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5 Atributos Essenciais dos Gerentes de Projetos: ética

Publicado em 15/02/2017

Em artigos anteriores abordei, por muitas vezes, questões relacionadas às habilidades humanas no trabalho do profissional em gerenciamento de projetos. Mostrei de várias formas o quanto esse tipo de habilidade é tão importante quanto o conhecimento técnico e as certificações. Porém quero ir um pouco mais a fundo nessa discussão e provocar você no sentido de fazê-lo pensar em coisas intangíveis. Nosso trabalho precede uma premissa de previsibilidade, como se tudo que foi planejado nunca pudesse ser replanejado em nenhuma circunstância e por isso somos tão preocupados com as questões tangíveis nos nossos projetos. Nos próximos 5 artigos irei falar um pouco sobre os 5 atributos essenciais que todo Gerente de Projetos deve ter no exercício da sua profissão – um em cada artigo. Hoje iremos falar sobre ÉTICA.

Antes de começarmos a trazer a ética para a discussão da sua existência no arcabouço dos profissionais em gerenciamento de projetos é preciso entendermos o seu significado. A palavra Ética vem do grego ethos e significa aquilo que pertence ao “bom costume” ou “portador de caráter”. São princípios universais, ações que acreditamos e que não mudam, independente de onde estamos. Em seu sentido mais abrangente, o termo “ética” implicaria um exame dos hábitos da espécie humana e do seu caráter em geral, e envolveria até mesmo uma descrição ou história dos hábitos humanos em sociedades específicas e em diferentes épocas. Já houve quem definisse a ética como a “ciência da conduta“. Essa definição é imprecisa por várias razões. As ciências são descritivas ou experimentais, mas uma descrição exaustiva de quais ações ou quais finalidades são ou foram chamadas, no presente e no passado, de “boas” ou “más” encontra-se obviamente além das capacidades humanas. Há quem confunda, porém erradamente, ética com lei, embora com certa frequência a lei tenha como base princípios éticos.

O primeiro livro que li sobre ética foi aos 17 anos e se chamava O QUE É ÉTICA? – do Álvaro L. M. Valls. Lembro-me que o primeiro parágrafo do capítulo 1 deste livro, onde aborda-se a problemática da ética, contém a seguinte frase: “Ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são mas não são fáceis de explicar quando alguém pergunta”. Este livro é ótimo pra quem quer começar a ler a respeito, embora tenha uma linguagem simples, sempre me trouxe uma série de questionamentos sobre o que sou como pessoa vivendo em sociedade? Que atitudes me colocariam em posição de questionar sobre minhas ações? O que fiz ou faço é certo ou errado do ponto de vista ético? E esse é o ponto chave da nossa discussão sobre ética no gerenciamento de projetos e por isso que a coloco como um dos 5 atributos essenciais para um Gerente de Projetos.

A coisa mais certa que aprendi sobre o comportamento ético em 8 anos trabalhando com projetos é que o que separa o certo e o errado nas nossas atitudes é a incerteza que nos cerca a respeito de quem somos. E era exatamente isso que Aristóteles dizia: “conhece-te a ti mesmo“. Princípio básico. Então, tendo a consciência de quem você é, é possível avaliar o quão ético você pode ser. A experiência como Gerente de Projetos nos ensina que a melhor forma de explicar algo muito difícil de ser entendido é apresentando situações semelhantes baseadas nas ações do dia-a-dia. Pois bem, abaixo vou relatar 2 casos verídicos onde poderemos entender melhor como a ética faz parte desse conjunto de atributos:

