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A evolução dos valores da administração

Publicado em 17/10/2017

Qual a Influência da Sociedade Empresarial na Ciência da Administração? E o Papel Exercido Por Adam Smith, Keynes e Taylor? Qual Foi a Importância do Sistema Feudal e da Igreja Católica Nesse Contexto?

Desde cedo, a sociedade ocidental se caracterizou como uma “sociedade empresarial”, em que a ideologia da grande corporação fixa o tema para o sistema total, a tal ponto que as opiniões de empresários têm forte influência em determinados países.

A ideologia capitalista não constitui a norma do padrão ético da história do Ocidente e, ao contrário, a maior parte da história registrada considerou inaceitável essa ideologia. E, de forma geral, os filósofos gregos julgavam as atividades comerciais com desdém, considerando-as até mesmo necessárias, mas pouco agradáveis. Opinião idêntica à dos romanos.

A Idade Média se caracterizou como um período de estagnação e ausência de desenvolvimento econômico e social, principalmente em função do sistema feudal e da Igreja Católica. O primeiro, dominou a vida econômica da Europa Ocidental e a Igreja Católica, ao fornecer a ideologia e fixar o sistema de valores, imputou a “salvação das almas” às pessoas.

A usura era considerada pecado e o comércio era de duvidosa pureza. Deve-se salientar que o “credo” capitalista não surgiu de repente e maduro, mas resultou de um processo revolucionário, com a Igreja encarando os assuntos de negócios sob novos ângulos. Por outro lado, as populações passavam por processos de urbanização, a criação de novas comunidades e até mesmo nações, estimulando a intensificação do comércio e dos negócios. Outro vigoroso estímulo foi o crescente comércio marítimo entre a Inglaterra, a França, a Holanda, Portugal e Espanha.

Alguns historiadores consideram o judaísmo como outro estímulo, uma vez que a religião judaica não restringiu o comércio como fizera o Cristianismo nos anos anteriores. Aos judeus que viviam na Europa, eram proibidos de possuírem terras e outras atividades, forçando-os aos negócios e ao comércio como alternativas.

Autores como Max Weber destacaram as mudanças na ética religiosa – como resultado da Reforma e o movimento protestante – como geradoras de um clima favorável ao progresso do capitalismo, salientando que o crescente protestantismo na Inglaterra, na Escócia, na Holanda e na Nova Inglaterra, constituiu-se na principal razão para esses países serem os primeiros a se lançarem ao desenvolvimento industrial.

A ética capitalista recebeu sua suprema teoria em 1776 com Adam Smith, o qual pregava a liberdade econômica com base na premissa que “promovendo seus interesses pessoais, cada indivíduo beneficiaria a sociedade total”. O mecanismo de controle era a concorrência do mercado, não precisando do controle do estado nem de outro controle externo qualquer. Essa ideologia se ajustava maravilhosamente bem aos desenvolvimentos tecnológicos e industriais à época, e propiciava justificativa perfeita para o crescimento industrialista.

Em 1858, Charles Darwin publicou sua teoria da evolução, salientando que os organismos se adaptavam com êxito ao meio ambiente, enfrentando um processo contínuo de lutas.  O “darwismo social” dava a entender que as pessoas mais capazes e com mais recursos, ascenderiam à cúpula da hierarquia social e que essa era a ordem natural das coisas.

A ética protestante – em evolução -, o modelo competitivo de Adam Smith e o darwismo social forneceram o suporte ideológico do capitalismo industrial. E, esse período – entre o fim da Guerra de Secessão até 1890 – pode ser considerado o ápice da evolução ética capitalista tradicional. Os industrialistas eram os heróis populares daqueles dias e suas atividades recebiam substancial apoio popular.

Nessa época, as atividades governamentais favoreciam o desenvolvimento da indústria e do comércio, tendo sido aprovado uma legislação tributária que protegia os interesses da indústria. Como foi considerada “legal”, a corporação abriu as portas ao aparecimento de gigantescas empresas.

O aparecimento dessas gigantescas empresas levou várias forças internas da sociedade a reclamar alguma forma de regulamento ou controle, pois a desenfreada aplicação do modelo competitivo de Adam Smith não mostrava eficiência em sistema de oligopólio e monopólio.

Em 1890, foi aprovado decreto de regulamentação das empresas em função do interesse público, cuja finalidade principal foi restringir as práticas monopolistas e fazer o sistema empresarial voltar atrás, às práticas do modelo competitivo. Dessa forma, durante esse período, foi construída a estrutura básica para o governo regulamentar certos aspectos das atividades comerciais.

Durante as primeiras fases da Revolução Industrial, inúmeras restrições legais foram impostas à ação coletiva dos trabalhadores e os tribunais achavam que os sindicatos conspiravam, visando à restrição do comércio. Mas, após a Guerra de Secessão, com o crescimento das complexas organizações industriais, o movimento trabalhista recebeu um novo ímpeto. Entre 1895 e 1920 surgiram organizações trabalhistas radicais que reuniam trabalhadores da indústria em organizações militantes, visando à derrubada do sistema capitalista e, embora tenham saído de cena após a 1ª Guerra, representou violenta reação contra o darwismo industrial predominante n’aquele período.

