Publicado em 03/02/2014
Um fator pouco discutido, mas que tem apresentado grande impacto no gerenciamento de determinados projetos é a terceirização de mão de obra. Graças a uma corrente da administração que defende a valorização dos pontos fortes da organização e terceirização dos fracos, ela se tornou muito comum e são raras as empresa que atualmente não utilizam.
Apesar de isso funcionar muito bem para determinadas atividades, como logística ou segurança patrimonial, nem sempre trás bons resultados para casos que exigem maior experiência com os procedimentos da organização ou conhecimento profundo de seus processos e diretrizes.
Na construção civil essa questão se faz notável. Quase todas as atividades precisam ser aprimoradas constantemente devido ao impacto que possuem sobre o todo. Isso só é possível através do acúmulo e aplicação de experiências nos próximos projetos, o que em diversos casos é inviabilizado pela troca constante de fornecedores de serviços que englobam atividades técnicas.
Exemplos negativos da terceirização
Uma das principais atividades que as empresas vêm terceirizando é a confecção de projetos. Muitas vezes a organização domina a etapa produtiva de execução, porém não possui a estrutura e o quadro de funcionários ideal para elaborar da edificação.
Isso é preocupante, visto que uma das atividades mais críticas na construção civil diz respeito à leitura, interpretação e compatibilização dos projetos. De tal forma, é essencial que além de conhecer as particularidades do projetista com o qual se trabalha, identifique os pontos de discrepância entre os trabalhos entregues. Um exemplo clássico é a associação entre projetos arquitetônicos e estruturais, que em certos casos leva um a inviabilizar o outro.
Outro exemplo é a confecção de cronogramas. Essa é uma tarefa na qual as lições aprendidas tem especial impacto, visto que nem sempre produtividades e dados teóricos refletem a realidade de um projeto. Além disso, a cultura da organização, muitas vezes define a forma como o planejamento da obra e seu cronograma são encarados. Sendo assim, terceirizar tal função, sem que a empresa responsável tenha conhecimentos consistentes sobre projetos anteriores pode levar à geração de um documento fora da realidade.
O mesmo é válido para qualquer atividade técnica que dependa de conhecimentos teóricos associados à experiência. Não há garantia de que a organização terceirizada saberá o caminho certo para lidar com determinadas questões do projeto e isso pode trazer mais problemas do que soluções. Mas isso não quer dizer que a terceirização não possa ser feita.
Terceirizando de forma consciente
Terceirizar elimina um trabalho, mas provoca outro, o de fiscalizar. Jamais se deve utilizá-la sem que aja uma estrutura apropriada para monitorar e controlar as atividades desenvolvidas, bem como os resultados alcançados. Isso depende de três fatores principais:
- Comunicação: A organização terceirizada deve possuir contato direto com a contratante para tirar quaisquer dúvidas e informar questões que julgar pertinentes. Um meio formal deve ser estabelecido e precisa ser claro e direto.
- Períodos de controle: Devem-se estipular períodos para coleta de informações e relatórios sobre as atividades desenvolvidas pela terceirizada. Isso ajuda a manter o controle sobre os resultados alcançados e permite o alinhamento das necessidades do projeto com o trabalho entregue.
- Esclarecendo as necessidades: Outro fator essencial para alcançar sucesso com a terceirização é deixar clara a necessidade do projeto que deverá ser atendida. Muitas vezes, por falta de explanação do escopo, ocorrem divergências que só são identificadas após o início das atividades, provocando retrabalho e, consequentemente, prejuízo.
- Preparando o fornecedor para a demanda real: Existem diversos casos nos quais organizações decidem terceirizar determinada atividade e fecham contratos gigantescos de empreitada. Daí, durante a execução das atividades, a necessidade muda e é reduzida a quantidade do serviço solicitado inicialmente à empresa terceirizada, que já mobilizou seus recursos para atuação naquele projeto. Essa questão entra no gerenciamento de partes interessadas e deve ser analisada com todo cuidado, visto que além da insatisfação do fornecedor, pode provocar pleitos judiciais.
A terceirização e a saúde do projeto
As atividades terceirizadas e diretas devem estar em perfeita harmonia
Terceirizar, como mostrado, é uma questão delicada. Não adianta esperar que seja apenas entregar uma atividade na mão de outra organização e receber o resultado exatamente como solicitado e dentro do prazo. É preciso cobrar e estabelecer um relacionamento com o fornecedor para garantir a satisfação dos dois lados.
Apesar de, em muitos casos, trazer ótimos resultados, nem sempre terceirizar uma atividade será o melhor caminho. Mas se for á única opção ou a mais viável, a contratante deve encontrar meios de fazer com que a contratada absorva a cultura e as diretrizes de trabalho exigidas.
Não adianta terceirizar uma atividade se os métodos de trabalho ou os resultados obtidos descaracterizarão a organização responsável pelo projeto. A grande sacada é estabelecer meios para que a terceirizada desenvolva seu trabalho dentro do perfil esperado, com soluções e entregas condizentes com o restante das atividades.
Referências:
PMI – A Guide to the project management body of knowledge (PMBOK© Guide) – Fifth edition, 2012.
Sobre o Colunista: Bruno Augusto, estudante do Curso de Engenharia de Produção Civil no CEFET MG. Trabalha há 3 anos como Assistente de Engenharia em Planejamento e Controle de obras de galpões industriais, na empresa SGO construções. Na área de construção, também já atuou com controle tecnológico de concreto e execução de obras prediais. Técnico em Química formado pelo CEFET MG, trabalhou por 1 ano e meio como Inspetor de qualidade em uma indústria da Coca Cola Company. Criador e idealizador do blog A Engenharia em Foco: http://aengenhariaemfoco.blogspot.com.br.
E-mail de contato: brunosilva.civil@gmail.com
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