Publicado em 20/05/2015
O que a metodologia ágil tem a ver com a Corrente Crítica? Pode as duas serem utilizadas de forma harmônica em um projeto?
Atualmente tem se falado muito em metodologias ágeis. Mas alguns conceitos que hoje são aplicados nesta metodologia já eram estudados e aplicados pela Corrente Crítica.
Se você leu meu artigo sobre Corrente Crítica, já entendeu como esta metodologia trabalha em profundidade muitos dos problemas relacionados ao atraso de cronogramas e eficiência na execução. Problemas que também são endereçados pelas metodologias ágeis.
Vejamos pontos comuns destas duas metodologias:
- Aumenta foco da equipe:
As metodologias ágeis alimenta o foco da equipe, com objetivos bem claros, definidos em conjunto pela equipe, que são realizados em um curto espaço de tempo, nos Sprint’s. O nome é bem apropriado. É como se fosse realmente uma corrida para atender objetivos bem definidos. Este foco é reforçado nas reuniões diárias de curta duração (feitas com a equipe de pé) para definir as metas do dia. E é claro, uma meta diária é muito mais factível, realista e motivadora que uma meta de meses que um projeto tradicional muitas vezes apresenta. Além disto, as metodologias ágeis mantém o foco, deixando em quadros de tarefas (task boards) na sala do projeto, as tarefas que devem ser feitas e a situação de cada uma delas.
Figura 1. Quadro Kanban. Fonte: Kniberg (2009)
A corrente crítica também prevê um maior foco da equipe, pois permite que as equipes se concentrem em uma entrega de projeto por vez, em uma tarefa por vez, evitando-se as multi-tarefas. Além disto, foca no prazo de uma entrega e não no prazo de cada atividade, de forma que eventuais atrasos e adiantamentos não impactam as atividades seguintes desta entrega, pois o que importa é a data final da entrega (ou caminho protegido por um pulmão ou buffer) e não da atividade individual. Como explicamos em nosso artigo anterior, isto permite economizar tempo, aumentando a produtividade.
- Estimativas mais realistas:
Nas metodologias ágeis, cada tarefa passa por uma avaliação de complexidade construída em conjunto pela equipe e busca-se uma parametrização destas estimativas que vai sendo aperfeiçoada a cada sprint. Com uma parametrização mais clara e o fato de estar estimando atividades da equipe e não individual, as estimativas costumam ser mais realistas.
Já na corrente crítica, instrui aos estimadores a fazerem estimativas agressivas, ou seja, desafiadoras mas realistas, uma vez que não é necessário colocar folgas ou “segurança” nas atividades individualmente, pois já existirá os pulmões (buffers) para proteger o projeto de eventualidades.
As duas metodologias levam a um aumento da confiabilidade das previsões e maior eficácia na execução.
- Prazo por entrega e não por atividades
Outro ponto em comum são que os prazos não são por atividades individuais e sim por entregas. Nas metodologias ágeis, o prazo é por sprint ou corrida. Na corrente crítica, o prazo é por caminho ou corrente crítica, o que equivale que o prazo está definida por entrega também.
- Se ajusta a mudanças de forma mais fácil
As metodologias ágeis por natureza são flexíveis e conseguem se adaptar bem a mudanças. A mudança vai virar uma story (estória) que poderá entrar na próxima sprint, de acordo com as prioridades definidas em conjunto com o cliente.
Na corrente crítica, como não há a rigidez de datas por tarefa, ao incluir uma nova tarefa a equipe consegue lidar também de forma mais natural pois o foco continua no prazo do caminho. O único prazo que é ajustado é do caminho e não de todas as atividades que o compõe.
Mas as duas metodologias tem pontos onde são mais fortes:
Na corrente crítica:
- Melhor foco no planejamento e visão das entregas do projeto
A corrente crítica consegue já apresentar uma melhor visão de todas as entregas que o projeto vai apresentar, mesmo que no momento do planejamento nem todas as entregas estejam tão bem definidas. Como não busca antecipar uma execução, espera ter todas as informações para poder executar bem uma tarefa (assim como nas metodologias ágeis). Enquanto não executa, com os pulmões (buffers), consegue incluir a segurança para se trabalhar com estes prazos em caminhos que necessitam de mais informações.
- Melhor aplicação da gestão de riscos sobre o prazo.
A criação de pulmões ou buffers permite uma relação direta entre os riscos do projeto e a contingência necessária para trabalhar com os mesmos.
Nas metodologias ágeis:
- Melhor foco na execução e adaptação a mudanças durante a execução: tem uma preocupação muito maior em como executar e as mudanças são gerenciadas de forma mais naturais e tranquilas.
- Melhor foco comportamental da equipe que cresce como equipe e em auto-gestão: este é um dos grandes objetivos do ágil e sem dúvida tem muito mais instrumentos para promover esta melhora.
- Melhor integração com o cliente e apresentação de resultados: O foco em entregas rápidas, leva a mostrar resultados de forma mais rápida e a uma maior interação com o cliente que é parte integrante do desenvolvimento ágil.
Respondendo a pergunta do início do artigo, creio que é possível trabalhar com as duas metodologias em conjunto, tirando o melhor de cada uma delas.
Por que não trabalhar o planejamento do projeto com a corrente crítica, utilizando buffers, gerenciando melhor os riscos relacionados ao prazo, tendo uma visibilidade maior dos prazos do projeto como um todo e executar em sprints (corridas) e foco em equipes auto-gerenciáveis?
Cada projeto tem suas características e de acordo com as mesmas o gerente de projeto deve definir que metodologias utilizar. Esta é uma possibilidade que considero muito interessante e que testei com êxito.
Opiniões? Contribuições? São muito bem vindas a esta discussão…
Sobre o Colunista: Thomaz Ottoni é um profissional de TI com mais de 20 anos de experiência na área de desenvolvimento de sistemas, sendo que há 18 anos gerenciando projetos e portfólios, com experiência na implantação e gestão de PMO e na instrução em gerenciamento de projetos. Formado em Ciência da Computação na UFES e MBA em Gestão Empresarial pela FGV, obteve sua certificação em gerenciamento de projetos PMP em 2008. Foi palestrante no Congresso de Gerenciamento de Projetos do PMI-ES, “Gerenciando um Portfólio de Projetos em empresas públicas” e instrutor de treinamento preparatório para certificação PMP. Sócio-fundador da Mogai, atuou como diretor e gestor da mesma por cerca de 10 anos. Na Nipsa há mais de 3 anos, tem gerenciado grandes projetos como o Gis Corporativo na CESAN, projeto premiado pela ESRI nos Estados Unidos. É autor do blog http://excelenciaemprojetos.com. Atualmente atua além da gestão de projetos, como consultor e instrutor de temas relacionados ao gerenciamento de projetos.
E-mail de contato: thomaz.ottoni@gmail.com
Se você tem comentários, sugestões ou alguma dúvida que gostaria de esclarecer, aproveite o espaço a seguir.
Ainda não recebemos comentários. Seja o primeiro a deixar sua opinião.
Deixe uma resposta