Publicado em 03/11/2014
O GP na era da informação (e do conhecimento superficial!)
A evolução tecnológica proporcionada ao mundo nas últimas décadas é realmente impressionante. Tudo foi revolucionado, desde as atividades mais simples e cotidianas às de maior complexidade. Não há absolutamente nada de ruim nisso.
A informação tornou-se mais acessível e circula a uma velocidade impressionante. A comunicação é realizada por inúmeros canais e permite o monitoramento e controle de processos e projetos a grandes distâncias. Atividades operacionais foram agilizadas e simplificadas. Pode-se dizer que tudo melhorou e gerenciar projetos nunca foi tão fácil, certo? Errado!
O problema é de manuseio…
Fazendo aqui um paralelo com o termo externalidade, que vem da economia e, grosso modo, pode ser utilizado para conceituar os efeitos colaterais de uma dada decisão sobre elementos (indivíduos, comunidades, meio ambiente…) que não participaram da mesma, o GP tem sido afetado pela relação da humanidade com a evolução tecnológica observada.
A consequência disso é que a performance das equipes que gerenciam projetos na atualidade sofre oscilações, colaborando com os atrasos, excedentes orçamentários, níveis baixos de qualidade e desastres técnicos. Analisemos alguns pontos característicos desse cenário:
Os “infomaníscos”
É impressionante como os especialistas vêm sendo subestimados. A internet e os sites de busca criaram uma legião de “bem informados” que possuem convicção de que alguns poucos termos de busca no Google os tornam tão aptos a tomar decisões ou discutir assuntos técnicos e gerenciais quanto a alguém que passou 4 ou 5 anos na faculdade aprendendo a olhar além do óbvio, do superficial.
A internet pode ajudar muito em atividades corriqueiras no mercado de trabalho, mas é prejudicial quando indivíduos assumem que essas informações, sem a devida análise e interpretação, substituem a capacitação de um especialista, ou mesmo quando jovens estudantes não dão valor ao conhecimento e ao aprendizado, por acreditarem que qualquer resposta está ao alcance dos seus dedos.
As parcelas técnicas devem receber muita atenção, pois geralmente representam o cerne do projeto. Responsabilidades devem ser atribuídas com muito cuidado, especialmente com atividades que exigem conhecimentos específicos.
Se você é um Gerente de Projetos, deve buscar entender quando um maior nível de profundidade e um especialista em dado assunto são exigidos e delegar com a devida responsabilidade, sabendo que isso representa ter compromisso com sua equipe, seu cliente e seu projeto.
Garbage in, Garbage out
Em inglês existe a expressão Garbage in, Garbage out que, em uma tradução livre, quer dizer: Lixo entra, Lixo sai. Isso expressa perfeitamente a forma como os sistemas operacionais e softwares de GP são superestimados. Eles não passam de processadores e organizadores que devem facilitar a vida de quem planeja, executa, monitora e controla projetos.
Mesmo assim, uma grande parcela dos profissionais os encara como a solução definitiva para as questões mais clássicas de GP, esquecendo que eles de nada valem sem o conhecimento, o bom senso e a experiência, os ativos verdadeiramente valiosos.
De nada vale ter um banco de dados gigantesco sem entender que cada projeto é diferente do outro e exige uma nova análise e remodelamento. É inútil construir um Gráfico de Gantt que não reflita a realidade de evolução da obra ou mesmo ter uma curva S em mãos e não saber interpretá-la. O fator humano continua tendo o papel principal, já que se informações incoerentes são inseridas no computador (lixo entra!), informações e resultados indesejados são obtidos (lixo sai!).
A integração é a chave de tudo
Por fim, um aspecto que nitidamente põe em risco o sucesso de muitos projetos é a falta de integração organizacional em relação aos novos recursos tecnológicos. Implantar um novo sistema não é fácil, mas pode se tornar uma verdadeira Odisseia quando faz-se mal feito ou quando os funcionários são resistentes à mudança administrada.
Tentar gerenciar um projeto com aplicação de novas ferramentas sem que todos os envolvidos sejam devidamente conscientizados e treinados é uma tarefa que dificilmente alcançará sucesso. Não se deve ter ilusões quanto a esse ponto pois, sem um forte trabalho de capacitação, o maior risco é de que parte da equipe (se não toda ela!) “empurre com a barriga”, provocando mais problemas do que soluções.
Saiba que novos softwares podem ser muito proveitosos para projetos e para o negócio como um todo, mas considere o esforço que demandará leva-los ao pleno uso e tenha compromisso em implantá-los da maneira correta. Em GP não há espaço para fazer de qualquer jeito e, sem a devida integração em todos os aspectos, as possibilidades de resultados satisfatórios ficam extremamente comprometidas.
A solução está entre a cadeira e o computador
Esses foram apenas alguns exemplos que mostram como o mal uso de algumas soluções acabou levando a novos problemas. A mensagem geral é: não subestime o indivíduo que utiliza a tecnologia. Ele é quem realmente resolverá os problemas, na medida em que for demandado de forma coerente, entender conceitos e não apenas procedimentos e souber a forma certa de operar as ferramentas que possui.
Não deixe que ferramentas tecnológicas tão interessantes tornem-se pesadelos para seus projetos!
Sobre o Colunista: Bruno Augusto, estudante do Curso de Engenharia de Produção Civil no CEFET MG. Trabalha há 3 anos como Assistente de Engenharia em Planejamento e Controle de obras de galpões industriais, na empresa SGO construções. Na área de construção, também já atuou com controle tecnológico de concreto e execução de obras prediais. Técnico em Química formado pelo CEFET MG, trabalhou por 1 ano e meio como Inspetor de qualidade em uma indústria da Coca Cola Company. Criador e idealizador do blog A Engenharia em Foco: http://aengenhariaemfoco.blogspot.com.br.
E-mail de contato: brunosilva.civil@gmail.com
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