Publicado em 27/01/2014
Para esse artigo eu escolhi um tema que é bastante polêmico e amplamente discutido no ambiente de gerenciamento de projetos. Cada um tem um ponto de vista diferente, com seus argumentos prós e contras. A intenção desse artigo não é de ser conclusivo. Pelo contrário, a intensão é convidar a todos para uma reflexão sobre o tema: os profissionais envolvidos com o gerenciamento de projetos devem, ou não, ser especialistas técnicos?
Em primeiro lugar é preciso lembrar que o Gerente de Projetos, na maioria das organizações, não é um cargo funcional. Isto é, o gerente de projetos, ao contrário de um gerente funcional (do departamento de Marketing, por exemplo) não tem um departamento e uma equipe funcional para gerenciar. Ele tem um projeto sob sua responsabilidade e a equipe montada para executa-lo.
Dependendo do grau de maturidade em projetos da organização, sua cultura e estrutura organizacional, que varia de funcional à projetizada (ver página 21 do Guia PMBOK® para mais detalhes sobre estruturas organizacionais), o Gerente de Projetos pode ter uma equipe formada para um determinado projeto sem que nenhum de seus membros responda a ele funcionalmente. Nesses casos, o seu desafio é ainda maior. Mas esse é um assunto para outro artigo.
Há alguns anos, antes do Gerenciamento de Projetos começar a ser tratado como uma ciência e despontar no gerenciamento dos grandes projetos, as atividades e processos de gerenciamento eram realizados de forma descentralizada, pelas áreas funcionais das organizações. Nessa época, o conceito de projetos era restrito à engenharia, TI, construção e áreas técnicas correlatas. Nas estruturas organizacionais havia os departamentos que eram responsáveis por processos distintos, compartilhando as responsabilidades de sua execução. Assim, havia o departamento de engenharia, cujo Gerente era responsável pela elaboração de todos os projetos em andamento dentro da organização. Da mesma forma, havia o departamento administrativo para cuidar da administração dos contratos, o de logística, qualidade, etc. Cada um fazia a sua parte e a integração ficava por conta dos Gerentes funcionais.
Com o aumento do tamanho e da complexidade dos projetos, ficou clara a necessidade de processos que fossem totalmente voltados para o seu gerenciamento integrado. Começaram a surgir as primeiras ideias e teorias, e o Gerenciamento de Projetos nasceu e começou a crescer como ciência.
Assim como em outras áreas da ciência, houve um grande movimento de desenvolvimento e especialização do Gerenciamento de Projetos. Há várias instituições que contribuem para o desenvolvimento do conhecimento nessa área, como o PMI (Project Management Institute), o IPMA (International Project Management Association), APM (Association for Project Management), AACE International, etc. Para dar um exemplo da especialização do conhecimento nessa área, O PMI passou a ter outras certificações além do PMP (Project Mangement Professional) e a CAPM (Certified Associate in Project Management), como a PgMP, PfMP, PMI-SP, PMI-RMP e, mais recentemente, a PMI-ACP (para detalhes das certificações, veja o site www.pmi.org), cada uma especializada em uma determinada área de conhecimento. As outras entidades também têm as suas diversas certificações.
Hoje há diversos cursos livres de formação em Gerenciamento de Projetos e preparatórios para certificações disponíveis a qualquer profissional que se interesse pela área. Também há cursos de especialização em nível de pós-graduação e MBA, disponibilizados pelas principais instituições de ensino do mundo.
Com toda essa especialização e conhecimento desenvolvido, é natural que mais e mais profissionais estejam se formando e especializando nessa área. O conceito de projetos se expandiu para muito além dos limites das áreas técnicas e hoje, utilizamos esse conhecimento, ferramentas e técnicas para gerenciar projetos nas mais diversas áreas como publicidade, política, saúde, governamental, etc.
Assim nasceu um novo profissional, com diversos níveis de especialização e experiência, cuja responsabilidade é garantir, através da aplicação de habilidades, conhecimento, ferramentas, etc., que os projetos atinjam seus objetivos de prazos, custos, escopo, qualidade, satisfação das partes interessadas e entreguem os benefícios para os quais foram desenvolvidos. Esses profissionais, que já possuem cargos e funções diversas como Gerente de Projetos, Assistentes, Analistas, Planejadores, Apontadores, Especialistas em Riscos, Qualidade, etc, devem focar suas atividades diárias nos processos de gerenciamento dos projetos a que estão vinculados.
A execução do projeto fica à cargo de outros profissionais, especialistas nas áreas em que os projetos estão sendo desenvolvidos. Assim, se o projeto for de construção de uma fábrica, sua execução estará a cargo de engenheiros; se for de desenvolvimento de um novo software, de analistas; e o lançamento de um novo produto, de profissionais de marketing e publicidade.
