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O caso da cidade de Mariana à luz da gestão

Publicado em 04/12/2015

Já são passados 20 dias da ruptura de uma barragem de rejeitos da Samarco Mineração, empresa controlada pela Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton, em Mariana (MG). As tragédias social, ambiental, tecnológica e econômica, dentre outras dimensões, prosseguem estampadas em diversas mídias.

Se considerarmos um conceito bem simples sobre o que é um sistema, podemos defini-lo como um conjunto de partes interligadas. Mais uma vez, ainda poderemos aprender com as lições trazidas pela tragédia apesar do alto custo desse aprendizado.

Em função das informações já disponíveis, que observações podemos fazer em relação ao sistema de gestão do negócio usado por todas as partes envolvidas e interessadas em seu resultado? Fazendo uma análise crítica fica visível que muitos fundamentos da gestão estão presentes apenas na intenção, mas não são acompanhados da necessária intensidade dos gestos. Neste texto, a proposta é tirar lições desse caso para as demais organizações.

Plano de ação

O caso de Mariana evidencia desleixo na preparação e na execução do plano de ação para desastres. Nesta matéria da Folha, por exemplo, mostra-se o “jogo de empurra” entre governo federal e estadual. Afinal, quem aprovou o documento, que não previa uma estratégia para avisar os moradores da região em caso de rompimento da barragem? Na terça, o jornal Estado de Minas afirmou que um plano de ação contratado pela Samarco há anos nunca foi posto em prática, por razões econômicas. A empresa contratada à época diz ter feito um planejamento extenso, prevendo proteção à comunidade e aos funcionários, mas disse que ele não saiu do papel.

Um plano de ação é o caminho usado para se atingir uma meta. Ele mostra o que vai ser feito, como vai ser feito, a qual custo, quem será o responsável pela ação e em que prazo tudo deverá ser feito. Portanto, se não houver esforço e transpiração, o plano será estéril, não permitirá que se chegue ao resultado esperado.

Responsabilidades

A Organização das Nações Unidas (ONU) cobrou publicamente governo e empresa pelas falhas na condução do caso. Criticou as medidas insuficientes e a demora na ação, evidenciando a inaptidão das partes para tomarem para si as responsabilidades.

Por que as pessoas que possuem atribuições em função das partes que representam, tais como poder público, investidores, clientes, fornecedores… não cumprem na íntegra os seus papéis? Por que faltam o querer, a vontade de fazer acontecer, a cooperação nos processos de trabalho e o assumir explícito da responsabilidade de cada pessoa e sua respectiva organização?

Creio que falta a presença firme dos líderes e também a cobrança dos resultados das ações ao longo da hierarquia presente na estrutura organizacional. Cada instância deve cumprir de maneira integrada o seu papel e, para isso, é preciso querer, ter vontade política e encarar todos os riscos decorrentes do seu exercício. Os atos e as omissões têm que ter consequências mas, se isso não acontece e predomina a complacência entre as partes, fica claro que ainda estamos longe da excelência que um sistema de gestão integrado pode ajudar a alcançar.

Cumprimento da legislação

Nesse caso específico, fica evidente que a lei que trata da segurança de barragens não foi cumprida em sua plenitude. Também é visível que quem tem a missão de verificar seu cumprimento também teve seus momentos de inércia e negligência. Basta verificar o que fizeram – ou deixaram de fazer – antes da tragédia a própria empresa, os órgãos fiscalizadores de município, estado e União, o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), o Ministério Público entre outros.

As normas e leis fazem parte do ambiente de negócios e devem ser levadas em conta. Ninguém está isento de suas responsabilidades ou das consequências em caso de descumprimento das regras. Todo empreendimento tem uma responsabilidade social e não cabe omissão.

Como prosseguir?

A lição que fica é que ainda faltam disciplina, constância de propósitos e líderes para praticar efetivamente o que sistemas, métodos, normas e leis determinam, apesar dos inúmeros interesses das partes envolvidas que sempre estão em jogo. Os fatos e os dados estão aí sendo escancarados e a nos mostrar que o escondidinho, a omissão e a resistência à transparência vão ficando cada vez mais insustentáveis.

Querer trabalhar com método e saber que as organizações são feitas por pessoas que cumprem papéis ligados aos diversos interessados são necessidades que jamais poderiam ou podem ser ignoradas. Estamos na era do conhecimento e, se o plano proposto para uma ação orientada não for colocado em prática, com certeza ele será estéril, não dará resultados e deixará evidente que foi apenas uma carta de intenções. A prática é um dos critérios da verdade.

luis borges

Sobre o Colunista:  Luis Antônio Borges, é Engenheiro Mecânico formado pela UFMG e Mestre em Engenharia Sanitária e Ambiental. Atua como Diretor, Consultor e Instrutor, Especialista em Planejamento e Gestão Estratégica de Negócios, Governança Corporativa e Sucessão de Empresas Familiares, Gestão Operacional dos Processos, ISO 9000, ISO 14000, ONA, Certificações ANVISA na empresa Luis Borges Assessoria em Gestão.