A Grande Depressão – iniciada com o desmoronamento do mercado em 1929 – ameaçou a estrutura do nosso sistema econômico e social, com o desemprego sacudindo as raízes da ideologia capitalista clássica e o bode expiatório foi a empresa. A depressão se estendeu com ligeiras modificações de 1929 até que o estímulo da 2ª Guerra à atividade industrial, introduzisse uma meia volta.

Embora a própria Depressão constituísse a prova da falência do sistema econômico e da ética capitalista clássica, coube ao economista John Keynes (1936) apresentar a explicação teórica para o fato. A posição dele desafiou a teoria econômica clássica e a ética capitalista. Keynes desafiou o princípio básico protestante, afirmando que as poupanças retiradas do consumo poderiam levar a um deslocamento e a uma sub utilização dos recursos econômicos. Ele explicou a Depressão, sugerindo que se podia alcançar o equilíbrio à despeito do grande número de pessoas desempregadas e de outros recursos não utilizados.

Keynes deu mais ênfase ao consumo que às poupanças como modo de chegar à utilização plena dos recursos e, sem um sistema auto ajustável que operasse em favor do pleno emprego, essa tese necessitaria de uma força externa que fornecesse o mecanismo de equilíbrio – e essa força era o governo. A teoria keynesiana exerceu forte influência sobre a transformação da ética capitalista.

No princípio da Administração Científica, Taylor e seus adeptos encaravam a organização sob o ponto de vista mecanicista, vendo no trabalhador um elemento do sistema, racional e maximizador de lucros. Mas, o movimento das relações humanas – iniciado por Elton Mayo – fez surgir uma visão diferente do empregado, pois ele via a organização como um sistema social, com seus membros influenciados por relações intergrupos e o indivíduo motivado pela complexa hierarquia das necessidades.

Embora reconhecesse a importância das necessidades econômicas, Mayo deu mais ênfase às necessidades sociais, de status e outras, como sendo básicas para a motivação dos participantes da organização.

A teoria das ciências behavioristas – psicologia, sociologia e antropologia – exerceu profunda influência sobre o modo básico de ver o homem dentro da organização e da sociedade, tendo exercido papel importante na transformação da ética capitalista e da ideologia da administração.

A 2ª Guerra Mundial exigiu intervenção do governo federal em todas as fases da atividade econômica, à fim de acumular e dirigir recursos necessários ao esforço de guerra, sendo o governo americano o responsável pela manutenção do pleno emprego e da plena utilização dos recursos econômicos. Nos últimos 20 anos, cerca de 10% do PNB dos EUA foram destinados à defesa, aos programas de energia atômica e a NASA. Dessa forma, os empresários estão cada vez mais trabalhando com ou através de repartições governamentais e esse processo tem influenciado a ideologia da administração.

A necessidade de “fazer frente” à mudança tecnológica dentro da organização complexa influenciou a ideologia empresarial das décadas de 50 e 60, visto que houve enormes influências de concepções e métodos de administração com a contratação de cientistas, profissionais especializados e outros especialistas, altamente treinados. Além disso, importantes mudanças sociais ocorridas fora do sistema empresarial também causam impacto sobre a ideologia – como movimento pelos direitos civis, a militância universitária, etc. -, forçando os executivos a reconsiderarem seus próprios valores.

É impossível apresentar uma única ideologia empresarial dominante nos nossos tempos, já que vivemos em uma sociedade de pluralismo ético e o dirigente se vê diante de milhares de valores conflitantes. Mas, o conflito principal parece ser entre a ética calvinista – protestante – e a ética judaico-cristã.

A ética calvinista sustenta a ideologia do “laissez-faire” e do lucro máximo, dando ênfase à produção e pondo a organização como criadora de bens e serviços. E, por outro lado, a ética judaico-cristã sustenta que a empresa tem uma responsabilidade social mais ampla e não deve se preocupar unicamente com o lucro máximo.

Uma perspectiva mais recente é a de considerar que a organização não funciona somente como maximizadora de lucro, tendo à frente uma série de grupos de interesse, tais como seus clientes, seus fornecedores, seus acionistas, empregados, sindicatos, etc… . O dirigente precisa satisfazer os interesses desses vários grupos, à fim de manter a colaboração e a participação dos mesmos nas atividades da organização. Acima de tudo, o sistema de valores do capitalismo contemporâneo é pragmático e cada vez mais o empresário está reconhecendo que não opera só em um determinado ambiente econômico, mas em um ambiente social total, não devendo se desestimular nem pelos dilemas ideológicos nem pelas variadas exigências dos diferentes grupos.

No decorrer dos últimos 130 anos a corporação se tornou não somente a nossa mais importante instituição, mas também uma importante força a favorecer as alterações sociais. A corporação se tornou o instrumento predominante para a transformação da ciência e da tecnologia em bens e serviços economicamente úteis. E, no desenvolvimento desse papel econômico, a corporação deu origem a enormes alterações sociais.

