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As demandas atuais e futuras e a formação do engenheiro

Publicado em 21/02/2017

O Prof. Lúcio Fonseca aborda, neste artigo, a premente necessidade de atualizar os currículos da Engenharia, adaptando-os aos novos tempos.

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“A Engenharia é um fator determinante para o desenvolvimento econômico das nações. Cada vez mais a criação e a produção de bens de grande valor agregado fazem a diferença na balança comercial do mundo globalizado. A capacidade de inovação depende de vários fatores, entre eles a existência, quantidade e qualidade de profissionais de Engenharia. Com a rápida evolução da tecnologia e a consequente obsolescência das existentes, a formação do engenheiro deve privilegiar os conteúdos essenciais, ensinando-o a se adaptar rapidamente aos novos conhecimentos e técnicas.”

(Roberto Leal Lobo e Silva Filho – Ex-reitor da USP)

COMENTÁRIO
Para uma palestra que fui convidado a ministrar, recentemente,  nas 5as. Jornadas Técnico-Científicas da Ordem dos Engenheiros de Angola, entidade da qual tenho a honra de ser Consultor, tive a oportunidade de fazer uma pesquisa ampla sobre as melhores práticas em ensino de Engenharia no mundo. Muito do que encontrei está coerente com a fala acima.

De fato, mais do que ensinar conteúdos específicos, é preciso concentrar os esforços no desenvolvimento de saberes, habilidades e competências essenciais, as fundamentais para a construção do conhecimento mais amplo,  e ensinar o engenheiro a aprender continuamente, de forma autônoma, para que possa enfrentar desafios que ainda nem sabe quais serão.

Estamos em plena 4a. Revolução Industrial, onde novos conceitos, tecnologias  e inovações disruptivas irrompem em velocidade estonteante e impactam e irão impactar profundamente o universo de atuação do engenheiro: impressão 3D (inclusive de casas e edifícios), Internet das Coisas, Bioengenharia, cidades inteligentes, carros (e caminhões de mineração) autônomos, economia compartilhada, Inteligência Artificial, Big Data, Computação Cognitiva, etc., etc. e ainda etc.

Apenas para citar um exemplo, extraído da Internet, tomemos uma das infinitas coisas que um engenheiro poderia fazer, utilizando o Watson, misto de computador e sistemas de Big Data e Analitics, desenvolvido pela IBM: ele poderia perguntar ao Watson por que a leitura de um medidor de pressão está diferente da faixa padrão de valores; o computador sondaria então seu banco de memórias e retornaria uma série de respostas tidas como relevantes; com o tempo, Watson incrementaria seu “aprendizado” e melhoraria a qualidade das respostas, baseando-se na opinião dos usuários a respeito do seu desempenho. O que isto significa? Que todo o conhecimento e experiência de engenheiros de todo o mundo e de todos os tempos estará à disposição e a serviço do profissional de hoje.

Útil, não? Mas também ameaçador: o engenheiro convencional, que não esteja preparado para lidar com tais tecnologias, pode ser simplesmente… substituído por elas.

Os novos tempos são marcados por um acirramento da busca de produtividade e competitividade, a substituição dos braços pelo cérebro, com os trabalhos mecânicos ou repetitivos sendo executados por computadores ou robôs, a produção colaborativa, a economia verde e as antigas exigências de assiduidade e pontualidade substituídas por resultados.

Todos estes avanços, especialmente os ligados às inovações tecnológicas, gerarão, segundo o último Forum Mundial de Davos, a extinção de 7 milhões de empregos nos próximos 5 anos.  Quantas especialidades da Engenharia poderão estar entre as que serão extintas?

De todo este cenário se depreende a importância e urgência de que os currículos sejam ajustados, de forma a preparar as pessoas para profissões e áreas de atuação ainda não existentes, desenvolvendo as “competências para o futuro”. Vital se faz, portanto, sintonizar a formação do Engenheiros com os novos tempos e as novas demandas, provendo à sociedade um profissional com perfil empreendedor, inovador, identificador e solucionador de problemas (quaisquer), capaz de desempenhar, com sucesso, o novo papel que lhe é reservado, como bem define o Observatório da Inovação e Competitividade da USP:

  • Dominar, gerar e empregar tecnologias para produção de bens e serviços que atendam às novas – e às tradicionais – necessidades da sociedade, com qualidade e custos apropriados;
  • Desenvolver visão de conjunto das questões que desafiam o seu tempo;
  • Aprender a avaliar os problemas e a construir, com muitas outras disciplinas, as soluções adequadas (grifo meu);
  • Tratar com desenvoltura todas as facetas da inovação;
  • Qualificar-se para a prática da engenharia com responsabilidade social.

O MIT, por sua vez,  aponta para um aumento da amplitude e abrangência da Engenharia, que deverá cada vez mais trabalhar em estreita parceria com outras áreas do conhecimento e estar envolvida com temas que não eram, até agora, muito ligados ao seu escopo: Ambiente, Energia, Saúde, Informação, Redução da pobreza…

Como tendências para o redesenho do currículo, a MIT School of Engeneering indica a inclusão das novas tecnologias, a solução de problemas – do mundo real, o desenvolvimento de lideranças técnicas inovadoras e o empreendedorismo, redefinindo os engenheiros como “solucionadores criativos de problemas”. No aspecto “empreendedorismo”, dá o exemplo: dentro de seu campus já surgiram mais de 25.000 empresas (startups), responsáveis pela geração de 3 milhões de empregos e receita bruta de 3 trilhões de dólares.

A 7th WSEAS International Conference of Engennering Education é ainda mais ousada, pois, já em 2010, abrigava temáticas e componentes curriculares que estão sendo discutidos e adotados em escolas de Engenharia pelo mundo afora, tais como Arte, Espiritualidade e Ciências, Linguística, Agricultura Ecológica, Mecanismos criativos da inovação, Redação Técnica, Gestão da Qualidade, Competências Digitais, Empregabilidade, Comunicação, Alfabetização Emocional, Metas e Motivação e outros tão ou mais (até então) distantes do conceito convencional de engenharia.

Conclui-se, portanto, que o perfil do novo profissional de Engenharia deixa de ser puramente técnico e passa a ser composto por um conjunto bem mais amplo de competências: técnica, gerencial, empreendedora, pessoal/emocional e criativa/inovadora. Assim, na necessária reformulação curricular, haverá que se pensar não em mais matemática ou cálculo, mas em Lógica, Metodologia de Análise e Solução de Problemas, Criatividade, Arte, Design Thinking, Liderança, Gestão de Projetos, Gestão da Mudança, Empreendedorismo e outras “disciplinas” intelectualmente estruturantes, capazes de dotar o engenheiro da capacidade não só de inovar, mas de reinventar-se continuamente como profissional.

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Sobre o Colunista:

Prof. Lúcio de Andrade Fonseca, Consultor Empresarial e Educacional e palestrante reconhecido no Brasil e no exterior. Foi Executivo Educacional do Grupo Kroton, por longos anos, exercendo as funções de Diretor de Unidades Escolares, no Brasil e no Iraque, e de CIO (Diretor de Tecnologia). É Consultor de Gestão Estratégica de entidades públicas, privadas e do terceiro setor, no Brasil e em Angola. Exerce também a função de Vice-Presidente de Assuntos Educacionais da SUCESU-MG. Através da empresa FF Digital Tecnologia, Treinamento e Desenvolvimento, da qual é fundador e Diretor Executivo, coordena programas de capacitação para executivos, que têm participação expressiva de gestores de empresas de mineração de Angola. E-mail de contato: lucio@luciofonseca.com.br  – site: http://ffdigital.com.br

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