Publicado em 27/08/2015
Edição #34 de 2015
Alguns aspectos importantes da conjuntura e dos cenários que podem impactar direta ou indiretamente no seu negócio.
1. Internacional/Economia
- Na edição número #28 de Conjuntura & Cenários, divulgada no dia 13 de julho, havia um tópico dizendo que “nem bem a Grécia começou a encaminhar uma solução e os olhos do mundo se voltaram para o próximo grande problema internacional: a China”.
- Ambos retornaram turbulentamente à pauta nessa semana. A Grécia, via renúncia do primeiro-ministro Alexis Tsipras. A China, em uma segunda-feira terrível na bolsa de valores. Vamos na ordem.
- A reúncia do premiê Alexis Tsipras foi anunciada no último dia 20. Afirmou que a fase difícil de negociações do resgate econômico havia passado. Mas, nas suas palavras, apesar de pegar o melhor acordo que havia admitiu não ter alcançado o acordo que realmente desejava.
- Qualquer análise precisa passar por aí. Tsipras se elegeu criticando as políticas de austeridade que os credores europeus impunham à Grécia. Mês após mês, especialmente em junho e julho, bateu pesado nessa tecla, desafiou os credores e pressionou por um acordo melhor para o país.
- Em julho, cedeu a um novo pacote de medidas em troca de socorro financeiro. A decisão foi tomada no limite de uma declaração de moratória do país e de saída na zona do euro. “Reconheço que as medidas fiscais são severas, que elas não vão beneficiar a economia grega, mas me vejo forçado a aceitá-las”, foram suas palavras à época.
- Ao ceder em algumas de suas convicções por um pacote que salvasse a Grécia de uma situação financeira ainda mais caótica, começou a sofrer pressões dentro do próprio partido.
- Tsipras renunciou em pronunciamento pela TV. Afirmou que “o mandato político das eleições de 25 de janeiro esgotou seus limites, e agora o povo grego tem de ter a palavra”. Novas eleições serão marcadas no país, em setembro.
- Há quem diga que Tsipras sai agora para tentar voltar mais forte nas novas eleições. Uma hipotética vitória do premiê seria uma validação de suas decisões e aceitação do povo grego sober a inevitabilidade dos acordos.
- Antes do anúncio, a Grécia recebeu a primeira parte do empréstimo de 13 bilhões de euros acordado em julho. O valor permitiu ao país retomar imediatamente e no prazo o pagamento dos 3,4 bilhões de euros ao Banco Central Europeu, e o empréstimo de 7,3 bilhões de euros da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional.
- Depois da Grécia, as preocupações se voltaram para a China. Na última sexta-feira, commodities, moedas e bolsas globais já haviam sofrido grandes quedas face a desaceleração da economia chinesa. A atividade industrial do país recuou para o menor índice desde 2009, auge da crise .
- O impacto foi ainda maior quando as bolsas reabriram na segunda. O mercado esperava que o governo chinês lançasse medidas de estímulo no fim de semana, o que não aconteceu.
- O resultado foi a venda maciça de moedas e de papéis de empresas em todo o mundo, e uma queda ainda maior de produtos primários com cotação internacional, como minério de ferro, petróleo e soja.
- Com isso, a Bolsa de Xangai teve 8,49% de baixa em seu principal índice. No Brasil, o dólar foi a R$ 3,58 e fechou o dia a R$ 3,54 no câmbio à vista.
2. Economia/Infraestrutura
- Segundo o Ministério do Trabalho, o Brasil perde 494,4 mil empregos em 2015. O mês de julho fechou 157,9 mil vagas, naquele que foi o quarto mês seguido de queda.
- Por isso, o governo decidiu voltar a usar bancos públicos para conceder crédito a juros baixos para setores da economia em dificuldades, como a indústria automotiva. A Caixa dará crédito com juros mais baixos a montadoras e outros setores em dificuldade que não cortarem vagas. O Banco do Brasil lançará ações semelhantes.
- A Caixa vai liberar cerca de R$ 5 bilhões somente para o setor automotivo. Outros 11 setores estão em negociação. No BB, o financiamento se dará com recursos e taxas de mercado. As empresas que mantiverem empregos e índices controlados de inadimplência terão taxas menores.
- Por outro lado, o crédito começou a faltar para o agronegócio. O BB emprestou R$ 3,5 bilhões para o pré-custeio com juros subsidiados neste ano. Em 2014, foram cerca de R$ 8 bilhões (queda de 14% na concessão total de crédito rural neste semestre, segundo o BC).
- É interessante observar que, neste momento, a Agricultura é o único setor que registra criação de vagas. Foram gerados 24,5 mil empregos no mês passado.
