Publicado em 14/09/2013
Todos os profissionais de Arquitetura, Engenharia e Construção, ao utilizarem a tecnologia BIM em seus empreendimentos, poderão trabalhar simultaneamente em um mesmo arquivo eletrônico e obter grandes benefícios através disso.
O uso da tecnologia BIM (Building Information Modeling ou Modelagem de Informação da Construção) em uma plataforma colaborativa permite a formação de um banco de dados do objeto de projeto em um mesmo arquivo eletrônico (modelo virtual), que é acessível às equipes envolvidas em todas as fases da cadeia produtiva da construção civil e industrial (planejamento, projeto, orçamento, construção, suprimentos, comissionamento, operação, manutenção, etc.). O BIM pode representar um grande salto qualitativo para esses empreendimentos, desde que seja devidamente adotado.
Fonte: Adaptado de http://buildipedia.com
Desde a década de 70 há estudos sobre o BIM, ainda que naquela época não existisse esse termo. No entanto, só recentemente, com avanços na tecnologia de memória, velocidade e processamento dos computadores e da computação “em nuvem” da internet e dispositivos móveis, foi possível obter maior eficiência na aplicação dos conceitos, que são diversos e não se restringem apenas à utilização de softwares específicos, visto que é imprescindível uma mudança na forma de projetar.
Em resumo, é uma tecnologia que permite o modelamento virtual de um objeto com todas as suas características (geométricas e não-geométricas) que, ao serem agrupadas, facilitam o gerenciamento, projeto, construção, operação e manutenção desse objeto por todos os agentes envolvidos no processo.
Figura 2: O modelo compartilhado na plataforma BIM
Fonte: Adaptado de NEDERVEEN, BEHESHTI e GHELINGH (2010) apud MANZIONE (2013).
A adoção da tecnologia BIM no setor AEC (Arquitetura, Engenharia e Construção) é uma realidade em diversos países, inclusive no Brasil – apesar de incipiente – e não deve ser considerada um “modismo”. Porém, representa uma grande ruptura na forma de projetar, ainda maior que a transição que houve dos projetos feitos “na prancheta” para os softwares CAD (Computer Aided Design ou Desenho Auxiliado por Computador), que mantiveram a lógica dos projetos bidimensionais e, a partir de então, passaram a ser elaborados por novas ferramentas de desenho. Isso, de fato, trouxe mais agilidade à elaboração de projetos. Entretanto, o processo tradicional foi mantido e, com isso, todas as suas deficiências, principalmente o que se refere à compatibilização das especialidades e as falhas de comunicação entre os agentes.
O BIM reflete um novo estágio na elaboração e condução de projetos e não deve ser confundido como mais uma ferramenta de modelagem em 3D. Na verdade, a sua adoção representa um novo paradigma de trabalho, em que a colaboração entre os projetistas, especialistas, clientes, fornecedores, etc. deve ser constante e atuante em todas as fases de um empreendimento. Tem como fio-condutor um modelo virtual 3D da edificação, resultado do esforço compartilhado e simultâneo de todos os agentes responsáveis por sua elaboração através de uma plataforma composta de softwares especializados e interoperáveis. Esse “ambiente” é o diferencial do processo tradicional de projeto 2D. Além disso, o modelo virtual, muito mais do que uma simples representação tridimensional de um projeto, integra o conjunto de diversos objetos que, isoladamente, estão carregados de informações que lhes são atribuídas durante a modelagem, daí o termo Modelagem de Informação.
Como exemplo, observa-se abaixo a forma de representação de uma parede no processo tradicional 2D, em apresentação 3D e no processo de modelagem BIM:
Figura 3: Representações de objetos nas diferentes tecnologias CAD e BIM
Fontes: Adaptado de http://www.aulascad.com.
Softwares da tecnologia BIM
Tabela 1: Alguns Softwares BIM
Benefícios da tecnologia BIM
Entre os muitos benefícios da tecnologia BIM, pode-se destacar a facilidade de compatibilização de projetos e a geração de listas de materiais para subsidiar a elaboração de orçamentos, ou seja, características relacionadas à qualidade.
Em um cenário ideal, os projetistas das diversas disciplinas poderão trabalhar de forma colaborativa ao utilizar o modelo central, que será constantemente atualizado e compatibilizado através de softwares que permitem fazer a detecção automática de interferências geométricas entre as disciplinas e até mesmo de caráter normativo, reduzindo assim os riscos e, posteriormente, problemas que poderão surgir no canteiro de obras. É importante destacar também que, ao trabalhar no ambiente BIM, qualquer alteração no modelo acarretará uma atualização automática nas pranchas que forem emitidas, evitando erro nas revisões de todas as disciplinas envolvidas. É um panorama bem diferente do atual, onde cada especialista trabalha de forma independente e o processo de compatibilização está sujeito a muitas falhas, principalmente por deficiências na comunicação.