Para concluir o meu raciocínio e dar a minha resposta para a pergunta – os profissionais envolvidos com o gerenciamento de projetos devem, ou não, ser especialistas técnicos? – faço uma analogia. Os Administradores e Controlers, precisam ser especialistas no core business da empresa, ou precisam ser especialistas em administração e finanças?
É claro que o dia a dia dos profissionais envolvidos no gerenciamento de projetos fica facilitado quando eles conhecem tecnicamente a área em que o projeto esta sendo desenvolvido. Esse é um fator que não pode ser desconsiderado. Mas eu estou cada vez mais convencido que o importante para os profissionais de gerenciamento é o conhecimento e a experiência nos processos de gestão, para cumprir seu objetivo de garantir o sucesso do seu projeto! Enquanto profissionais de gerenciamento, devemos nos concentrar no planejamento, acompanhamento e controle do projeto, deixando a responsabilidade da sua execução com os profissionais especialistas.
E você? Qual a sua opinião sobre esse assunto?
Uma ótima semana a todos!
Sobre o Colunista: Alexandre Zoppa, PMP, SpP, com mais de 15 anos de experiência em gerenciamento, é engenheiro eletrônico formado pela Escola de Engenharia Mauá, pós-graduado em Administração de Empresas pela FAAP e com aperfeiçoamento em Gerenciamento de Projetos pela George Washington University. É instrutor em Gerenciamento de Projetos e colunista do PMKB. Hoje atua como coordenador de planejamento Arcadis Logos. Já foi PMO na Ambev e Líder de Planejamento na ABB S.A., entre outras.
E-mail de contato: alexandrezoppa@yahoo.com.br;
Se você tem comentários, sugestões ou alguma dúvida que gostaria de esclarecer, aproveite o espaço a seguir.
E fundamental que um gerente de projeto tenha experiência técnica em planejamento, infelizmente o “ego” de muitos gerentes não permite que ele aprimore sua visão de planejamento passando mais tempo envolvido com o corpo técnico especialista . O especialista técnico e a base de um futuro gerente de projeto eficiente, o que vejo hoje e a “dança das cadeiras” em grandes projetos onde um gerente despreparado sem uma base especialista não consegue administrar com eficiência um corpo de especialistas técnicos.
Ser um especialista técnico e a melhor escolha para aquele que almeja ser um GP ou ter grande reconhecimento corporativo no mercado de hoje.
O sucesso de um projeto de TI não decorre, necessariamente, do fato do Gerente de Projetos ter conhecimento técnico, mas está relacionado diretamente à sua capacidade de compreender os requisitos e isso inclui, indispensavelmente, uma avaliação técnica.
Um Gerente de Projetos que não tem conhecimento técnico, precisará de uma técnico para auxiliá-lo, enquanto aquele que tem conhecimento técnico poderá facultar esse suporte e ter mais confiança naquilo que está sendo planejado, bem como empreender uma comunicação extremamente facilitada, ágil e eficiente com sua equipe.
Trabalhei em muitos projetos que a ausência de conhecimento técnico por parte do gestor causou problemas sérios, não somente de custos desnecessários em tarefas replicadas e inúteis, bem como diretamente na qualidade do produto, devido a influência negativa na arquitetura causada pela falta de conhecimento das possibilidades de componentização, não identificados adequadamente.
Pessoal,
Muito obrigado a todos pelos comentários. Foram tão enriquecedores que continuo o assunto no artigo do dia 17/02. Não percam!
Abraço!
A resposta para a pergunta é muito simples, não é necessário ser especialista em alguma das disciplinas do projeto. Mas sim, um especialista em gerenciamento de projetos. Parece óbvio, mas não é.
Se o gerente é especialista em instalações elétricas, ele terá mais facilidade nesta parte e se ele tem pouca vivência em química orgânica e o projeto é uma petroquímica, ele terá que reforçar a equipe contratando um especialista no assunto.
Assim, o importante é formar uma equipe multidisciplinar que tenha capacidade de trabalhar sem pressão e dentro dos prazos, isto dentro do orçamento do projeto.
Dentre as principais virtudes de um gerente de projetos é:
– Capacidade de formar e tocar a equipe.
– Capacidade de administrar o cronograma
– Capacidade em administrar o orçamento.
– Capacidade de administrar os egos da equipe
– Solucionar conflitos.
– Trato com fornecedores.
– Bom senso
Posso estar esquecendo mais alguns.
Conseguindo equilibrar estes conceitos acredito que dificilmente deixará de ter sucesso.
A forma como o tema foi colocado, na minha opinião polarizou a questão e a levou para uma vertente fora da realidade. Um projeto, para sua elaboração contará sempre com a colaboração de vário profissionais especialistas e nunca encontraremos no contexto atual o profissional polivalente – o especialista total. Dessa forma no máximo se elegêssemos um especialista para gerenciar determinado projeto conseguiríamos um profissional com especialidade em alguma parte apenas do projeto e não vejo valor nesse fato para o desempenho da função de gerenciador. Eu diria até que pode vir a ser desastroso.
