Publicado em 24/11/2016
Há um real desinteresse da sociedade em discutir os problemas que tem afetado o mercado de trabalho e a economia do País, parece que sonhamos em acordar um dia deste pesadelo e encontrar tudo resolvido. Tenho uma longa história pessoal de discordância e descrença no “Capitalismo de Estado”, desde o período que este era o padrão durante o regime militar.
Atuo na área de engenharia de projetos desde o distante ano de 1973, mas a minha vida profissional de fato se iniciou no ano de 1965 quando antes de completar 13 anos de idade comecei a trabalhar em tempo integral, morava em Nova Iguaçu e trabalhava no centro da cidade do Rio de Janeiro. Estudei a noite em colégio público até prestar vestibular e ser aprovado para a Escola de Engenharia da UFRJ, durante todo o período da Universidade compatibilizei os estudos com trabalho em projetos de engenharia. Quando conclui o curso já tinha participado do início ao fim de um grande projeto na área petroquímica (Pronor – Camaçari), esta era a minha situação e de muitos outros colegas num período em que não havia credito educativo, cotas ou outro tipo de ajuda social para o estudante pobre.
No primeiro mundo, pessoas com o meu perfil tem uma denominação especial e são muito valorizados, somos os “Scrappers”.
Mesmo com todos obstáculos que a vida me proporcionou a vencer, sempre tive opiniões fortes sobre temas políticos e econômicos e aversão profunda ao capitalismo de Estado vigente a época de ouro da ditadura militar, que deu errado e para nossa desgraça foi repetido nos últimos 13 anos com resultados iguais.
Ao final do curso de engenharia, me candidatei para trabalhar na Petrobrás, fiz o concurso PB Cemant, fui aprovado mas não me interessei pelo emprego por razões que dariam outro artigo, estaria aposentado pela Petrobras agora como a maioria dos meus colegas da turma de Engenharia Mecânica -UFRJ , 1977, troquei o emprego único com estabilidade por todo o risco que é ser empregado em empresa privada no Brasil. A opção escolhida me proporcionou uma profícua carreira tendo trabalhado com sucesso em mais de metade dos Estados do Brasil em projetos de grande alcance econômico e social, não tenho nenhum arrependimento da decisão tomada.
O capitalismo de Estado teve momentos de glória durante o regime militar, tudo era concentrado em empresas estatais. Infraestrutura, energia, habitação, etc. A economia girava em torno do Estado as empresas tinham um único cliente, não havia preocupação com eficiência e produtividade pois um sistema de proteção do produto nacional garantia trabalho a todos não importava a que custo, as empreiteiras se transformaram em campeãs nacionais, tudo generosamente financiado com capital estrangeiro pois nós aqui nunca fomos muito de poupar. Não vou me alongar, mas o resultado foi que bastou uma crise de liquidez gestada pelo primeiro choque do petróleo para o modelo afundar e nos levar para uma brutal recessão e o que os historiadores econômicos chamam de “A Década Perdida”
Mesmo com esta fantástica lição aprendida, o governo populista instalado no Brasil a partir de 2003, teve a ousadia de copiar e ampliar o mesmo modelo, aproveitando se agora do boom das commodities e da enorme liquidez do mercado financeiro internacional para financiar seus delírios com emissão de dívida pública, o resultado do desequilíbrio financeiro resultante não podia ser outro pois remédios iguais sempre produzem os mesmos resultados,
“ Desordem econômica, falência de empresas por falta de contratos com o único cliente, desemprego em massa”, e como da vez anterior afetando só aqueles que não estão sob a proteção das tetas do Estado.
Neste momento em que se tenta mais uma vez fazer reformas mínimas que permitam a saída desta crise que afeta a todos nós que sustentamos o Estado, feudos que parasitam neste caos e precisam dele para sobreviver procuram ferozmente desqualificar a participação do capital privado na exploração de petróleo em particular do Pre-sal como se não houvesse vida inteligente fora do ambiente Petrobrás.