O desenvolvimento do automóvel, da televisão e outros artigos de largo consumo exerceram grande influência, afetando quase todas as áreas da sociedade americana e, no setor de produção, o crescimento da automação e da tecnologia de informação exercerá profunda influência, tanto sobre grupos de trabalho como sobre executivos, bem como sobre o resto da sociedade.

A posição adotada hoje por muitos dirigentes apresenta uma mudança radical em relação à 30 décadas, a qual sustentava que qualquer forma de ação do governo para enfrentar os problemas sociais resultantes das deslocações econômicas, não era apenas desnecessárias, mas antissocial. O dirigente empresarial reconhece hoje, que sua organização é uma subunidade da sociedade mais ampla e que precisa se adaptar às exigências do ambiente em que opera.

Existe uma estreita relação entre a questão da responsabilidade social da empresa e o conceito de profissionalismo especializado, sendo impossível concordar a respeito do que seja um “profissional especializado”. Vollmer e Mills dão conta que “a profissionalização é um processo que pode exercer influência sobre qualquer ocupação, em grau mais alto ou mais baixo”. Muitos autores modernos apresentam os elementos essenciais de uma profissão ideal:

  • As profissões têm um campo sistemático de teoria. Chega-se à aptidão através do treinamento. A preparação para a profissão deve ser uma experiência tanto intelectual como prática.
  • O profissional reveste-se de uma autoridade baseada em conhecimento superior, que é reconhecido pelos clientes. Essa autoridade é altamente especializada e se relaciona apenas com a esfera de competência profissional.
  • A comunidade sanciona o exercício dessa autoridade dentro de determinadas esferas, conferindo aos profissionais certos poderes e prerrogativas, cujos exemplos são o controle sobre o ingresso na profissão, os processos para o licenciamento e a confidencialidade entre o profissional e o cliente.
  • Existe um código de ética que regula as relações entre as pessoas que exercem a profissão, os clientes e os colegas e, dessa forma, a autodisciplina é empregada como base do controle social.
  • O profissional faz parte de numerosos grupos – formais e não-formais. As ações mútuas entre os papéis sociais, requeridas por esses grupos, geram uma configuração social única da profissão, uma cultura profissional.

A administração não desenvolveu esses cinco elementos na mesma extensão dos grupos profissionais tradicionais, mas, se examinarmos o conceito de profissionalismo, torna-se evidente que em décadas passadas transpareceu certa tendência para uma atenção maior a esses elementos do profissionalismo. Autores modernos têm observado um movimento contínuo rumo ao profissionalismo da administração, ao admitirem que:

  • Existe um acampo – cada vez maior – de conhecimento sistemático, referente à gerência e à administração de organizações complexas.
  • Legitimou-se em nossa cultura o papel autoritário do gerente.
  • Esse papel conta com a sanção da comunidade.
  • Há um número – cada vez maior – de associações profissionais de gerentes ou administradores (particularmente nos vários aspectos especializados das empresas).

Marcantes transformações têm sofrido a ideologia capitalista e as opiniões da sociedade com respeito ao legítimo papel do executivo – e da corporação. É importante reconhecer que a Teoria da Organização e a prática da Administração foram influenciadas pelo ambiente sociocultural (em processo de transformação) e pela ideologia (em processo de evolução).

Embora Frederick W. Taylor não possa ser considerado como força isolada, ele deve ser encarado à luz da situação industrial e social em que desabrochou. Dessa forma, Elton Mayo e os estudiosos das Relações Humanas espelham a substancial evolução ocorrida na ideologia da Administração nesses últimos 130 anos.

 

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Sobre o Colunista:

Julio Cesar S. Santos, Professor, Consultor e Palestrante. Articulista de Vários Jornais no RJ, autor dos seguintes livros: “Promoção e Merchandising Eficientes Para Pequenas Empresas” e “Vendedor Profissional” (Ed. Aprenda Fácil); “Qualidade no Atendimento ao Cliente” e “Liderança, Atitude e Comportamento Gerencial (Ed. Clube de Autores); “Estratégia: o Jogo Nas Empresas” e “Planejamento de Vendas” (AGBook Editora) e Co-Autor de “Trabalho e Vida Pessoal – 50 Contos Selecionados” (Ed. Qualytimark, Rio de Janeiro, 2001).Por mais de 25 anos treinou equipes de Atendentes, Supervisores e Gerentes de Vendas, Marketing e Administração em empresas multinacionais de bens de consumo e de serviços.Elaborou o curso de “Gestão Empresarial” e atualmente ministra palestras e treinamentos presenciais e à distância nas áreas de Marketing, Administração, Técnicas de Atendimento ao Cliente, Secretariado e Recursos Humanos.Graduado em Administração de Empresas, Especialista (MBA) em Marketing e Mestre em Gestão Empresarial. E-mail de contato:  jcss_sc@yahoo.com.br – profigestao@yahoo.com.br  / Site:  www.profigestaoblog.blogspot.com

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