Contudo, um profissional destacado para gerenciar um projeto, tem obrigação de se preparar sistemicamente sobre as partes desse projeto. Ele deve percorrer todas as disciplinas, sem ser especialista em nenhuma delas. Ele tem que transitar bem a vontade em todas elas.
Boa tarde a todos. Acredito que essa resposta está ligada a maturidade da organização quanto ao gerenciamento de projetos. Quando a organização possui um PMO ou uma estrutura projetizada eficaz e com os papéis definidos acerca da gestão, os profissionais da área de gerenciamento de projetos possuem um foco na própria gestão, ficando a parte técnica e de execução aos profissionais técnicos.
Como existem organizações que ainda não possuem uma estrutura madura quanto ao gerenciamento de projetos, existem situações em que o profissional da área de gerenciamento de projetos, como por exemplo o próprio gerente, necessita de conhecimentos técnicos para acompanhar a execução do mesmo.
Resumindo, a maturidade da organização faz com que sejam necessários profissionais especialistas na área de gestão, logo, tais profissionais precisam desenvolver seu conhecimento e sua experiência em atividades e processos referentes ao gerenciamento de projetos.
Concordo plenamente com a sua conclusão final: o Gerente de Projetos tem que ser especialista em… Gerenciamento de Projetos. Mesmo sendo PHD na área principal de execução do projeto (digamos, ser Engenheiro Civil para coordenar um projeto de um edifício, ser um Químico para coordenar o lançamento de um novo remédio, etc…) essa armadilha é potencialmente mortal para o GP, pois sua responsabilidade é ENTREGAR O ESCOPO no Prazo, Custo e Qualidade definidos, fazendo-se ajudar pelos planos que foram elaborados e pela capacidade de lidar com os percalços, gerenciando os Riscos e as Mudanças.
Conhecer com certa profundidade o mercado no qual o projeto se dará não é “pecado”, mas apenas configura uma das ignorâncias “à menos” que o GP tem nesse quesito. Em que parte da formação de um Engenheiro Civil ele aprenderá suficientemente bem sobre instalações elétricas, hidráulicas, segurança e meio ambiente, finanças, política, relações públicas, marketing, relacionamento interpessoal, leis… etc… etc… etc… . Para isso, claro, o GP precisará contar com pessoas de confiança em sua equipe. Precisará “consultar os especialistas” para ponderar adequadamente e emitir pareceres sobre quaisquer dessas disciplinas… Gerenciamento de Projetos É uma especialização “EM SI”, e deve ser reconhecida dessa forma. No final, os RESULTADOS mostrarão essa grande verdade, porém muitos Patrocinadores acabarão “ficando pelo caminho” por terem misturado as bolas nesse momento de definir a quem deveriam recorrer. Excelente tópico. Parabéns.
Excelente a escolha do tema.
Eu acredito que o Gerente de Projetos, deve utilizar das técnicas, ferramentas e conhecimento do Gerenciamento de Projetos e assim focar na sua condução, focando nas áreas de conhecimento.
O fato do conhecimento técnico, eu concordo que ajuda na tomada de decisão, desde que o conhecimento não seja muito aprofundado, pois assim poderá decidir questões que os especialistas deveriam decidir.
Creio que o conhecimento técnico (visão geral), deverá ser uma das primeiras atividades de um Gerente de Projetos, ao receber um projeto.
Acredito em Gerentes de Projetos, atuando em projetos em várias áreas, com complexidades diferentes, porém para esta atuação será necessário sempre aprender a cultura do segmento, política do segmento e é claro o conhecimento técnico geral da área de atuação.
Boa Tarde, tema bastante discutido por conta da amplitude do cargo gerente de projetos. Minha área de atuação é energia elétrica, serviços de P&D e levantamento de ativos, para gerenciar um projeto na nossa área ter conhecimento técnico é fundamental, pois em muitos momentos nos deparamos em reuniões em que se não tivermos esse conhecimento não temos como argumentar ou ate mesmo mostrar capacidade de execução do serviço. Mesmo dentro da equipe tendo uma bagagem técnica você consegue mensurar melhor as estrategias.
Eu compartilho que a experiência técnica vem com o passar dos anos, o Gerenciamento de Projetos não esta focado em uma só tecnologia. O conhecimento técnico logicamente ajuda no momento de desenhar a aplicação e em saber o que é possível ou não se desenvolver na aplicação. Mais não podemos nos esquecer que existem profissionais focados nesta atividade, profissionais que dominam a tecnologia e certamente tem o conhecimento do que é ou não possível desenvolver. Cabe ao Gestor de Projetos neste momento alinhar todas as informações, documentações, estratégias e acima de tudo zelar para que o projeto seja entregue no prazo certo, com qualidade e custos ajustados. Parece uma tarefa simples, mais podem ter certeza que não é.