17 de junho de 2018

NASCIMENTO, Iara Marques do. Gerenciamento de crise:identificar, planejar e previnir. Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora: 2007, 86 p.

GLOBO, O. Navio de Bandeira Canadense Naufraga a 300 milhas do Rio de Janeiro. Disponível em: < https://oglobo.globo.com/rio/navio-de-bandeira-canadense-naufraga-300-milhas-do-rio-de-janeiro-3051332> Acesso em: 17 de junho de 2018

PEREIRA, Eduardo Afonso; SIMONATO, Juliano Boscaine; BERBEL, Lucas Thijssen. Administração da Comunicação no Gerenciamento de Crises. Disponível em: < http://conexaosipaer.cenipa.gov.br/index.php/sipaer/article/viewFile/35/45> Acesso em: 10 de junho de 2018

ROSA, Mário. A síndrome de Aquiles: como lidar com as crises de imagem. 2.ed. São Paulo: Gente, 2001.

________. A era do escândalo: lições, relatos e bastidores de quem viveu as grandes crises de imagem. 3.ed. São Paulo: Geração, 2004.

SAPRIEL, Caroline. Effective crisis management: tools and best practice for the new millennium. Journal of Comunication management. Reino Unido, Bingley: v.7, i.4, p.348-355, jan. 2003.

VILAÇA, M. L. C. Pesquisa e Ensino: considerações e reflexões. Revista E-scrita. v.1, n.2, mai-ago. 2010.

 

Sobre o autor:

Bruno Augusto,  Profissional Graduado em Engenharia de Produção Civil pelo CEFET MG, com experiência em Gestão de Projetos Multidisciplinares, Engenharia de Processos, Gestão de Compliance na Construção Civil e Gestão de Crises. Atualmente na área de Gestão de Processos do Instituto Mário Penna. Coach de Alta Performance e Gestão de Carreira, formado pelo Instituto Brasileiro de Coaching.E-mail de contato: brunosilva.civil@gmail.com – Blog: www.academiadeespartanos.com.br

 

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