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O Problema de Qualidade em Projetos de Engenharia

Publicado em 23/04/2014

O Problema de Qualidade em Projetos de Engenharia – Produção de Engenharia X Produção de Desenhos

Resumo

A nova realidade da economia brasileira nos impõe uma necessidade de crescimento rápido visando sanar os principais problemas de infra-estrutura, novos empreendimentos industriais no país. Nesse contexto, novas modalidades de contratação foram criadas, cujo objetivo principal é unir as três partes do empreendimento em apenas um grupo, facilitando e acelerando o desenvolvimento do mesmo. No entanto, os prazos exíguos para desenvolvimento do empreendimento fez com que os empreendedores buscassem formas de aperfeiçoar o mesmo, adotando assim a prática da engenharia simultânea onde os projetos executivos são desenvolvidos em paralelo ou com pouca defasagem da fase de construção. Neste contexto, deparamos com projetos ruins pela necessidade urgente de sua concepção, a custo baixo para propiciar sua viabilidade, além da falta de profissionais capacitados e focados em todas as fases de sua execução.

Introdução

A história da engenharia de projetos industriais no Brasil teve início na década de 60, para diminuir a importação da engenharia agregada aos equipamentos e desenvolver o país o Estado foi o grande comprador dessa nova modalidade de serviços.

Na década de 80 e 90 foi criado um critério para pagamento desses serviços, passou-se a medir a engenharia medindo-se a produção de desenhos.  Com isso, chegamos ao estágio atual: mede-se, compra-se e vende-se engenharia pela quantidade de horas ou de papel produzido: os desenhos. Essa forma, naturalmente, produziu efeitos negativos na qualidade. Para melhorá-la optou-se então pela fiscalização, optou-se por investir no gerenciamento.

Assim a fiscalização tornou-se mais um meio de persuasão contratual, que utiliza o conhecimento daquele que sabe não está sendo usado para fazer, nem para ensinar, mas para pressionar aquele que está começando a aprender. Como esse tipo de fiscalização ou gerenciamento, obviamente, também já mostra sinais da sua ineficiência, volta-se a pensar em comprar a engenharia embutida nos equipamentos “empurrando o fardo” para seus fornecedores.

Nos últimos anos nota-se a grande dificuldade das empresas prestadoras de serviços de engenharia em atender aos contratos, em apresentam projetos de baixa ou nenhuma qualidade e que ainda não conseguem reunir em seus corpos técnicos bons profissionais de projeto.

Essas percepções se ratificam nos projetos ruins encontrados em nosso cotidiano, em dificuldade de se manter no mercado devido a “falta de demanda”, falta de profissionais experientes, do maior número de exigências contratuais, muitas empresas tradicionais já deixaram de existir no mercado.

Faz-se necessário repensar os conceitos e fazer distinção entre engenharia e desenhos de engenharia. A produção de desenhos é tarefa mecânica. Já produzir engenharia é atividade essencialmente mental intelectual. Para produzir soluções de engenharia trabalham-se as informações com os conhecimentos obtidos, estes foram adquiridos em projetos passados, em experiências vividas. Se a informação, tal qual o conhecimento, é incompleto ou ruim, a solução o será na mesma proporção e qualidade.

Segundo o professor Pallotino, o verdadeiro produto da engenharia não é o desenho, é a solução. Sem ela não há o que desenhar e nem o que construir. O desenho é, por assim dizer, apenas a embalagem do produto, a imagem da idéia concebida na mente de um engenheiro. Por isso, pode-se dizer que remédios receitados pelos engenheiros são entregues em caixinhas nos vários tamanhos padrão – ABNT: do A0 ao A4. E, hoje,o computador pode colocar qualquer remédio em qualquer uma dessas caixinhas, e até em menores do que essas.

Deste modo, a qualidade do desenho, visando a competitividade, deve ter foco principalmente na fase conceitual, precisa ser perseguida utilizando-se todos os recursos obteníveis. A vantagem competitiva reside em detalhes qualitativos do produto e do processo de projeto, e por trás disso está inserida uma série de procedimentos para a busca da qualidade. Sob esse ponto de vista, a qualidade do desenho para a competitividade não pode ser vista apenas a partir do resultado de custos ou de características técnicas e funcionais do produto, mas sim a partir das necessidades globais dos clientes internos, intermediários e externos.

A quantidade relativamente grande de fatores e procedimentos que levam à qualidade dos desenhos, associada à variedade de metodologias e recursos tecnológicos disponíveis, dificulta a organização das empresas para que se tornem ou se mantenham competitivas; como esta condição se torna um requisito de mercado cada vez mais indispensável, é fundamental a sistematização dos procedimentos das equipes de projetos para a incorporação de qualidade ao produto.

