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A importância de índices próprios na elaboração de CPU para maior assertividade em orçamentos de construção civil

Publicado em 17/05/2025

Resumo:

Este trabalho aborda a relevância da utilização de índices de produção obtidos a partir de obras executadas como ferramenta essencial para a elaboração de orçamentos mais precisos na engenharia civil. A ausência ou o uso inadequado desses dados compromete a assertividade orçamentária, resultando em estimativas desatualizadas e imprecisas, desvios de custos e impactos negativos no resultado. São analisadas boas práticas de coleta, controle e aplicação dos índices, bem como os desafios enfrentados pelas empresas no processo de alimentação e atualização de suas bases históricas.

Palavras-chave: orçamento, índices de produção, CPU, estimativa de custos, produtividade.

1. Introdução

A elaboração de orçamentos na engenharia civil exige muita precisão para garantir a viabilidade técnico-financeira dos projetos. Um dos principais fatores que influenciam essa precisão é o uso de índices de produção reais, obtidos a partir de obras previamente executadas. Esses índices demonstram a produtividade efetiva dos recursos e materiais no contexto específico de cada empresa ou região que o projeto será executado, sendo fundamentais para compor as Composições de Preços Unitários (CPUs) utilizadas na orçamentação.

Controlar adequadamente os índices de produção é fundamental para garantir maior precisão orçamentária na construção civil (SILVA, 2021).

O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a importância da utilização de índices de produção atualizados para garantir a assertividade dos orçamentos com base em dados reais de produção, refletindo a realidade da empresa discutindo também os desafios operacionais enfrentados pelas empresas na obtenção e gestão desses dados.

2. Desenvolvimento

2.1 Conceituação dos Índices de Produção e sua Relevância:

Índices de produção são parâmetros que medem a quantidade de serviço que uma equipe ou equipamento é capaz de executar em um determinado período. A precisão desses dados é vital para o orçamento, pois eles impactam diretamente o custo unitário dos serviços, a durabilidade da obra e a previsibilidade financeira do projeto.

2.2 O Papel da Cultura Organizacional e dos Sistemas de Informação:

Conforme Alves (2010), o processo de obtenção dos indicadores reais de produção e de consumo dá-se o nome de apropriação.

Para que os índices sejam efetivamente utilizados, é necessário fomentar uma cultura de apropriação de dados e implantar sistemas de informação que integrem produção, orçamento e planejamento. Sem essa integração, há perda de informação e retrabalho, além da impossibilidade de retroalimentar os orçamentos futuros com dados reais.

2.3 Boas Práticas na Coleta e Aplicação de Índices:

A coleta sistematizada de dados em campo, por meio de fichas de produção, softwares de gestão e relatórios diários de obra, permite a formação de um banco de dados consistente e personalizado. A análise frequente desses registros contribui para a elaboração de CPUs realistas, tornando os orçamentos mais confiáveis e adaptados à realidade da empresa. Como observado por Silva (2021), a gestão eficiente dos índices de CPU possibilita correções em tempo hábil durante a execução do projeto.

2.4 Impactos da Ausência de Dados Confiáveis:

A falta de um histórico consolidado de produção leva à adoção de valores referenciais genéricos que muitas vezes não refletem a realidade da empresa. Isso pode ocasionar desvios relevantes entre o orçado e o realizado, comprometendo prazos, custos e margem de lucro. Conforme discutido por Andrade (2020), estimativas defasadas são uma das principais causas de estouros orçamentários em projetos.

Embora a Tabela de Composição de Preços para Orçamentos (TCPO), Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (SINAPI), entre outras, sejam ferramentas valiosas como ponto de partida e referência, elas inevitavelmente carregam uma generalização que pode não se alinhar com a realidade específica de cada empresa e projeto (ALVES, 2010).

As bases de dados como exemplo a TCPO ou SINAPI, são construídas a partir de uma média de dados coletados em diferentes obras, executadas por diversas empresas, em contextos e condições que variam significativamente. Isso significa que seus indicadores de produtividade (quanto um operário ou equipe consegue produzir em um determinado tempo) e de consumo de materiais (a quantidade de material necessária para executar uma unidade de serviço) podem não refletir a eficiência, os métodos construtivos, os equipamentos utilizados e a qualificação da mão de obra de uma empresa em particular.

É por isso que o desenvolvimento de composições de custos unitários próprias é uma prática fundamental para empresas que buscam precisão orçamentária, controle de custos eficaz e, consequentemente, maior competitividade. Ao criar suas próprias composições, a empresa incorpora:

  • Seus próprios históricos de produtividade: Baseados no desempenho real de suas equipes em projetos anteriores, considerando suas habilidades, treinamento e a tecnologia que utilizam.
  • Seus índices de consumo de materiais: Refletindo o aproveitamento de materiais em seus processos construtivos, minimizando desperdícios e otimizando o uso.
  • Seus custos diretos específicos: Incluindo os salários e encargos de seus funcionários, os preços negociados com seus fornecedores e os custos de seus equipamentos.
  • As particularidades de seus projetos: Adaptando as composições para as condições específicas de cada obra, como localização, tipo de construção, prazos e exigências contratuais.

