Chego hoje ao terceiro artigo sobre os 5 Atributos Essenciais dos Gerentes de Projetos falando agora de um dos mais importantes. Primeiramente temos que entender que as organizações estão passando por um processo irreversível, porém muito lento, de horizontalização da sua estrutura hierárquica. Principalmente empresas de tecnologia, que trabalham diretamente com inovação. Não sabemos ao certo quanto tempo isso vai levar para realmente acontecer em sua plenitude, o que sabemos é que hoje está bem longe de ser assim. Exatamente por isso, o Gerente de Projetos que precisa de recursos de outros departamentos para atuar, precisa ter um ótimo relacionamento interpessoal com as demais áreas para desenvolver minimamente o seu trabalho. No artigo você entenderá porquê.

Imagine que são 10h da manhã de uma segunda-feira e o seu chefe te chama para uma reunião urgente na sala dele. Nela, ele te expõe uma demanda por um novo serviço essencial para a organização e que você irá gerenciar o projeto de desenvolvimento do mesmo. Neste momento 90% dos GPs pensam em 3 coisas:

  1. Quais as partes interessadas nesse projeto?
  2. Qual o prazo limite, estipulado pela empresa, para entrega do serviço?
  3. Terei liberdade para recrutar minha equipe?

Você também pensou nessas 3? Se pensou, foi exatamente nessa ordem? Bem, eu honestamente penso parecido, mas incluiria uma outra preocupação e como a número 1: “Quem será o patrocinador do projeto?”. Muitas empresas e também muitos GPs tendem a não levar muito a sério o papel do Patrocinador do Projeto aqui no Brasil, por uma questão cultural mesmo. Nós não estamos acostumados com a ideia de “alguém que interceda por nós”, já que costumeiramente somos orientados a sermos proativos em 100% do nosso tempo de trabalho; o famoso “dá teus pulos”. E, obviamente, aconselho a continuarmos sendo, porque o entendimento sobre o patrocinador do projeto (ou sponsor – em inglês), para muitas pessoas, é incorreto. Muitos GPs usam o sponsor como a primeira instância na solução de problemas, principalmente com as demais áreas envolvidas no projeto. Porém é exatamente aí onde se separam os GPs dos Aspirantes à GP, porque nenhum patrocinador quer perder seu precioso tempo em nível estratégico para resolver problemas de níveis tático e operacional.É nessa hora que o GP se vale do seu Bom Relacionamento Interpessoal para contornar situações e conseguir o melhor para o seu time. Mas o que seria Relacionamento Interpessoal?

Bem, no âmbito da sociologia e psicologia, seria uma relação entre duas ou mais pessoas, seja no contexto de trabalho, familiar, comunitário, etc. Segundo o sociólogo, filósofo e jurista alemão Max Weber, o relacionamento interpessoal implica uma relação social, ou seja, um conjunto de normas comportamentais que orientam as interações entre membros de uma sociedade. No âmbito empresarial, as relações humanas são base da convivência (harmoniosa ou não) dentro da organização. Ainda que essas relações estejam cada vez menos orgânicas, há necessidades (mesmo que pontuais) em recorrer à boa convivência no âmbito empresarial para se alcançar um objetivo. Muitas pessoas usam a expressão “saber ser político” para exemplificar o que é ter um bom relacionamento interpessoal, o que não deixa de ser, em partes,  um bom comparativo, mas devido às circunstâncias que levaram a expressão “saber ser político” a um patamar muito rasteiro no dia-a-dia do brasileiro, é preciso entender o que é ser político dentro de uma organização.

Mas o que tem a ver o bom relacionamento interpessoal com o trabalho de um Gerente de Projetos?

Saber se relacionar com as pessoas é algo importante para qualquer atividade, mas para um Gerente de Projetos é essencial. Muitas vezes, trabalhamos com projetos em estruturas organizacionais matriciais. Essas estruturas são compostas por departamentos e cada um aparece, mais ou menos, como verticais. Ao contrário dos demais, os projetos funcionam de forma horizontal, permeando parcialmente ou em sua totalidade por todas essas verticais. Exatamente por isso o Gerente de Projetos precisará, eventualmente, de recursos de outros departamentos, pessoas que já respondem a um gestor da área a qual pertence. Esses gestores departamentais (ou funcionais) tornam-se partes interessadas nos projetos, já que eles serão de alguma forma impactados. Neste momento, o conto de fadas que diz “toda a empresa é um grande time que trabalha junto na busca pelos objetivos da organização” fica restrito ao mantra dos Coaches. Na vida real, cada um quer puxar para o seu lado e isso independe se o resultado do projeto é bom ou não para a empresa. Geralmente diretores e CEOs não gostam de se envolver com os problemas diários envolvendo GPs, gerentes funcionais, fornecedores e clientes. O foco desses agentes é outro. Devido a esses apontamentos citados acima, o Gerente de Projetos que deseja conduzir suas demandas sem maiores problemas precisa saber se relacionar com todas as partes. Por este motivo, um dos fatores fundamentais para o bom relacionamento interpessoal é a Empatia.

Empatia: é a arte de se colocar no lugar do outro por meio da imaginação, compreendendo seus sentimentos e perspectivas e usando essa compreensão para guiar as próprias ações.

Podemos analisar melhor a questão da empatia quando expandimos o seu alcance considerando três importantes premissas:

relinterp2

Soa meio utópico pra você essa figura acima? Soa utópico pra muita gente, mas é essencial que saibamos trabalhar a empatia considerando as premissas acima. Sem respeito, cordialidade e cooperação não existe um bom relacionamento interpessoal. Pela lógica filosófica do bom convívio, as suas necessidades não podem ser colocadas acima das necessidades dos outros. Mas o que fazer quando há um conflito de interesses durante o ciclo de vida de um projeto? Nesse momento entra um fator que sempre é o fiel da balança em todo e qualquer projeto dentro de uma organização: o Poder Político. Mas este deixemos para detalhar em outro artigo específico sobre poder.

relinterp1

O portador deste poder pode ser o GP, o Patrocinador ou qualquer agente high level da empresa, porém não é bom usá-lo em toda e qualquer situação de conflito. O importante neste artigo é entendermos que um GP pode remover obstáculos em seus projetos usando o seu empatia e capital político, sem a necessidade de escalonamentos, já que estes costumam ser desgastantes e podem trazer efeitos colaterais irreversíveis. O constante escalonamento, apesar de muitas vezes ser necessário, deve ser uma tratativa de último nível. Exatamente por este motivo saber se relacionar com as pessoas é fundamental para trabalhar com gerenciamento de projetos. Esta habilidade precisa ser fomentada e treinada todos os dias.