Publicado em 02/03/2016
Com o início oficial do ano de 2016 dia 15 de fevereiro, é hora de debater o que queremos para o Brasil. O pais que foi devastado pelo sonho de se tornar uma potência petrolífera quando o ciclo de petróleo está caminhando para o fim, colocando todas as fichas disponíveis no petróleo do pre-sal, ignorando as mais elementares lições aprendidas, sem nenhuma avaliação de risco, transferindo bilhões e bilhões em dívida pública para as atividades da Petrobras e periferia tendo como consequência o desmonte da indústria nacional e também do setor de serviços de engenharia, é hora de começarmos a se preocupar em como sair desta situação.
O período 2010 -2020, tinha tudo para ser uma época gloriosa para o Brasil, neste período estamos atingindo o fenômeno conhecido como “pico do bônus demográfico”, a relação entre população econômica ativa e não ativa atinge o máximo, isto é, será o período da história em que teremos a menor percentagem de crianças e idosos em comparação com pessoas em condições de trabalhar. Todos os países que conseguiram superar seus problemas deram saltos monumentais nestes anos em que há mais pessoas disponíveis para trabalhar e a pressão dos benefícios sociais e teoricamente menor.
E neste período em que há um grande contingente de pessoas chegando ao mercado de trabalho e, portanto, para se obter o benefício é preciso gerar empregos para todo este contingente que está chegando.
No caso do Brasil há necessidade de criar 1,5 milhões de empregos novos por ano no período que vai de 2010 até 2020, isto permitiria um enorme incremento do PIB e consequentemente maior disponibilidade de recursos e possibilidade de melhorar os programas sociais de redução da desigualdade. Mas como está a economia neste momento único?
Exatamente agora no ano de 2016, o Brasil enfrenta a mais brutal recessão de sua história recente, mais de 1,5 milhões de empregos foram perdidos no ano de 2015,a geração de empregos nos anos anteriores foi pífia, já há mais de 10 milhões de desempregados nas estatísticas oficiais e há previsão de perda adicional de mais 1 milhão este ano, a taxa de desemprego beira os 10%, temos um grande passivo a recuperar além da necessidade de geração de mais 7,5 milhões de empregos adicionais até 2020, isso faz com que a dádiva do bônus populacional vá se transformado em pesadelo, se nada mudar teremos um volume de desempregados de tal ordem que não haverá paz social e também estaremos comprometendo de forma irreversível o sistema de previdência do pais.
A crise no mercado de trabalho se manifestou com força a partir do ano de 2015, mas era previsível já em 2012 quando começaram a escassear as contratações de novos projetos de engenharia em um processo que culminou com a desestruturação completa do setor produtivo “Engenharia Consultiva” ou como preferirem Setor de Projetos de Engenharia.
Elaboração de projetos de engenharia de qualidade é requisito básico para fazer investimentos respeitando os custos e prazos estimados, facilita também o controle do empreendimento tornando mais difícil o desvio de recursos, é requisito mínimo para a retomada de crescimento. E o que isto tem isso a ver com o momento atual?
Como sobrevivente da crise dos anos 80 posso afirmar que só haverá crescimento significativo da economia 2 anos após a volta desta atividade ao normal pois este e o prazo necessário para a execução das diversas etapas de um projeto, definição da fonte financiadora e licitação. Não importa se o investimento e público ou privado mas não há como tomar uma decisão de investimento sem projeto, por isso causa estranheza que mesmo sabendo que há um grande debate na tentativa de resolver a crise ética, política e fiscal do Estado acontecendo nos foros adequados para isso ( Executivo, Legislativo ,Judiciário e Sociedade organizada ) ao contrário das crises anteriores, nenhuma voz se escuta das entidade de classe dos engenheiros e técnicos de engenharia, seja sindicato patronal ou de empregados, conselhos regionais e federais, etc. Reina o silencio absoluto sobre o tema enquanto o nível de desemprego setorial beira os 100%, isto e uma tragédia pois esta atividade econômica essencial para o desenvolvimento do pais caminha para o mesmo trágico final da grande recessão dos anos 80.
Os sintomas de que temos tudo para repetir o desastre já estão postos, os profissionais mais antigos tão necessários para transmitir conhecimento estão se aposentando ou desistindo da profissão, os jovens que foram treinados e qualificados a um custo altíssimo nos últimos anos só pensam em emigrar, parece terem desistido do pais, se isso se confirmar, será um enorme retrocesso.
Em breve não teremos mais engenheiros qualificados dispostos a abraçar esta causa e aí sim estaremos no pior dos mundos pois estaremos condenados ao subdesenvolvimento eterno.
Apesar de todos os problemas e o pessimismo com o caos atual, não podemos desanimar, precisamos sair desta inercia, o Brasil não vai acabar e por isso precisamos olhar para o futuro, divulgar a importância estratégica de nossa atividade e apresentar propostas para sair desta situação, propor soluções, novos modelos de negócios, modernizar os processos de trabalho para ganhar eficiência, não dá para esperar que os advogados resolvam isso para nós.
O Brasil precisa gerar 20 milhões de postos novos de trabalho nos próximos 10 anos e nós engenheiros de projeto somos parte da solução e nosso desafio é apresentar propostas concretas para a sociedade. Precisamos iniciar para valer as discussões sobre o futuro, a sociedade precisa estar consciente do risco de retrocesso tecnológico que o pais corre, não podemos permitir calados que se destrua o capital humano formado com muito esforço ao longo destes anos. Ao contrário dos países do primeiro mundo, aqui tudo ainda está por construir e não faz o menor sentido a recessão pela qual estamos passando.
E hora de lutar pelo desmonte do capitalismo de Estado, de dar um basta a tolerância com a corrupção e desperdício de dinheiro público, não aceitar mais viver em um pais onde nenhum serviço público (com exceção da arrecadação de impostos e emissão de multas pecuniárias) funciona.
E hora de ir para as ruas para mostrar que somos mais importantes para o País do que estes vigaristas que transformaram a miséria da população em meio de vida, não aceitar mais aumento indiscriminado de impostos sem a reforma do Estado. Basta, a luta é de todos nós, não temos mais praticamente nada a perder, além da nossa dignidade
Sobre o colunista: Franz Josef Kaltner, Diretor Técnico da “Bioenergia Consultoria de Engenharia Ltda. Responsável técnico na implantação de empreendimentos industriais em 15 (quinze) Estados do Brasil, nas áreas de petróleo, energia, mineração, alimentos, fontes renováveis, etc. Especializações: Gerenciamento de equipes, programas de treinamento focados em processos de trabalho, qualidade e produtividade, formação de novos profissionais e mentoring em programas trainee.
E-mail de contato: fjkaltner@uol.com.br
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