Não custa lembrar que o conceito de empresa útil a sociedade está vinculada aos benefícios transferidos para esta, principalmente através do pagamento de impostos que chegam ao exorbitante índice de 35% do PIB no Brasil. Para ilustrar meu ponto de vista recorro a uma velha história atribuída ao Governador de São Paulo na década de 1950 “Ademar de Barros”.
Chamado de desonesto em um comício, tirou do bolso esquerdo do paletó uma nota de um cruzeiro e do bolso direito outra nota igual. Em seguida perguntou qual é a diferença entre estas notas, a resposta do público como era de se esperar foi “Nenhuma”. Ademar então apontou para a nota que estava na mão esquerda e disse, esta é roubada e a outra foi ganha honestamente, e vocês confirmam que é tudo igual. Uso a história para ilustrar um ponto chave da questão dos benefícios sociais da produção de petróleo.
” O benefício gerado pela Petrobrás na exploração de petróleo se esgota no pagamento de royalties e impostos. Quando uma empresa privada explora petróleo, ela paga os mesmos royalties e impostos que a Petrobrás, portanto voltando a história “Aonde está a diferença?” Qual a razão de se acreditar que o imposto pago por uma empresa privada é diferente do pago por uma empresa estatal?
Até quando irão abusar de nossa paciência e defender um modelo que é inviável para um país com a extensão territorial e costa marítima do tamanho da do Brasil? Tecnicamente é impossível explora o petróleo do Pre-sal sem ter uma base de apoio e escoamento de produção na costa brasileira, portanto não há como o Estado perder o controle. Porque somente os funcionários estatais tem direito a um emprego digno?
Algum funcionário público com estabilidade no emprego já parou para quantificar o tamanho do prejuízo que o Brasil tem quando milhões de brasileiros qualificados e em idade ativa estão sem produzir e sem pagar impostos, que aliás são necessários para pagar o seu salário? Será que eles acreditam que esta história pode ter final feliz para eles?
Quando olhamos para o modelo dos Estados Unidos e outros países que tiveram desafios semelhantes aos nossos, vemos que a liberação das atividades para a iniciativa privada gera resultados fantásticos, criando uma cadeia de milhares de empresas e milhões de empregos, deixando para o Estado o que realmente interessa a população “Educação e Saúde” ao invés da política de conteúdo local para um único fornecedor teremos os benefícios do ganho de escala para uma cadeia imensa de fornecedores,
Como conseguem convencer a população que um Estado que arrecada o equivalente a 35% de tudo que é produzido no Brasil, com risco zero, precisa pegar parte deste dinheiro para montar empresas monopolistas, ineficientes e deficitárias e como sabemos agora corruptas. Não podemos ficar calados neste debate em que uma minoria nos enfia goela abaixo um modelo econômico que só beneficia a eles, somos nós que precisamos ir para a rua e gritar “Basta”, chega de repetirmos os mesmos erros, precisamos modernizar este pais e como mostra o meu exemplo pessoal acreditar que “Existe vida inteligente fora do Estado” , também podemos crescer profissionalmente e prosperar fora da corporação, não é aceitável que a única esperança de nossos jovens seja obter um emprego público, eles merecem um horizonte maior. Como o Brasil irá sobreviver sem empreendedores?
Concluo pedindo que sejamos firmes na defesa de nossos direitos, se engajando na luta contra esta praga que destrói o nosso futuro ” O Capitalismo de Estado”.
Na década perdida os salários pagos pela Petrobras também afundaram, ninguém ganha com o caos. E quanto ao dinheiro roubado pelo Ademar, só a Dilma e o Pimentel sabem aonde ele foi parar.
Sobre o colunista:
Franz Josef Kaltner, Diretor Técnico da “Bioenergia Consultoria de Engenharia Ltda. Responsável técnico na implantação de empreendimentos industriais em 15 (quinze) Estados do Brasil, nas áreas de petróleo, energia, mineração, alimentos, fontes renováveis, etc. Especializações: Gerenciamento de equipes, programas de treinamento focados em processos de trabalho, qualidade e produtividade, formação de novos profissionais e mentoring em programas trainee. E-mail de contato: fjkaltner@uol.com.br.
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