Publicado em 16/09/2013
A Curva S é o assunto que escolhi para essa semana por ser, provavelmente, a ferramenta de acompanhamento mais difundida e utilizada no gerenciamento de projetos. Pelo menos aqui no Brasil.
Apesar de amplamente utilizada no gerenciamento de projetos, acredito que ainda há uma atmosfera de mistério que envolve a Curva S. Isso causa muitas dúvidas em várias pessoas que gerenciam ou participam de projetos. Essa conclusão é baseada no número de perguntas, com as mais variadas dúvidas, que vejo nos grupos de discussão e blogs que acompanho.
Vou seguir a mesma linha do artigo anterior, em que falamos sobre Caminho Crítico, e tentar simplificar os conceitos e tornar seu entendimento o mais fácil possível.
Em primeiro lugar, vale a pena falarmos um pouco sobre a Curva S do ponto de vista matemático. O gráfico que representa a Curva S é um gráfico de valores acumulados, cujo eixo horizontal representa o tempo e o eixo vertical, a quantidade acumulada medida no projeto, normalmente representando o avanço físico em porcentagem ou o financeiro em unidades monetárias. A curva de um gráfico de valores acumulados pode assumir qualquer forma, dependendo do fenômeno que ela representa.
Você sabe o motivo pelo qual ela é chamada de Curva S, quando utilizada em projetos? É simples: por uma característica que se repete na grande maioria dos projetos, o trabalho realizado nas fases iniciais e finais é bem menor do que o realizado nas fases intermediárias. Quando esses valores são acumulados, geram uma curva com um aspecto de um S (ver figura A) que representa esse avanço pequeno no início e fim do projeto. Se forem utilizados os valores absolutos, no lugar do acumulado, o resultado é uma curva que se parece com uma montanha (ver figura B).
Figura A: curva em forma de S. Figura B: curva em forma de montanha.
Não vou falar sobre o método de construção da Curva S, assunto que irei abordar em outro artigo. Vou me concentrar em como e quando devemos utiliza-la.
Então, como utilizamos a Curva S no acompanhamento de projetos? Na maioria absoluta das vezes ela é utilizada para acompanhar o andamento do projeto em comparação à sua Linha de Base. Você deve, após a aprovação da Linha de Base do cronograma, calcular os avanços – físico e/ou financeiro – estimados para cada período de medição. Esses avanços serão acumulados, para cada período, e plotados no gráfico, gerando a Curva S dos valores previstos, ou também chamados de planejados. Durante a execução do projeto, você deverá realizar as medições periódicas e apurar os seus avanços reais, que também serão acumulados, por período, e plotados no gráfico, gerando a curva de avanço real. A comparação entre as duas curvas apresenta uma indicação da evolução do projeto (ver figura C).
Figura C: Curva S com valores planejados (em azul) e reais (em vermelho).
Das curvas plotadas na Curva S você pode tirar dois tipos de informação:
- se fizer uma análise no tempo (vertical), terá informações sobre o desempenho do projeto. Isto é, terá uma indicação, até o período correspondente, se a equipe do projeto entregou mais ou menos do que o planejado. No exemplo da figura D, a equipe entregou o equivalente a 10% do escopo do projeto a mais do que o planejado, indicando um bom desempenho;
- por outro lado, se fizer uma análise no avanço (horizontal), terá informações sobre a pontualidade do projeto em relação às entregas efetuadas. Em outras palavras, terá o desvio, em relação ao tempo, do avanço planejado e realizado. Na figura D, há a indicação que o projeto está adiantado em aproximadamente 3 meses, pois entregou no mês 7 o equivalente em avanço do escopo que deveria ser entregue no mês 10.
Partindo da ideia de que a Curva S é uma ferramenta de acompanhamento, gostaria que você refletisse um pouco e me respondesse: quantas Curvas S um projeto pode ter? A resposta é simples: quantas forem necessárias para garantir um acompanhamento eficiente. Em um projeto pequeno e simples, de poucos meses de duração, você provavelmente criará uma Curva S geral do projeto, o que será suficiente. Porém, para um projeto longo e complexo, como a construção de uma usina hidrelétrica, por exemplo, você poderá criar uma Curva S geral, uma para cada fase do projeto, para o Caminho Crítico, para determinadas entregas, fornecedores, etc. Enfim, tantas quantas forem necessárias para garantir o acompanhamento eficiente.
Figura D: exemplo de análise dos resultados.