- A incorporadora PDG, uma das maiores do país, iniciou um processo de reestruturação. Reflexo da crise na construção, a incorporador possui dívidas de quase R$ 7 bilhões.
- Com a desaceleração nas vendas e estouros no orçamento, a empresa reduziu os lançamentos e opera no vermelho já há alguns trimestres. De janeiro a junho deste ano, acumulou quase R$ 400 milhões em prejuízos, e com apenas R$ 1,2 bilhão em recursos disponíveis.
- A PDG contratou o banco Rothschild para ajudar no processo. O objetivo é renegociar contratos e reduzir o endividamento da empresa.
3. Política / Legal
- Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi denunciado no Supremo Tribunal Federal. O presidente da Câmara é acusado pelo procurador-geral da República de receber US$ 5 milhões em propina do esquema de corrupção da Petrobras .
- A Procuradoria-Geral também apresentou denúncia contra o senador e ex-presidente da República Fernando Collor (PTB-AL). Collor e Cunha são acusados pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro .
- Entendendo o caso de Cunha: ele é acusado junto com uma aliada, a ex-deputada Solange Almeida. A Procuradoria pede que o STF condene os dois a devolver US$ 80 milhões (R$ 277,4 milhões) aos cofres públicos.
- O doleiro Alberto Youssef foi o primeiro a ligar Eduardo Cunha à corrupção na Petrobras. Preso e colaborando com as investigações desde o ano passado, Youssef apontou o deputado como um dos políticos que teriam recebido propina de empresas que tinham negócios com a estatal.
- Em 2015, entrou em cena o delator Júlio Camargo. Ele confessou ter acertado, em 2006 e 2007, uma propina de US$ 40 milhões para obter contratos da Petrobras para a coreana Samsung Heavy Industries e a japonesa Mitsui, empresas que representava no Brasil.
- O acerto foi com o lobista Fernando Baiano, apontado como principal operador do PMDB no esquema de corrupção. Segundo Camargo, o dinheiro seria repassado a Eduardo Cunha e ao ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró. Baiano e Cerveró estão presos em Curitiba.
- Em 2011, dois requerimentos foram protocolados na Câmara pela então deputada Solange Almeida, hoje prefeita de Rio Bonito (RJ) pelo PMDB. Os requerimentos, que citavam as empresas coreana e japonesa, serviram para pressionar Camargos a seguir com o pagamento de propina.
- O nome de Eduardo Cunha aparece nos registros eletrônicos da Câmara como autor dos arquivos de computador em que foram escritos os requerimentos protocolados por Solange. A Procuradoria afirma que os pagamentos ao deputado foram feitos em espécie, no Brasil.
- Segundo o delator, parte dos US$ 5 milhões foi paga por meio da Assembleia de Deus, igreja evangélica à qual Cunha é ligado. A propina foi depositada, em diferentes transferências para as contas da igreja no valor de R$ 250 mil, em 2012.
- Na edição #33 de Conjuntura & Cenários, trouxemos dados do inchaço do setor público no governo federal. De 2007 a 2014, o número de funcionários da Presidência da República saltou de 5.697 para 18.388 servidores.
- Acompanhando o cenário que já se desenhava naqueles dias, na semana seguinte a presidente Dilma autorizou o ministro Nelson Barbosa (Planejamento) a fazer o anúncio de uma reforma administrativa com o objetivo de eliminar dez dos seus 39 ministérios e mil cargos até setembro.
- Apesar de boa e necessária notícia, há um problema evidente. O anúncio, feito de maneira repentina, não ofereceu detalhes sobre os cortes.
- Se o excesso de ministérios é um claro problema, sua razão de existir também. Muitos deles foram criados para atender aos partidos aliados, no xadrez político da troca de cargos por apoio e governabilidade.
- Logo, antes de apresentar qualquer melhora administrativa ou mesmo reduzir custos federais, a decisão deve aumentar ainda mais a tensão entre o governo e os seus aliados.
Direção: Luis Borges
Pesquisa e redação: Igor Costoli
Referências:
- BBC Brasil
- Contas Abertas
- Folha de São Paulo
- The Guardian
- The Telegraph
Sobre o Colunista: Luis Antônio Borges, é Engenheiro Mecânico formado pela UFMG e Mestre em Engenharia Sanitária e Ambiental. Atua como Diretor, Consultor e Instrutor, Especialista em Planejamento e Gestão Estratégica de Negócios, Governança Corporativa e Sucessão de Empresas Familiares, Gestão Operacional dos Processos, ISO 9000, ISO 14000, ONA, Certificações ANVISA na empresa Luis Borges Assessoria em Gestão.
E-mail de contato: luis-aborges@hotmail.com – Blog: http://observacaoeanalise.com.br
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