Publicado em 01/10/2015
Eu estive prestes a escrever esse post há mais de um ano quando borbulhou na mídia uma crítica à Engenharia Nacional feita por um ministro. Veja uma das notícias a esse respeito: Clique Aqui.
Naquela época, resolvi fazer mais que isso. Alterei alguns planos, parei um livro que eu estava escrevendo e comecei a planejar outro (que publiquei em junho de 2015). Foi a forma que encontrei para dar minha contribuição efetiva.
Há poucos meses, outra notícia que coloca a Engenharia Nacional em cheque circulou: Clique Aqui. Dessa vez, além de incompetentes somos taxados e burros.
É claro que há um milhão de contra argumentos para responder quaisquer das matérias e isso certamente será feito pelos órgãos de representação da Engenharia (como ocorreu há cerca de um ano). Mas, deixando a superficialidade de lado, devemos nos perguntar:
1- Por que estamos dando brecha a esse tipo de crítica?
2- Não há de fato nenhum motivo para elas e todas foram feitas por puro oportunismo, para arrumar um bode expiatório?
3- Qual é de fato a qualidade da Engenharia Nacional atualmente e como medi-la?
Outras questões podem ser feitas em busca de uma compreensão mais honesta e responsável desta realidade. Não devemos deixar que nem o corporativismo da profissão, nem o sensacionalismo dos acusadores nos desvirtuem a visão sobre essa realidade.
Sabemos, claro, de inúmeros sucessos e grandes feitos da Engenharia Nacional ao longo dos últimos cinquenta anos (para recorrer a um período do qual ainda temos profissionais na ativa). Exemplos clássicos são as grandes hidrelétricas e o pré-sal. Mas é fácil garimpar outros tantos.
A pergunta é: esses episódios de sucesso não são suficientes para garantir à nossa Engenharia certa blindagem a esse tipo de crítica?
Eu responderia essa pergunta com outra: esses grandes episódios de sucesso refletem o dia a dia da nossa Engenharia? Foram fatos isolados ou períodos de excepcional inspiração?
Uma coisa é certa, ninguém começa uma briga com alguém que é bem maior e mais forte. Se a Engenharia Nacional foi agredida é porque a estão vendo como vulnerável.
A seguir coloco um ponto de vista a respeito de um tópico que sempre vem à tona quando se está discutindo o insucesso dos grandes empreendimentos. Normalmente fala-se dos grandes empreendimentos públicos, mas a análise serve também aos privados que, embora como menor rigor, seguem o mesmo princípio de contratação de obras de engenharia.
Discute-se a contratação de obras “apenas” com o Projeto Básico.
Vejamos o que diz a lei de licitações:
“Art. 6o. Para os fins desta Lei, considera-se:
IX – Projeto Básico – conjunto de elementos necessários e suficientes, com nível de precisão adequado, para caracterizar a obra ou serviço, ou complexo de obras ou serviços objeto da licitação, elaborado com base nas indicações dos estudos técnicos preliminares, que assegurem a viabilidade técnica e o adequado tratamento do impacto ambiental do empreendimento, e que possibilite a avaliação do custo da obra e a definição dos métodos e do prazo de execução, devendo conter os seguintes elementos”.
O texto continua incluindo itens para detalhar esse entendimento.
Ora, a questão não tem segredo algum. Se o que se coloca como Projetos de Arquitetura e Engenharia num processo de contratação não permite o que está na definição acima, então não é um Projeto Básico. Provavelmente o que tem ocorrido é que estamos aceitando Anteprojetos ou algo nesse nível de maturidade de desenvolvimento como se fossem Projetos Básicos.
Não sabemos mais distinguir o que é um Projeto Básico ou estamos aceitando isso deliberadamente? Em outras palavras, estamos diante de um problema de formação técnica ou diante de um problema de responsabilidade?
Muitos estão enfrentando essa situação alegando que é preciso Projeto Executivo para contratar obra. Ora, isso é outro equívoco conceitual no meu entendimento. Como o próprio nome diz, Projeto Executivo comunica em detalhes aquilo que efetivamente será construído e como será construído. Como é possível definir isso sem o apoio do construtor (que é o principal responsável e maior interessado neste escopo)? Ou seja, a rigor não é possível desenvolver um Projeto Executivo sem que o construtor esteja contratado para que ele participe do processo de detalhamento do seu próprio trabalho. Afinal, é ele quem definirá uma série de pontos. Nos detalhes executivos reside um dos grandes aspectos da boa concorrência: a engenhosidade das estratégias e metodologias construtivas e a eficiência e qualificação de cada construtora (o que certamente está implícito na proposta com a qual o construtor vence uma licitação).
Enfim, para não esticar a conversa, entendo que há muito que discutir nessa área.
É preciso que a Engenharia Nacional seja defendida agora e assegurada no tempo. Mas sua fortaleza não será reformada com argumentações meramente corporativistas, políticas, superficiais ou históricas. Precisamos demonstrar sua força com atitude, comportamento e resultados.
Sobre o Colunista: Renê Guimarães Ruggeri. Formado em Engenharia Civil, MBA em Gestão de Projetos, Especialista em Gestão de Empresas, 20 anos como Coordenador de Projetos AEC, autor dos livros “Redescobrindo o Processo do Projeto” (2015) e “Gerenciamento de Projetos no Terceiro Setor” (2011), Eng. Máster Coordenador de Projetos na Vale S/A (2011-2015), Professor da Academia Militar de MG no CFOBM (2003-2010), Diretor de Projetos da FEOP(2006-2008), participação em mais de 100 Projetos AEC de variados portes e tipologias (1995-2015), Instrutor, palestrante e escritor nas áreas de Engenharia de Projetos e Gestão de Projetos.
Atualmente é Sócio-Proprietário da Renê Ruggeri Engenharia e Consultoria e atua com Gestão de Empreendimentos com foco em Gestão de Engenharia.
Email de contato: rgruggeri@gmail.com – Site: www.reneruggeri.com
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