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Entendendo o cinema como um projeto – Ciclo de vida

Publicado em 25/04/2016

Era maio de 1977 e George Lucas, querendo fugir do burburinho da imprensa sobre a estreia de Guerra Nas Estrelas nos EUA, convidou Steven Spielberg para o fazer companhia num fim-de-semana no Havaí. Caminhando pela praia, Spielberg comentou com o amigo que estava com vontade de fazer um filme de ação e tinha a intenção de conversar com os produtores de 007 sobre a possibilidade de ele dirigir o próximo James Bond. Então, Lucas apresentou sua ideia sobre uma trama centrada em um arqueólogo com Ph.D., que nas horas vagas era um aventureiro no estilo clássico em busca de artefatos históricos/ místicos.

Esta é uma concepção usual de projetos originais em Hollywood: alguém tem uma ideia e a apresenta a um outro alguém, normalmente uma interação diretor (gerente de projeto) – produtor (patrocinador). A partir daí, outros são envolvidos (no caso de Indiana Jones, Lucas e Spielberg se isolaram alguns dias com o roteirista Lawrence Kasdan) para desenvolver a ideia em um plano inicial de projeto (primeiro rascunho do roteiro, uma base de orçamento, sugestões de elenco, etc), visando um empreendedor para bancar financeiramente o projeto e assinar seu termo de abertura (um estúdio para dar o sinal verde para a produção).

As fases gerais da produção de um filme se equiparam com a estrutura genérica do ciclo de vida de um projeto.

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Figura 1 – Estrutura genérica do ciclo de vida de um projeto

Fonte: Guia PMBOK® – Quinta Edição (Figura 2.8)

A etapa de organização e preparação do projeto é a chamada pré-produção do filme. Esta se inicia com uma reunião de kick-off e o diretor passa a trabalhar com as equipes de escolha de elenco, direção de arte, definição de locação, etc, para chegar a um plano de gerenciamento do projeto, que inclui, principalmente, a versão final do roteiro, storyboards, equipe de filmagem e elenco definidos, sets e locações escolhidos e, claro, orçamento detalhado e cronograma.

A execução do trabalho se dá com a filmagem e a pós-produção. É durante as filmagens que há mais gente envolvida. O diretor coordena não somente os atores, mas também os líderes de vários “departamentos funcionais”, como o diretor de fotografia (responsável pelas equipes de câmeras, iluminação, etc), o diretor de arte (responsável pelas equipes de cenografia, maquiagem, figurino, efeitos visuais, etc), o designer de som (responsável pelas equipes de captação de som, edição de som, etc), só para citar alguns. O GP tem que fazer com que a comunicação flua entre todos e que as intercessões entre as disciplinas ocorram com sinergia em benefício do projeto.

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Figura 2 – Estrutura genérica do ciclo de vida de uma produção cinematográfica

Fonte: o autor

O roteiro é uma peça fundamental do planejamento, mas como em muitos projetos, muitas vezes é difícil manter aderência à linha de base. Em um dia de filmagem de Caçadores da Arca Perdida, fazia um calor infernal na Tunísia e o ator Harrison Ford apareceu indisposto no set. O roteiro pedia uma complexa e coreografada cena de luta entre Indiana Jones e um espadachim árabe. Spielberg e Ford trocaram algumas ideias e se indagaram: “E se Indy simplesmente der um tiro no cara?” Assim acabaram criando uma das mais memoráveis cenas da história do cinema, desviando do planejado, mas otimizando tempo e enriquecendo o entregável final. Teria sido prudente uma consulta a outras partes interessadas, e uma formalização da mudança, mas aqui a perspicácia do gerente do projeto fez a diferença.

Terminadas as filmagens chega a vez da pós-produção, onde acontecem processos não menos importantes como edição, tratamento de imagem, adição de efeitos visuais e sonoros, trilha sonora, etc. Nesta etapa, os custos de possíveis mudanças são altíssimos, pois envolveriam a necessidade de fazer nova mobilização de parte da equipe e elenco, reconstrução de sets e/ou retorno a locações externas, etc. Pode ocorrer também interferência do patrocinador ou de executivos na edição final, visando um produto que abranja uma fatia maior de mercado ( e gerando insatisfação do diretor mas, indiretamente, criando oportunidade para ‘extras’ nos DVDs e uma potencial “versão do gerente do projeto” posterior).

O encerramento do projeto é quando o filme está pronto e passa a ser divulgado (trailers, cartazes, marketing em geral) e distribuído (geração de cópias e acordos de exibição nos cinemas). Uma pequena diferença da curva típica da estrutura genérica do ciclo de vida de um projeto é que a maioria das produções atuais possuem elevados custos de divulgação e distribuição, não raramente sendo equivalentes ou maiores que os custos de produção. Com isto, alguns projetos chegam a ficar anos no limbo até serem lançados ou acabam indo direto para DVD/Blu-Ray e/ou plataformas de vídeo sob demanda/ streaming.