Conceito de Projeto

Um projeto compreende a utilização coordenada de recursos humanos, financeiros e materiais dentro de um período de tempo para alcançar objetivos definidos. Elaborar um projeto é visualizar e fomentar todos os recursos necessários ao desenvolvimento de um conjunto de atividades a serem executadas, apresentando os objetivos, os meios que serão utilizados para atingi-los, as fontes de financiamento, e como serão avaliados os resultados.

A atividade de fazer projetos é simbólica, intencional e natural do ser humano. Por meio dela, o homem busca a solução de problemas e desenvolve um processo de construção de conhecimento, que tem gerado tanto as artes quanto as ciências naturais e sociais.

O termo projeto surge numa forma regular no decorrer do século XV. Tanto nas ciências exatas como nas ciências humanas, múltiplas atividades de pesquisa, orientadas para a produção de conhecimento, são balizadas graças à criação de projetos prévios.

O escopo/âmbito é o foco do projeto. O escopo do projeto difere-se do escopo do produto na medida em que o escopo do projeto define o trabalho necessário para fazer o produto, e o escopo do produto define os recursos (atributos e comportamentos) do produto que está sendo criado.

Os projetos não desviam freqüentemente do foco de negócios da empresa, e geralmente estão relacionados à sua atividade fim.

Execução de projetos com qualidade

Fazer um projeto é relativamente fácil. Difícil mesmo é tirá-lo do papel com eficiência, administrando custos, tempo, riscos e, principalmente, pessoas. Deve-se ter em mente que em cada uma das diversas situações que levam à competitividade do projeto de engenharia há um requisito fundamental: a exigência de “ser bem feito”, em todos os aspectos, ou seja, a qualidade é indispensável no projeto e é regente da competitividade da empresa.

Segundo CLAUSING (1994), a diferença entre o êxito e o fracasso tem origem na receptividade das necessidades do cliente em relação ao produto, na viabilidade de conceitos consistentes, na viabilidade de execução do projeto, na robustez da função qualidade, na economia de produção, no sucesso da integração, na eficácia do reaproveitamento e no impacto estratégico. Temos, assim, vários fatores que levam à qualidade total.

Nesta linha estão concentrados os métodos estatísticos aplicados ao controle da qualidade, confiabilidade e projeto do produto. Uma característica dos projetos relacionados à primeira linha de pesquisa é a utilização intensiva de métodos estatísticos na resolução de problemas aplicados ao controle da qualidade, à confiabilidade e ao projeto do produto.

Consideram-se nesta linha os sistemas normatizados (por exemplo, conforme a ISO) e da Qualidade como a Gestão da Qualidade Total (TQM), Gerenciamento por Processos, Seis Sigma, entre outros. A terceira linha abrange a Gestão da Qualidade tanto no que concerne às atividades de melhoria de processos e implantação de sistemas normatizados (por exemplo: ambiental, responsabilidade social e hospitalar), bem como pela adoção de modelos organizacionais como a Gestão da Qualidade Total e programas Seis Sigma.

Padronização dos processo e produção em massa

A padronização de processos foi um dos grandes pilares do modelo de produção em massa e um dos grandes responsáveis pelo seu sucesso. Linhas de produção fabricando apenas uma quantidade limitada de produtos permitiam um alto grau de especialização e uma extrema simplificação das tarefas individuais, facilitando o controle da qualidade e resultando num balanceamento mais seguro do fluxo de produção. A partir desse princípio, adaptou-se a produção de projetos para obter as vantagens da produção em massa de produtos e bens físicos sem levar em consideração as desvantagens desse sistema. Dentre as vantagens encontradas, a fabricação de quantidades maciças de um mesmo produto resultava em economias de escala que permitiam uma redução drástica nos custos por unidade e conseqüentemente nos preços dos produtos. Grande atrativo para a produção de projetos.

Devido à sua importância estrutural, o setor de produção em massa exerceu uma forte influência sobre o desenvolvimento do conhecimento na área de gerência da produção. Como resultado desta influência, durante um longo período, não só o comportamento da demanda foi moldado a partir deste paradigma como também a pesquisa em planejamento e controle da produção concentrou-se quase que exclusivamente nos problemas típicos das indústrias de produção seriada.

Não se levou em consideração, que todos os produtos produzidos por uma linha de produção seriam idênticos ou muito similares, e não poderiam ser criados para atender gostos e preferências individuais de cada cliente tornando a produção de projetos de engenharia inflexível e tornando difícil a alteração e adaptação para cada cenário exigente dos sistemas envolventes da engenharia. Em relação ao comportamento dos agentes produtivos (mão de obra) dos projetos, a produção tornou-se impessoal e padronizada devida a alta proporção de equipamentos e programas fazendo com que o profissional repita poucas tarefas e não o conjunto total, não tendo, desse modo, conhecimento do projeto total intensificando a impessoalidade e o pouco envolvimento necessário para a avaliação de possíveis problemas que necessitam de avaliações profundas e específicas.