E-mail de contato: luis-aborges@hotmail.com – Blog: http://observacaoeanalise.com.br

Se você tem comentários, sugestões ou alguma dúvida que gostaria de esclarecer, aproveite o espaço a seguir.

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  1. medinabr disse:

    Como é possível uma empresa do porte da SAMARCO não possuir um método eficaz de prevenção de desastres? Será que sairia mais barato pagar indenizações do que promover a segurança? Recuso-me a acreditar que uma empresa com mais de cinco mil funcionários não possuía um plano de ação e evacuação. O que será que há por baixo desse tapete? Quem está levando o lucro dessa vez? Agora, além de nós roubarem, também estão nos matando?

    Literalmente o lucro é exportado, deixando aqui apenas a destruição, fazem ainda hoje, o que faziam há 500 anos no Brasil roubam nossas riquezas e nos deixam “encantados e iludidos”, encantados deixam todos os corruptos da politica e iludidos ficamos nós. Privatizamos todas as nossas grandes empresas. A Petrobras, que sobrou, ainda é roubada e dilacerada por corruptos, e ainda vem sofrendo com a administração bandida de vários anos.

    Para cumprimento das atividades a SAMARCO teve que aprovar inúmeros documentos para funcionamento dentro das normas do pais e do estado, o que está acontecendo agora ? Se foi aprovado, como é possível tamanho desleixo, então podemos concluir que só vale o que está escrito e que a pratica e bem diferente. Somos todos culpados pela omissão.

    Estamos sendo explorados, e pela ganancia e traição de alguns, submetidos a esse absurdo, é cruel. Perdemos Vidas, historias e por muitos anos ainda sofreremos, com esse desastre ambiental. Estão destruindo nossas montanhas de forma camuflada e negligenciada, e pior do que isso é a nossa aceitação. Porque nos rendemos, e aceitamos? Precisamos abrir os olhos, nos unir, agir de forma correta e sempre pensando uns nos outros, porque assim como eu a grande maioria já está farta.

    Letícia CM de Carvalho
    Pitágoras – Turma 6

  2. Rafael Resende disse:

    Fica claro que a tragédia que se passou em mariana é mais um exemplo de uma gestão falha em um grande projeto. Como disse o colunista, Luiz Antônio Borges, os fatos indicam que fundamentos de gestão até existem e são visíveis em um projeto de mineração como esse da Samarco. O problema é que algumas áreas da gestão são negligenciadas, como foi o caso da gestão de risco e planos de ações emergenciais ou corretivas que pareceu não existir como ficou exposto pela mídia. Por exemplo, era de conhecimento público que o lamaçal de rejeitos atingiria o oceano, e o que fizeram? Tentaram cercar a lama com “boias” que geralmente são utilizadas em desastres de petróleo. Esqueceram-se, no entanto, que o rejeito de minério é, em grande parte, dissolvido na água, diferentemente do caso do petróleo. Pareceu uma medida somente para marketing, para dizer que algo estava sendo feito.

    E com relação ao plano de ação divulgado pelo jornal Estado de Minas, que existia na Samarco a anos, mas não havia saído do papel? O autor acerta em colocar que o plano de ação é um caminho para se atingir a meta. Porém, antes de tudo o desastre não deveria ter acontecido, pois é comum na engenharia um alto grau de controle e cuidados especiais, principalmente em um projeto desse porte, com grande impacto em caso de problema. Vejo, nesse caso, uma falha no projeto e controle da própria construção da barragem. É sim importante ter um plano de gestão de riscos, mas ao que tudo indica, a negligência anterior ao incidente foi o fato mais grave.

    A reponsabilidade no incidente é sim da Samarco, no entanto, o governo não está isento de reponsabilidades. Pelo contrário, ao meu ver ele é o principal autor do desastre. Onde estão as fiscalizações constantes, os órgãos que autorizam a liberação para o funcionamento da represa de rejeito, os fiscais que fazem autuações? Onde estão os responsáveis pelas autorizações? Eles não são funcionários do governo? Pois bem, é culpa também do estado por não cobrar e punir severamente como diz o regulamento, ou seja, as leis. Não concordo que falta presença firme de líderes, acho que falta mesmo é um maior peso para os responsáveis inferiores também. O sentimento de impunidade ainda é generalizado no país.

    Por outro lado, esse tipo de tragédia, de fato, começa a mostrar que as intolerâncias, as omissões e o “jeitinho” estão ficando sem espaço, como o autor cita. Digo mais, o país começa a enxergar de maneira geral com uma maior visão crítica, talvez pela presença das redes sociais, talvez por um aumento na tendência de escolaridade e principalmente, pela maior facilidade de se obter o conhecimento. Ainda existem muitas coisas a serem feitas, e muito caminho para percorrer. Que esse caso de acidente social, ambiental, econômico, entre outros, seja o último. Ninguém suporta mais ver impunidade, que consequentemente, aumenta a chance de novos desastres.

    Por fim, esperamos que as leis sejam levadas a sério, como bem diz o autor. Que nenhum responsável fique sem suas consequências. Que os grandes responsáveis sejam apontados e punidos. Que os corresponsáveis recebam punições de caráter social, principalmente no auxilio às famílias, tribos e povoados que ocupam a região.

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