  1. Certa vez, trabalhando em uma empresa a qual, por questões éticas, não vem ao caso indagar por seu nome, um superior imediato me pediu para que eu omitisse uma série de informações negativas em relação a um projeto no qual eu acabara de me tornar integrante do time. O meu GP ficava alocado no Rio de Janeiro e pouco vinha para reuniões com o cliente, cabendo a mim essa responsabilidade. Parecia-me muito constrangedor ter que apresentar ao cliente uma série de informações maquiadas que, mais cedo ou mais tarde, iriam vir à tona. Começou, nesse exato momento, uma série de questionamentos da minha consciência comigo mesmo. Mas claro, precisei levar em consideração que eu estava em início de carreira e tinha acabado de ser colocado em uma fogueira sem tamanho. No mês seguinte o cliente encostou a empresa na parede e o meu superior imediato não custou em apontar o erro em minha direção. Esse talvez tenha sido o maior erro que eu tenha cometido – conhecer a mim mesmo e saber que eu não seria capaz de fazer aquilo. Mas fiz. Talvez por ser jovem demais na época, por não querer entrar em contradição com meus superiores ou por fazer tudo o que um empregado subserviente da iniciativa privada geralmente é obrigado a fazer. Mas isso me custou o bem mais precioso que um profissional em gerenciamento de projetos pode ter – minha credibilidade com o cliente e com o mercado. Esse capital ético eu tinha acabado de perder, e custou muito caro me recapitalizar. Mas o aprendizado em gestão de projetos é empírico e com o tempo você aprende isso.
  1. Outro exemplo, esse já foi com um ex-colega de profissão (hoje é analista administrativo de órgão público), dá conta de uma questão relacionada a cultura organizacional da empresa onde ele trabalhava como Gerente de Projetos. A empresa tinha uma cultura pautada no respeito a todas as culturas de seus funcionários. Todo os gestores eram obrigados a ter um perfil onde predominava o respeito pelas diferenças étnicas, de gênero, políticas e de orientação sexual. Conforme o tempo passava e os projetos apareciam, esse GP costumeiramente se negava a trabalhar com um profissional cedido pelo departamento de qualidade. As justificativas sempre eram duvidosas e também era de se estranhar a sua preferência por outro recurso da área de qualidade, a única do sexo feminino. Embora essa profissional tivesse uma série de feedbacks negativos de outros GPs da organização, ele fazia questão em tê-la em seu time em detrimento ao rapaz anteriormente indicado pelo departamento. Em uma reunião com o cliente, esse GP informou a todos os presentes que a responsável pela qualidade seria uma mulher. Até que um dia, em uma conversa que acabou vazando em um microfone aberto em plena videoconferência com o cliente, ele falou para outro integrante da equipe que estava na sala a seguinte frase: “entre colocar um ‘veado’ e uma mulher na área de qualidade, prefiro que seja ela. Pelo menos posso pedir pra ela acalmar o cliente indo às reuniões com um decote“. Bem, fica claro que a atitude dessa pessoa, além de antiética foi extremamente misógina e preconceituosa. O mesmo foi demitido após pedido formal do cliente.

Apesar de termos aqui duas claras atitudes onde a ética em gerenciamento de projetos não foi obedecida, o comportamento ético não se limita a essas duas situações. É claro que pra falar de um assunto tão complexo como este, espalhar o artigo com teorias socráticas sobre questões éticas e morais não ajudaria, pelo contrário, só iria complicar ainda mais o seu entendimento. Muitas vezes, atitudes mínimas, onde você poderia imaginar que não são de forma alguma antiéticas, são, como tantas outras. É preciso também pensar sobre o porquê algumas pessoas não são éticas ou até transferir essa pergunta a nós mesmos: “o que nos faz transgredir a ética no convívio em sociedade?“. Platão, por exemplo, parte da ideia de que todos os homens buscam a felicidade, trazendo assim a busca da felicidade para o centro das preocupações éticas. Pensando assim, no primeiro caso citado, eu não teria sido induzido a achar que me traria felicidade não ter que entrar em atrito com o meu superior imediato e por isso busquei fazer o que me foi solicitado? Oito anos depois eu sou obrigado a discordar, isso porque o conceito de felicidade não é esse, pelo menos não é o que eu acredito ser. E aí voltamos a ética como um princípio que parte de dentro pra fora do próprio ser.

Por isso é essencial que você, como Gerente de Projetos, evite sempre quaisquer atitudes que venham a contradizer o que você acredita como correta, obviamente dentro de uma lógica normativa do convívio em sociedade. O PMI (Project Management Institute), por exemplo, tem um Código de Ética e Conduta Profissional muito interessante e ao qual todos nós, certificados e filiados, nos comprometemos a cumprir. Mas peço que você procure, antes de ler a respeito deste código, estudar ética no seu sentido mais amplo. Eu posso te garantir que é super libertador estudar sobre princípios tão primitivos, mas ao mesmo tempo tão necessários no nosso trabalho, além de abrir seus horizontes para uma série de questionamentos sobre a nossa própria vida mesmo. Portanto, sejamos éticos! Em um momento onde o Brasil passa por um momento profundo de reflexão sobre as questões éticas é importante que você, como profissional em gerenciamento de projetos, também consiga fazer uma autocrítica e buscar se adequar as premissas do pensamento ético.

Sobre o Colunista:

Wagner Borba, Gerente de Projetos da Tecnoset IT Solutions. Graduado em Gestão da Tecnologia da Informação pela FG/Laureate International Universities de Pernambuco e MBA em Gestão de Projetos pela Universidade Estácio de Sá. Possui certificado Project Management Professional (PMP®) pelo PMI, Certified ScrumMaster (CSM®) pela Scrum Alliance, International Product Owner Foundation (IPOF) pela Scrum Association e Lean Six Sigma Yellow Belt (SSYB). Possui 10 anos de experiência em projetos nas áreas de Telecomunicações e Tecnologia da Informação em empresas multinacionais como Alcatel-Lucent, Isolux Corsan e Huawei Technologies, atuando em projetos de grande porte para as maiores operadoras de telefonia do país. Também atuou como consultor em gerenciamento de projetos para empresas das áreas de TI, Saúde Ambiental, Construção Civil e Logística. Hoje atua com projetos de TI e Serviços voltados para o setor público e preside o Conselho Fiscal do PMI-PE. Email de contato: wagner.borba@pmipe.org.br /wborbaconsultoria@gmail.com

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