Antes de terminar a nossa conversa de hoje, há um ponto que quero ressaltar. Apesar de ser uma boa ferramenta de acompanhamento do projeto, a Curva S deve ser usada com consciência e acompanhada de outras ferramentas e métodos que suportem as informações e a tomada de decisões.
Você sabe por quê? Porque a Curva S é um método simples, mas que tem muitas limitações e imperfeições. Ela pode fornecer informações imprecisas e, por vezes erradas, causando uma miopia na tomada de decisões para controle do projeto. Vou dar um exemplo de limitação da Curva S: imagine um projeto cuja execução avançou mais do que o planejado, por qualquer motivo, em atividades que não fazem parte do caminho crítico do projeto. Por outro lado, as atividades do caminho crítico apresentam um pequeno atraso e tem um avanço inferior ao planejado. Nesse caso, a soma total dos avanços de todo o projeto pode dar a ideia errônea de que o projeto está no prazo, ou até mesmo adiantado, quando na verdade ele esta tão atrasado quanto as atividades do seu caminho crítico.
Aproveite a sua simplicidade e use a Curva S para acompanhar o seu projeto. Faça tantas curvas quantas forem necessárias, mas utilize também outras ferramentas que a complementam e melhoram sua eficiência como gestor. Quais ferramentas? Isso já é assunto para outra conversa!
Sobre o Colunista:
Alexandre Zoppa, PMP, SpP, com mais de 15 anos de experiência em gerenciamento, é engenheiro eletrônico formado pela Escola de Engenharia Mauá, pós-graduado em Administração de Empresas pela FAAP e com aperfeiçoamento em Gerenciamento de Projetos pela George Washington University. É instrutor em Gerenciamento de Projetos e colunista do PMKB. Hoje atua como coordenador de planejamento Arcadis Logos. Já foi PMO na Ambev e Líder de Planejamento na ABB S.A., entre outras.
E-mail de contato: alexandrezoppa@yahoo.com.br; Skype: azoppa
Se você tem comentários, sugestões ou alguma dúvida que gostaria de esclarecer, aproveite o espaço a seguir.
Prezado Alexandre,
Você falar em criar várias curvas, quantas necessárias, nos níveis desejados e cita Curva do CC. Já me pediram pra criar uma curva do CC, mas não vejo sentido, visto que a cada nova atualização de um cronograma atividades antes críticas podem deixar se der crítica e ainda surgirem novas atividades o que impossibilita uma referência em termos de acompanhamento de uma curva. Você pode falar mais sobre Curva de CC?
Obrigado.
Parabens Alexandre, muito interessante.
Esse site tem uma ferramenta para elaborar uma cronograma com curve S em Excel.
http://www.piegantt.com
Abraços.
Maior problema não é elaborar a curva S é como analisar, porém quando adquirimos conhecimento da curva S e apreendemos analisar , analisamos de forma errada, pois o conhecimento foi transmitido desta forma, pois é necessário analisar junto com outras ferramentas.
Parabéns!
Rogério Ferreira
Parabéns, simples e claro! O comentado sobre o falso avanço na curva, quando ela avalia todo o projeto e não o caminho crítico é o que mais encontramos nos trabalhos de planejadores inexperientes, implicando diretamente na tomada de decisão!
Olá, Alexandre, muito bem colocada a questão do caminho crítico, cujo atraso pode estar mascarado pelo avanço de atividades não críticas. Este é um detalhe para o qual poucos atentam…
Alexandre,
Excelente abordagem para um assunto que nos envolve diariamente em projetos e obras. Vou compartilhar no meu grupo.
Abraços.
Alexandre,
muito bom seu artigo e deveria ser lido por todos os gerentes de projeto que muitas vezes olham as curvas de progresso físico como uma verdade absoluta, infernizando a vida de todos seus subordinados, e não como uma ferramenta sinalizadora que indica desvios quantitativamente e não qualitativamente, conforme voce comentou no exemplo dado no seu artigo.
Só não concordo com sua afirmação de elaborar-se uma curva S para o caminho crítico, uma vez que ao longo do decorrer do projeto este pode ser modificado pelo atraso de atividades que não estavam no caminho crítico e passaram a estar. Desta forma, a curva prevista calculada com a linha base do caminho crítico original perderia o sentido. Teríamos que ficar recalculando esta curva sempre que houvesse modificação do caminho crítico da rede do empreendimento.
Um abraço e continue com seus artigos.
Parabéns Alexandre Zoppa, Estou recomendando e repassando pra alunos e ex-alunos os seus comentarios.
Muita boa iniciativa.