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Sunspring: reflexões sobre a substituibilidade do ser humano

Publicado em 08/08/2016

Através de diversas obras de ficção-científica, como 2001 – Uma Odisseia no Espaço, Blade Runner – O Caçador de Androides, Exterminador do Futuro e Matrix, o cinema vem sido utilizado para instigar uma dúvida que estimula pensadores e assombra trabalhadores desde a consolidação da automação no processo produtivo: o ser humano é substituível por uma máquina?

Essas e outras produções apresentam inteligências artificiais em variados formatos físicos, mas sempre com níveis de consciência, emoção, abstração e/ou deliberação assustadoramente próximas ou iguais às de pessoas. Desde 1927, com Metrópolis, quando decidiram passar a retratar robôs na telona, não houve área de atuação profissional da qual os inventivos roteiristas não tenham ficcionalmente destituído o homem do seu posto.

reflexões

Acontece que agora, em junho de 2016, a realidade pareceu bater à porta dos escritores, sedenta por vingança. Inspirados pela tecnologia do Google de auto completar frases com base em dados estatísticos, o cineasta britânico Oscar Sharp e o especialista em tecnologia Ross Goodwin se uniram para construir uma inteligência artificial que pudesse escrever roteiros. Após alimentá-la com centenas de roteiros de ficção-científica e inserir alguns parâmetros de partida, a dupla reuniu uma equipe de produção e um elenco para, em 48 horas, filmar e editar o que quer que saísse da máquina.

O resultado é este curta-metragem, intitulado Sunspring:

A primeira impressão é de que o produto final é um filme totalmente sem sentido. Mas, não sem valor. Tanto filosoficamente, quanto artisticamente.

Para começar, é inegável o poder de uma novidade. Se muitas vezes isto parece só mais uma frase de efeito, este curta-metragem prova isto com números. Apenas uma semana após seu lançamento no YouTube, Sunspring atingiu meio milhão de visualizações. Isto sem uma divulgação formal ou um marketing para promovê-lo, apenas com o boca a boca virtual. Para efeitos comparativos, são vários os curtas-metragens que têm o chamativo rótulo de ‘indicado’ ou ‘vencedor’ do Oscar e que estão disponíveis on-line há anos, ainda sem ultrapassar a casa de dezenas de milhares de visualizações. A mera realização de uma ideia que não tem precedentes já foi mais que suficiente para sensibilizar curiosos de toda parte. E tão impressionante quanto o interesse gerado, foi a recepção do público. Após esta semana inaugural, 95% das pessoas que se dispuseram a marcar os sinalizadores de ‘gostei/ não gostei’ do YouTube, deixaram sua aprovação.

No entanto, nos comentários da plataforma é possível perceber uma (compreensível) insatisfação geral com a falta de coesão do texto. O filme parece, e é, sem pé nem cabeça. O curioso é que se fosse quebrado em pequenas partes de dois, três segundos e analisado separadamente, cada uma destas rápidas tomadas poderiam muito bem se encaixar em virtualmente qualquer filme de ficção-científica renomado. Benjamin (que é o nome que a própria máquina escolheu para si) conseguiu criar pequenos fragmentos, unicamente perfeitos e totalmente coerentes com o conhecimento que tinha (a base de dados com roteiros de ficção-científica), formatou estes fragmentos em um padrão que também lhe era familiar, mas falhou em entregar um conjunto que atendesse as expectativas dentro do subjetivo conceito humano do que é um roteiro de filme.

Isto reforça o senso comum de que uma máquina pode ser usada para automatizar partes de processos, mas não para conceber um todo. De que uma máquina pode equacionar, armazenar em memória e aprender, mas não pode raciocinar, pensar e desenvolver. De que uma máquina pode ser usada para realizar arte, mas não para criar. O homem inventou a máquina para auxiliá-lo, para facilitar suas atribuições, mas a máquina depende do homem para atendê-lo (e satisfazê-lo) plenamente.

E, de fato, se Sunspring é assistível, é mérito do fator humano envolvido. É fascinante notar como que, face à necessidade de compensar um roteiro “incomum” (para não dizer “ruim”), o empenho e o talento do diretor e de toda a equipe transparecem. As atuações são genuínas e carregadas de comprometimento de uma forma tal que quem não conhece a língua acredita que algo significativo está realmente desenrolando ali. Basta observar a convicção e a emoção na interpretação da atriz em seu desconexo monólogo final.

Baseado nos primeiros resultados do Benjamin e no nível de percepção e exigência dos seres humanos em geral, é seguro afirmar que, assim como praticamente todos profissionais que foram ameaçados pela ficção-científica ao longo das décadas, os roteiristas podem dormir tranquilos. Pelo menos com relação às máquinas. Atualmente são ações (e omissões) humanas que representam reais ameaças à empregabilidade em geral.

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Sobre o Colunista:  José Roberto Costa Ferreira, PMP, é Engenheiro Eletrônico e de Telecomunicações pela PUC-MG, pós-graduado em Redes de Telecomunicações pela UFMG e em Gerenciamento de Projetos pelo IETEC. Iniciou sua carreira profissional em 1995 no ramo de eletrônica, informática e telecomunicações e desde 2005 atua em áreas e negócios diversificados com Gestão de Produtos e Gerenciamento de Projetos. Atualmente integra a equipe de Gestão de Projetos da ThyssenKrupp Industrial Solutions, divisão de Tecnologia de Recursos/ Mineração. Nas horas vagas é um aficionado por cinema.

E-mail para contato: zrcosta@hotmail.com – Blog pessoal: http://padecin.blogspot.com.br

Se você tem comentários, sugestões ou alguma dúvida que gostaria de esclarecer, aproveite o espaço a seguir.

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  1. Tiago Batista disse:

    Apesar da evolução da tecnologia e da inteligência artificial, não podemos afirmar que a máquina poderá substituir o homem, uma vez que a máquina é projetada e não há raciocínio envolvido, não há uma decisão pensante para as ações da máquina.

    A máquina é tudo aquilo que ajuda o homem a executar suas atividades com mais facilidade. Mas a arte do pensar, de se comunicar, da cultura, do saber não é incrementada na programação de uma máquina. As características que definem o ser humano como um ser único são a capacidade de resolver problemas, interagir, expressar sentimentos e opinião sobre os fatos.

    Há muita curiosidade sobre o tema, e a ficção cientifica atrai muitos espectadores, o que justifica o sucesso do curta metragem Sunspring no YouTube. O fato é que grande parte das atividades humanas serão facilitadas e até mesmo substituídas pela máquina, as atividades rotineiras poderão ser eliminadas, mas a criatividade humana não pode ser substituída.

  2. Ludmila Sales disse:

    Conforme a definição do Jonh McCarthy “A inteligência artificial é um sistema que percebe seu ambiente e toma atitudes que maximizam suas chances de sucesso”.

    O sucesso do curta metragem Sunspring, em visualizações no Youtube, ocorreu devido a curiosidade humana em verificar qual a capacidade da inteligência artificial em casos que a estatística não se aplicaria. O resultado do roteiro sem nexo já era esperado, uma vez que a base de dados utilizada são filmes de ficção cientifica sem qualquer interferência humana nos dados e parâmetros.

    Essa intervenção humana é a base dos casos de sucesso, por exemplo o computador da IBM, Deep Blue, que foi a primeira máquina da história a derrotar um campeão de xadrez. O sucesso foi alcançado ocorreu devido a utilização de estatística e táticas de jogos anteriores, mas para que isso ocorre-se a mente humana precisou definir dos parâmetros da base de dados e o objetivo da atividade.

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