Publicado em 24/02/2021
Você não precisa se esforçar muito para encontrar na internet e em redes sociais conceitos sobre liderança: liderança orgânica, liderança fluida e liderança líquida são apenas alguns dos nomes de batismo para esses variados conceitos. Mas por que nunca na história da humanidade falou-se tanto em Liderança com nos últimos anos? O que falta para os líderes dessa nova década que se inicia? O que é, de fato, ser líder?
Pesquisa realizada pela Integração Escola de Negócio, com 148 líderes corporativos, mostra que 1/4 deles dizem “não estarem preparados para o cargo que ocupam”. Além disso, foi constatado que os líderes distribuem o seu tempo da seguinte forma:
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33% com rotinas diárias (reuniões, etc)
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26% com urgências
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22% com pessoas
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19% com as estratégias de longo prazo
Os números indicam que as lideranças corporativas estão ocupando muito mais o seu tempo para apagar incêndios e muito menos com planejamento. Além disso, fica evidente que boa parte dos líderes ascendem na carreira sem nenhum preparo. O tempo dedicado à gestão de pessoas é bastante baixo, visto que as pessoas são as responsáveis por fazer a máquina engrenar dentro de uma organização.
Antes de tentar compilar as ideias para que eu possa explicar os princípios da Liderança Combinativa, preciso que você tire da cabeça aquele conto romantizado de que existem líderes e chefes; que líderes inspiram e chefes chicoteiam, que líderes dizem “vamos” e chefes dizem “vai”, isso é dar um incremento shakespeariano a algo que tem uma explicação simples. Liderança é liderança e existem basicamente dois tipos de líderes: o líder de fato e o líder de direito.
O líder de direito:
A pessoa é conduzida a uma posição de liderança por um agente superior. A partir deste momento ela ganha o direito de liderar um time, comunidade, grupo, etc. É através dessa pessoa que as atividades são delegadas e as entregas são feitas.
O líder de fato:
Alguém se torna líder de fato quando, no ambiente do grupo de trabalho, os demais pares o enxergam como tal. As pessoas sentem-se inspiradas, motivadas e trabalham para construir um compromisso de apoio mútuo.
A questão é: um líder de direito pode não ser um líder de fato e vice-versa. Porém a plenitude da liderança se dá quando sua posição de líder é prestigiada, não só no contexto da organização, mas também no contexto do time.
Outros poderão discordar, mas a liderança combinativa tem a sua visão conceitual. Um líder que pratica a combinação dos processos de gestão e liderança entende que suas atribuições contemplam muito mais do que gerenciar atividades, rotinas e ferramentas, também há uma uma preocupação com o contexto liderança.
Liderar é combinar pessoas, processos e ferramentas (gestão) às habilidades, valores e propósito (liderança) de um time, entendendo que o processo de construção de uma equipe vencedora passa pelo despertar de suas potências individuais.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, gestão e liderança são duas coisas completamente diferentes, mas que se complementam. Pessoas, processos e ferramentas fazem parte do contexto de gestão, enquanto habilidades, valores e propósito formam o contexto da liderança. E por que combinar pessoas, processos e ferramentas à habilidades, valores e propósito? Porque esses 3 últimos dão o sentido de todo o resto. Simon Sinek nos mostrou, no seu conceito de círculo dourado, a importância de entendermos “o que” fazemos, “como” fazemos e “por que” fazemos. Neste contexto, entendo a combinatividade de um modo mais amplo:
Habilidades
Existe uma prática muito comum nas lideranças corporativas que é olhar para as pessoas como simples provedores de insumos técnicos para finalidade do negócio. Como eu disse no início do artigo, o mundo mudou, meu amigo. Hoje não é só um jogo de exploração e sim de reciprocidade. As pessoas querem ser reconhecidamente parte de algo maior e acreditar naquilo que estão entregando. Um líder que pratica a combinação de contextos precisa entender e estimular as potencialidades das pessoas do time, criando desafios, provocando a “solucionática” entre as pessoas, buscando sempre soluções propositivas.
Valores
Um time ou comunidade é uma micro-sociedade e, tal como, precisa determinar valores para que alguns princípios sejam direcionados, como por exemplo, princípios éticos. Atribuir e construir uma cultura de respeito aos valores de um time é fundamental para engaja-lo. Eu, particularmente, costumo “setar” em meus times valores muito utilizados nos framework ágeis, como Scrum e Kanban, tais como:
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Foco
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Abertura
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Comprometimento
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Ética
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Respeito
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Empatia
Propósito
Substantivo Masculino: Aquilo que se busca alcançar.
Processo básico de trabalho de um “líder combinativo” no seu dia a dia segue um padrão extremamente simples e eficaz para realizar suas entregas. Mapeei 4 estágios principais de um processo de entregas. Não existe um fluxo detalhado para que cada um dos estágios abaixo seja realizado, apenas cabe ao líder trazer os problemas à tona para que a mente criativa de seus liderados trabalhem em busca das soluções.
Compartilhar a problemática
A liderança sempre é o ponto focal para onde os problemas são endereçados. E quando falo de problemas, não estou falando só das coisas corriqueiras do dia a dia, estou incluindo também a construção de novos produtos e serviços (que são sempre oriundos de um problema identificado). Cabe a liderança “compartilhar a problemática” com o time, contextualizando o problema, trazendo um panorama claro dos impactos negativos atuais e o que se espera com a solução deles.