Apesar das dificuldades de qualquer projeto, é sempre saudável se pautar por casos de sucesso – projetos que nascem de uma ideia numa praia, são realizados competentemente por profissionais talentosos, geram resultados que superam todas as expectativas e ainda abrem portas para outros projetos semelhantes.

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Sobre o Colunista:  José Roberto Costa Ferreira, PMP, é Engenheiro Eletrônico e de Telecomunicações pela PUC-MG, pós-graduado em Redes de Telecomunicações pela UFMG e em Gerenciamento de Projetos pelo IETEC. Iniciou sua carreira profissional em 1995 no ramo de eletrônica, informática e telecomunicações e desde 2005 atua em áreas e negócios diversificados com Gestão de Produtos e Gerenciamento de Projetos. Atualmente integra a equipe de Gestão de Projetos da ThyssenKrupp Industrial Solutions, divisão de Tecnologia de Recursos/ Mineração. Nas horas vagas é um aficionado por cinema.

E-mail para contato: zrcosta@hotmail.com – Blog pessoal: http://padecin.blogspot.com.br

Se você tem comentários, sugestões ou alguma dúvida que gostaria de esclarecer, aproveite o espaço a seguir.

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  1. João Paulo Mendes disse:

    Esse texto é uma clara esquematização de um projeto.
    Quando George Lucas havia acabado de lançar Star Wars, ele havia passado por um complexo projeto cinematográfico, onde os estúdios lhe cobravam qualidade com um custo limitado.
    George Sabia que aquela seria sua obra prima, e queria fazer ao seu jeito, refazendo cenas que necessitassem serem refeitas, ou seja, apesar de seguir o projeto, ele acreditava que sua visão deveria ser o parâmetro de qualidade ao qual o público se fascinaria.
    Ao se encontrar com Spielberg, informações foram compartilhadas. George Lucas passou esse conhecimento ao Spielberg de forma que despertasse a ideia do projeto “INDY”, Assim, ele passou entender que por mais que os estúdios o podassem, sua sensibilidade e visão como diretor ainda deveria ser o padrão de qualidade que eles quisesse que o público visse.
    Esse se tornou um ponto crucial para os futuros projetos que viriam da parceria Lucas/Spielberg.
    Tanto que George Lucas acreditou tanto na ideia de Spielberg que com parte dos lucros de Star Wars, ele financiou parte do projeto INDY.
    Mais a diante, George Lucas criou a Lucas Films, ao qual o tornou independente de estúdios, e a partir daí seus projetos passaram a ser TOTALMENTE da forma que ele queria.
    Com isso acreditamos que a ideia de projeto deve ser seguida, mas o diretor/engenheiro/coordenador deve ter certa liberdade para poder modificar à sua visão, o que torna o projeto único. (No caso de projetos cinematográficos).

    P.S.: Há um erro no inicio do texto, onde cita 007, quando o correto seria INDIANA JONES!

  2. andrehabreu disse:

    O autor ao escrever o artigo faz uma comparação bem interessante entre o ciclo de produção de um filme e o ciclo de vida de um projeto, segundo o Guia do PMBOK.
    O ciclo de vida de um projeto envolve todas as etapas que um projeto tem que cumprir para que seus objetivos sejam alcançados. Em um filme acontece basicamente a mesma coisa. Assemelha-se mais com o ciclo sequencial, talvez, em que as fases são dependentes umas das outras, já que é necessário um roteiro definido no plano inicial do projeto para começar a produção em si e depois fazer divulgação. Por serem dependentes, as incertezas sobre o projeto se tornam menores aumentando a chance de sucesso e o tempo de produção consequentemente se estende.
    Seguir o roteiro, ou linha de base do projeto, é importante e essencial para sucesso do planejamento. Entretanto, assim como qualquer projeto está sujeito à mudanças de acordo com as necessidades, sejam elas por fatores externos, solicitação dos patrocinadores, etc., no caso acima não foi diferente, uma vez que o diretor (ou gerente do projeto) fez uma modificação devido a um fator externo para não perder o dia e sofrer atraso em seu planejamento.

  3. Raff Catalan disse:

    Curti o exemplo que cita uma das mais memoráveis cenas da história do cinema que surgiu a partir de um desvio de planejamento por conseqüência de um impedimento no roteiro e conseguiram otimizar o tempo e enriquecer o entregável final. Por outro lado, não é sempre que desviar o planejamento por conseqüência de um impedimento vai trazer bons resultados para um projeto, este caso poderia ter tido outro final e o filme poderia nem ter seu sido lançado. Acredito que o sucesso neste caso foi relacionado ao know how do GP (diretor) em relação ao cinema.

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