Não conheço nenhum gerente de projetos que teve sucesso absoluto em todos os projetos que gerenciou. Todavia, conheço gerentes que fazem excelentes trabalhos e colhem bons e/ou excelentes resultados. Imagine a existência de um painel mostrando o ranking dos gerentes de projetos, com suas vitórias e derrotas. Assim como os lutadores de MMA, Lutador Anderson Silva, lutou 37 vezes, conquistou 35 vitórias e 2 derrotas. Já o Gerente de Projetos Epaminondas gerenciou 37 projetos, sendo 35 bem-sucedidos e 2 fracassados. Contabilizar os scores de cada profissional é complexo, mas o resultado é, no mínimo, curioso. Confesso que gostaria de saber o meu ranking futuro.
Na minha carreira, participei de projetos que foram verdadeiros fiascos, nem por isso me tornei o pior gerente de projetos. Por outro lado, encerrei muitos projetos conforme planejados, longe de me tornar o melhor GP do mundo. Se eu estivesse contando isso para a minha mãe, com certeza ela diria: “você não fez nada além da sua obrigação”.
Frente aos desafios cotidianos, é importante que o gerente de projetos tenha sabedoria e maturidade suficientes para entender que, na sua carreira, as vitórias não são a certeza do sucesso e que as derrotas não são as afirmativas do fracasso absoluto. Ganhar e perder fazem parte do jogo, às vezes reversíveis, contornáveis, mas também inevitáveis. É certo que um bom gerente de projetos poderá falhar, porém, a tendência é acertar muitas vezes.
No final das contas, o sucesso profissional do gerente de projetos não está unicamente nas vitórias e, sim, na sua capacidade de desenvolver habilidades para aprender e crescer com as derrotas e, nunca, acomodar-se com as vitórias.
Seguem sete atitudes comportamentais cometidas pelo gerente de projetos que, quase sempre, levam-no ao fracasso:
1. Agradar constantemente os envolvidos no projeto:
a. Faça o que for necessário para o projeto. Você não precisa ser o gerente de projetos mais querido da empresa, nem ganhar o concurso de popularidade do ano. A fórmula do sucesso para o GP é usar estratégias, técnicas, conhecimentos e habilidades em prol do projeto, enquanto a do fracasso é agradar a todos envolvidos no projeto.
b. Crie um ambiente favorável para sua execução plena. Se não estiver seguro disso, atente-se para atender tal exigência. Se for impossível, você não deve ser o GP desse projeto.
c. Exercite a inteligência emocional. É demasiado estranho que um GP tenha atitudes muito passivas e amenas na maior parte do tempo da execução do projeto. Por outro lado, o rigor extremo, que emana o temor ao gerente de projetos, faz do projeto um martírio e não se produz bem nessa situação.
d. Tenha a postura gerencial do rigor e do afeto. Rigoroso para demonstrar à equipe que você é justo e honesto com a situação. Afetuoso a fim de não agredi-la com insinuações, gestos e atitudes.
2. Ignorar os stakeholders da parte do cliente:
a. Alinhe-se com quem irá receber os produtos/benefícios do projeto. O primeiro sinal de fracasso é quando existe a desconexão entre o gerente do projeto e a equipe do cliente.
b. Manifeste a perspicácia para compreender o contexto estratégico e político do projeto em relação aos stakeholders, especialmente do cliente.
3. Atolar em serviços operacionais:
a. Atente-se para a visão estratégica do projeto. Imagine que você esteja sobrevoando a floresta amazônica. Sua visão será de um lindo tapete verde. Sob a ótica do GP, é fundamental enxergar a floresta e não as árvores, com seus troncos. É lamentável quando o gerente de projetos está a maior parte do tempo mergulhado com questões técnico-operacionais
4. Centralizar todo o conhecimento do projeto:
a. Compartilhe ações e consulte a equipe antes das decisões, pois é, no mínimo, estranho agir isoladamente.
b. Seja um comunicador habilidoso. Você não precisa saber tudo.
c. Explore a multidisciplinaridade dos conhecimentos, habilidades e atitudes da equipe em prol do projeto.
5. Monopolizar os créditos das conquistas e atribuir à equipe as responsabilidades dos erros:
a. Deixe claro aos stakeholders que você preza pela excelência em todas etapas do trabalho, seguindo a conformidade exigida. Entretanto, nunca deixe de agradecer e reconhecer o bom trabalho. É bom ser bom. Ser justo também.
b. Evite acareações entre membros da equipe no seu projeto. O joguinho da culpa funciona bem na 4ª série do ensino fundamental. Num ambiente de projetos é desnecessário, humilhante e desmotivador.
c. Apresente soluções para resolver os problemas, não desculpas.
6. Ser pessimista voraz e o otimista insano:
a. Aponte solução para as dificuldades e problemas. Seja otimista. Problemas e dificuldades serão solucionados através de planejamento, estratégia e ação. O pessimismo contamina o projeto e as pessoas que o circundam. Na absoluta maioria das vezes, o pessimista tem a posição hermética e se fecha às possíveis soluções. Já o otimista insano, acredita que tudo dará certo no final e se furta a dispender esforços para a busca das soluções. Nem tanto o céu, nem tanto a terra.
b. Use as técnicas PERT/CPM e/ou gerenciamento de riscos, quando o projeto estiver contaminado pelo pessimismo, visando buscar, juntos, as soluções com base em possibilidades de ação no cenário pessimista, otimista e mais provável. Já no gerenciamento de riscos, deixe a equipe exercitar o grau de pessimismo e otimismo, indicando a severidade do problema, através da técnica de quantificar a probabilidade e impacto dos incidentes acontecerem. Sempre dá certo!
7. Deixar o projeto rolar:
a. Gerencie o projeto. Durante toda minha carreira de gerente de projetos, presenciei pouquíssimas sabotagens nos mesmos. Infelizmente, vi muitos projetos indo para o buraco por falta de gerenciamento. Se um dia der uma louca no GP e ele quiser direcionar o projeto para o fracasso, na verdade, ele não precisa gastar tempo sabotando-o, basta deixar rolar sem comando, ou seja, sem acompanhamento.
O universo da gestão de projetos é desafiador. O fracasso não é incomum e sofre muito quem não reconhece essa realidade. Gerentes iniciantes, que não lidam bem com isso, até desistem. É imprescindível desenvolver habilidades para aprender e crescer com as derrotas e, nunca, acomodar-se com as vitórias!!!
Sobre o Colunista: Maurício Abe, Msc, PMP, Prince Foundation. Mestre em Gestão do Conhecimento e Tecnologia da Informação pela Universidade Católica de Brasília (UCB), engenheiro de software pela UCB e graduado em Sistemas de Informação (UCB). Com 11 anos de experiência na área de gestão de projetos de tecnologia da informação com larga atuação em desenvolvimento de software. Possui certificações PMP e Prince2 Foundation. Atua como Especialista em Gerenciamento de Projetos no Sistema de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON) – Projeto do Exército Brasileiro. É Docente no MBA de gerenciamento de projetos da UCB e Coordenador do Curso de Sistemas de Informação da Faculdade Evangélica de Brasília. Eleito o voluntário no ano de 2014 pelo PMI-DF. Foi diretor de Comunicação e Marketing do PMI-DF, mantenedor do blog de gerenciamento de projetos: À Procura do Projeto Perfeito. Com oito anos de experiência internacional no Japão.
E-mail para contato: mauricio@tecnologiaprime.com – Blog: http://blog.tecnologiaprime.com/blog
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