Provocar a solucionática
Não é cobrar, não é exigir, não é ser impositivo… é PROVOCAR (no sentido de estimular o pensamento criativo) as pessoas para que seja possível COMBINAR os pontos de vista de cada um, a fim de encontrar uma solução para o problema. Ninguém melhor do que os responsáveis pela execução das ações para apoiar no planejamento e propor as soluções.
Estimular a criatividade na busca pelas soluções
O processo criativo é geralmente dividido em 4 etapas:
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Preparação:
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Incubação
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Iluminação
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Implementação
Muitas pessoas têm dificuldade em trabalhar sua criatividade e isso tem uma explicação lógica – fomos programados para pensarmos nos moldes da sociedade em que vivemos. Subverter é algo custoso e, na maioria das vezes, a busca por soluções para os nossos problemas passa por “pensar fora da caixa”, que nada mais é do que se contrapor ao óbvio. Se você exerce um papel de liderança, quantas vezes você buscou estimular a criatividade do seu time para buscar uma solução?
Se a resposta foi “nunca” ou “pouquíssimas vezes”, não tem problema. Nunca é tarde para começar. Você pode dar o pontapé inicial combinando o ciclo do processo criativo com algumas técnicas, tais como Mapas Mentais, Brainstorming e PNI (Positivo, negativo, interessante).
Prover Feedbacks
Talvez uma das atribuições mais importantes de um líder é prover feedbacks para o seu time. A origem da palavra feedback (feed = alimentar, back = novamente) traz o senso de processo contínuo. Você recebe uma problemática (entrada), trabalha na solucionática (desenvolvimento) e provém uma solução (saída). Porém não é um clichê e sabemos que sempre há o que melhorar. É aí que entra a necessidade dos feedbacks, para retroalimentar o processo e produzirmos melhores saídas (soluções) sempre.
Existem muitas formas de se prover feedbacks, formais e informais, porém sabendo que no processo de liderança combinativa este é extremamente necessário.
Pilares da Liderança Combinativa
Existem premissas essenciais no contexto da liderança combinativa que precisam sempre ser levadas em consideração. Essas premissas norteiam o trabalho da liderança junto com o time.
Não recrimine o erro
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Errar faz parte do processo de desenvolvimento das potencialidades humanas. O grande erro da maioria dos líderes é punir o erro a todo custo. Desde pequenos somos incentivados a aprender pelo método científico padrão: tentativa e erro.
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Errar sim, porém seguindo a linha da filosofia Lean, aprendendo rápido para agir rápido.
Foque na motivação
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Motivação nada mais é do que dar motivo à ação. As pessoas estão motivadas quando o tamanho do desafio é exatamente do tamanho das suas habilidades. Essa é a tese defendida por Mihaly Csikszentmihalyi no seu livro “Além do Tédio e da Ansiedade“. Grandes desafios para uma habilidade limitada gera Ansiedade. Desafios mínimos para uma grande habilidade gera Tédio. Quando o desafio e tão grande quanto às habilidade, este é o “ponto de flow”, isto é, o ponto onde a sua motivação é total.
Feedbacks rotineiros
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Não espere um período pré-determinado, muito longo, para fornecer e captar feedbacks do seu time. Os melhores e mais eficientes feedbacks são aqueles dados on-time, no momento que as coisas acontecem.
Resumindo…
No fim das contas, combinar os processos de gestão com habilidades, valores e propósito é, sem sombra de dúvidas, uma forma fluida, líquida e orgânica de liderar equipes. Em qualquer organização um equipe tem uma missão essencial: resolver problemas, que no frigir dos ovos significa trazer receita, inovar e expandir mercado.
Ser um Líder Combinativo é, acima de tudo, entender que as “ideias estão no chão, você tropeça e acha a solução”. Não precisamos reinventar a roda, não precisamos fazer os 110% que todos da alta gestão apreciam. Se fizermos bem o 100% não haverá necessidade de passar o ponto, porque “fazer o 110%” pode ser muito bonitinho de se falar no dia a dia, mas isso só demonstra falta de planejamento e de uma boa gestão.
Sobre o autor:
Wagner Borba – Gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação na CitrusCX. Graduado em Tecnologia da Informação pela UniFG, Pós-Graduado em Eng. de Software e MBA em Gestão de Projetos pela Universidade Estácio de Sá (RJ). Detém as certificações Project Management Professional (PMP®) pelo PMI, Certified Scrum Master (CSM®) pela Scrum Alliance e ITIL® Foundation pela OGC-UK. Possui dez anos de experiência em gerenciamento de projetos nas áreas de Desenvolvimento de Software, Telecomunicações, Infraestrutura e Outsoucing de TI em empresas nacionais e multinacionais como Accenture, Huawei Technologies, Alcatel-Lucent e Isolux Corsan, atuando em projetos de alta complexidade, tendo como clientes as principais operadoras de telefonia do país, montadoras de veículos, holdings de bens de consumo, redes hospitalares, grupos educacionais, indústrias e órgãos de todas as esferas de governo (municipais, estaduais e federais). Criador do MEsP (Mapa Estratégico Pessoal) e do método VaHP! para construção de times responsáveis orientados a Valores, Habilidades e Propósito, também mantém o podcast “Mindset: Líder” nas principais plataformas de streaming. Foi Diretor de Administração e Finanças do PMI Pernambuco Chapter na gestão 2016/2017 e colunista em editoriais sobre gerenciamento de projetos.
Email de contato: waaborba@gmail.com / contato@mindsetlider.com. Site: http://mindsetlider.com
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