Criando uma analogia com o sistema de produção de bens de consumo, os trabalhadores praticamente não possuem nenhuma qualificação, mas sim uma especialização, ou seja, há uma divisão do trabalho, onde cada um executa uma determinada função. Por isso, o trabalho não os motiva e eles não possuem nenhuma autonomia para a resolução de problemas. Há nesse sistema produtivo uma centralização e uma alta verticalização da produção.

Diante da padronização/ industrialização/ produção em massa de projetos, observa-se e chega-se a conclusão de que o mais viável para a solução desses problemas de padronização e suas conseqüências é, segundo Hart (1995), “desenvolver a capacidade de oferecer a cada cliente individualmente qualquer produto que ele deseje, em qualquer instante que ele deseje, em qualquer lugar que ele deseje e de qualquer forma que ele deseje”. Diferentemente da produção em massa, onde o objetivo é satisfazer o cliente padrão, os projetos teriam que ser mais personalizados e ajustados às necessidades da demanda e aos desejos de grupos de consumidores mais específicos.

Ainda segundo Hart (1995), o um cenário ideal para acabar com os problemas da padronização seria “uso de processos flexíveis e estruturas organizacionais para produzir produtos e serviços variados e muitas vezes projetados para clientes específicos a preços compatíveis com os praticados pelas empresas de produção em massa”.

Conclusão

Obras de engenharia envolvem quatro atores, a saber: o proprietário, o projetista, o executante e eventualmente o consultor (muitas vezes como projetista em obras de pequeno ou médio porte). No Brasil, um número significativo de obras tem como proprietário o Estado (União, Estados, municípios ou entidades públicas de várias naturezas). Proprietários privados constituem um grande universo de obras pequenas e médias e um menor número de obras de grande porte.

O atual paradigma nacional de projeto para as obras maiores é completamente diferente daquele vigente nas décadas de 60 e 70, onde grandes empresas projetistas, com equipes multidisciplinares e profissionais experientes elaboravam os projetos de grande porte e os executantes disputavam as concorrências. Atualmente, grandes equipes constituem singularidades.

Em número significativo de casos, pequenos escritórios ou mesmo profissionais independentes colaboram entre si na elaboração de projetos, que podem ser direcionados para o proprietário ou para o executante. Muitas vezes as empresas de projeto são gerenciadores de projeto, agregam profissionais para projetos específicos. Em inúmeros casos de obras privadas de pequeno e médio porte, o projeto é gerenciado por empresa.

Somente a aproximação dos proprietários contratantes, profissionais de projeto e consultoria, executantes, formadores de profissionais da área, pesquisadores, agencias reguladoras, conselhos profissionais e associações profissionais em eventos de mobilização, valorização profissional e esclarecimento dos papéis e responsabilidades dos atores envolvidos na área em eventos como o atual, e a inserção de seções especiais em reuniões profissionais técnicas e científicas pode melhorar, qualificar o meio técnico, atrair para a profissão pessoal motivado e qualificado e finalmente aumentar a segurança das obras de engenharia.

Referências

Artigos_pmkb

Sobre os Autores:

Autor: Frederico Gomes Barbosa, engenheiro de produção, pós graduando em nível de aperfeiçoamento em Engenharia de Planejamento pelo IETEC, com 6 anos de experiência na área de engenharia. Trabalha atualmente na Incorporadora e Construtora Masb, na área de planejamento e controle. Email de contato: frederico.fgb@gmail.com.

Autor: Laércio Rodrigues Teixeira, estudante do curso de Pós-graduação em Engenharia de Planejamento do IETEC – MG. Trabalha a 4 anos como Coordenador de Planejamento de Manutenção Industrial, na empresa CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). Na área de Mineração, também já atuou como Supervisor de Manutenção e Operação; Especialista de Manutenção e Gerente Técnico. Graduado em Administração de empresas; Engenharia Mecânica e Pós-graduação em Marketing Industrial; Logística e Engenharia de Produção. Trabalhou por 23 anos na Vale (Projeto Carajás-PA) e demais empresas (Anglo American; Centrais Elétricas do Norte do Brasil – ELETRONORTE e Construções e Comércio Camargo Corrêa). E-mail de contato: laerciocks@bol.com.br.

Autora: Thaís Pinto Coelho Silveira, bacharel em Direito pela UNA, pós graduanda em nível de aperfeiçoamento em Engenharia de Planejamento pelo IETEC, profissional com 9 anos de experiência na área de planejamento e controle. Atualmente trabalha na empresa Anglo American na implantação do Mineroduto Minas Rio no setor de mineração. Email de contato: thaispcs@oi.com.br.

Contexto: o presente trabalho é resultado de pesquisa realizada com alunos da 8a Turma de Engenharia de Planejamento do IETEC.

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