Exemplificando o impacto em uma atividade devido a variações de produtividades, a partir de dados históricos de uma construtora, realizou-se uma comparação financeira decorrente da variação nos índices de produtividade da equipe de obra. O serviço utilizado como base foi a execução de alvenaria com blocos de concreto (19 x 19 x 39 cm), mantendo-se constantes os demais parâmetros da composição. Foram comparados três cenários distintos: o índice de produtividade da TCPO15 conforme tabela 1, o índice registrado em uma obra de caráter industrial conforme tabela 2 e o índice observado em uma obra de perfil comercial conforme tabela 3. Essa análise permite a verificação dos impactos da produtividade sobre os custos diretos da atividade, conforme observado da figura 1.

Tabela 1 – Composição de serviços de alvenaria 19x19x39cm.

Fonte: TCPO 15, dezembro 2024

DESCRIÇÃO CLASS UNIDADE  COEF.  PREÇO(R$)
UNITÁRIO
 PREÇO(R$)
TOTAL
Alvenaria com blocos de concreto 19 x 19 x 39 cm, classe C (resistência = 3 MPa), parede # 19 cm, juntas com 10 mm, com argamassa mista de cimento, cal e areia traço 1:0,5:8 SER.CG M2       1,0000 R$ 110,96 R$ 110,96
Pedreiro M.O. H       0,7500 R$ 23,43 R$ 17,57
Servente M.O. H       0,4700 R$ 19,25 R$ 9,05
Bloco de concreto para alvenaria 19 x 19 x 39 cm MAT. UN     12,8750 R$ 5,36 R$ 69,01
Argamassa mista de cimento, cal e areia traço 1:0,5:8 SER.CG M3       0,0236 R$ 649,63 R$ 15,33

Tabela 2 – Composição de serviços de alvenaria 19x19x39cm apropriada na obra industrial

Fonte: Autor (2025).

DESCRIÇÃO CLASS UNIDADE  COEF.  PREÇO(R$)
UNITÁRIO
 PREÇO(R$)
TOTAL
Alvenaria com blocos de concreto 19 x 19 x 39 cm, classe C (resistência = 3 MPa), parede # 19 cm, juntas com 10 mm, com argamassa mista de cimento, cal e areia traço 1:0,5:8 SER.CG M2       1,0000 R$ 127,02 R$ 127,02
Pedreiro M.O. H       1,0000 R$ 23,43 R$ 23,43
Servente M.O. H       1,0000 R$ 19,25 R$ 19,25
Bloco de concreto para alvenaria 19 x 19 x 39 cm MAT. UN     12,8750 R$ 5,36 R$ 69,01
Argamassa mista de cimento, cal e areia traço 1:0,5:8 SER.CG M3       0,0236 R$ 649,63 R$ 15,33

Tabela 3 – Composição de serviços de alvenaria 

Fonte: Autor (2025).

DESCRIÇÃO CLASS UNIDADE  COEF.  PREÇO(R$)
UNITÁRIO
 PREÇO(R$)
TOTAL
Alvenaria com blocos de concreto 19 x 19 x 39 cm, classe C (resistência = 3 MPa), parede # 19 cm, juntas com 10 mm, com argamassa mista de cimento, cal e areia traço 1:0,5:8 SER.CG M2       1,0000 R$ 107,10 R$ 107,10
Pedreiro M.O. H       0,5333 R$ 23,43 R$ 12,50
Servente M.O. H       0,5333 R$ 19,25 R$ 10,27
Bloco de concreto para alvenaria 19 x 19 x 39 cm MAT. UN     12,8750 R$ 5,36 R$ 69,01
Argamassa mista de cimento, cal e areia traço 1:0,5:8 SER.CG M3       0,0236 R$ 649,63 R$ 15,33

Figura 1 – Custos da Mão de Obra

Fonte: Autor (2025).

                                     

A análise dos dados evidencia que o custo unitário da mão de obra na atividade de alvenaria em obras comerciais R$ 22,76 se apresenta inferior ao valor de referência estabelecido pela TCPO15 R$ 26,62. Por outro lado, em obras industriais, observa-se um aumento significativo nos custos, alcançando R$ 42,68. Esses resultados evidenciam os impactos nos custos da atividade devido as variações da produtividade, influenciando diretamente no custo da obra.

3. Conclusão

A elaboração de orçamentos assertivos é a base para o sucesso de um projeto. A utilização de índices de produção reais, extraídos de obras executadas, permite maior precisão nas estimativas de custos e reduz significativamente os riscos associados à execução do projeto. Além disso, promove maior confiabilidade, possibilitando a tomada de decisões mais estratégicas, ampliando a competitividade da empresa no mercado.

O desafio está na sistematização desses dados e na cultura organizacional voltada à coleta, análise e reaplicação das informações obtidas em campo. Assim, os índices de produção deixam de ser apenas números e passam a ser dados estratégicos para a competitividade e o resultado da empresa.

Referências:

ALVES, G.; ARAÚJO, N.M. Composições de custos unitários: TCPO X Apropriação in loco. João Pessoa: IFPB, 2010.

ANDRADE, Luiz. As estimativas de custos defasadas em projetos. PMKB, 2020.

SILVA, João. Por que controlar eficientemente os índices de CPU. PMKB, 2021.

TAVARES, S. G.; CORRÊA, C. F. Orçamento de obras e a importância dos dados históricos de produtividade. Revista Engenharia em Foco, v. 12, n. 1, 2021.

TCPO. Tabelas de composições de preços para orçamentos. São Paulo: PINI, 2024

Sobre os autores:

Bruno Barberato Guimarães

bruno_barberato@hotmail.com

Raphael Nunes Idalgo

nunes.idalgo@gmail.com

Co Autor: Prof. Geraldo Melo

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Editor Midias

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