A geração automática de listas de materiais, característica importante para área de planejamento e orçamento de empreendimentos do setor AEC, é possibilitada através da interoperabilidade com softwares específicos, que também reduzem significativamente os erros no levantamento de quantitativos e garantem mais segurança na tomada de decisões.
Por fim, é importante destacar a comunicação com o cliente, outro grande benefício do BIM, uma vez que um modelo tridimensional permite uma melhor visualização do projeto e, por consequência, atendimento às expectativas e àquilo que foi determinado no escopo.
Exemplos de Projetos com tecnologia BIM
Usina Hidrelétrica de Ituango – Colômbia
Figura 4: Usina Hidrelétrica de Ituango – Colômbia
O empreendimento é de responsabilidade de um Consórcio Privado com implantação no Rio Cauca, a 180 Km de Medelín, Colômbia. A previsão é que ela seja capaz de gerar 2400 MW (megawatts) quando operar em sua capacidade máxima e o prazo para o início de suas atividades é 2018. No pico da obra, o projeto precisará de cinco mil profissionais. Todo o projeto é executado com um conjunto de softwares que utilizam a tecnologia BIM, interligados com outros programas. O conjunto permite gerenciar os diferentes sistemas integrados ao tempo e custo da obra.
Figura 5: Mina Serra Azul – Minas Gerais
A expansão da Unidade Serra Azul localizada no Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, ocupa uma área pertencente a três municípios: Igarapé, São Joaquim de Bicas e Brumadinho. A previsão é que a produção poderá chegar a 29 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. O projeto prevê a construção da nova usina de beneficiamento, um mineroduto com aproximadamente sete quilômetros, linhas de transmissão de energia, pátio e terminal ferroviários e prédios administrativos. Todos os documentos são gerados com o auxílio de softwares que utilizam a tecnologia BIM.
Bibliografia:
- DORNELAS, Ramon L. A Tecnologia BIM e o Gerenciamento da Integração: Uma Proposta Colaborativa. 2012. Artigo – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte.
- MANZIONE, L. Proposição de uma Estrutura Conceitual de Gestão do Processo de Projeto Colaborativo com o uso do BIM. 2013. 353p. Tese (Doutorado) – Escola Politécnica de Universidade de São Paulo, São Paulo.
- MMX. O Projeto. Disponível em: <http://www.mmx.com.br/pt/nossos-negocios/serra-azul/Paginas/o-projeto.aspx>. Acesso em 08 set. 2013.
- SALLES, Carlos C. Uso do BIM em Projetos de Infraestrutura. Abril, 2013. Disponível em: <http://communities.autodesk.com/brazil/uploads/aubr-2012/AUBR2012_33_Apostila.pdf>. Acesso em 08 set. 2013.
- STEHLING, Miguel P. A Utilização de Modelagem da Informação da Construção em Empresas de Arquitetura e Engenharia de Belo Horizonte. 2012. 165p. Tese (Mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
Sobre a Autora:
Raquel Verdolin é Arquiteta e Urbanista, Especialista em Engenharia de Planejamento, cursando MBA em Gestão de Projetos. Atua no mercado desde 2000 com desenvolvimento, aprovação e regularização de projetos arquitetônicos de imóveis residenciais, comerciais e de assentamentos espontâneos e elaboração de projetos de design de interiores. E-mail de contato: rverdolin@yahoo.com.br
Sobre o Autor:
Ramon Dornelas é formado em Arquitetura e Urbanismo pela UFRJ e especialista em Gestão de Projetos de Engenharia pela PUC Minas. Atualmente trabalha como arquiteto supervisor de contratos e projetos de edificações públicas municipais da SUDECAP em Belo Horizonte/MG. E-mail de contato: rldornelas@hotmail.com
Sobre o orientador:
Ítalo Coutinho é formado em Engenharia Industrial Mecânica, Especialista em Gestão de Projetos e Mestre em Administração de Empresas. Gerente de Projetos e Engenharia da Saletto Engenharia. Coordenador e Professor de Cursos de Pós nas áreas de Engenharia de Planejamento, Gestão de Projetos de Construção e Montagem e Engenharia de Custos e Orçamentos. E-mail de contato: contato@italonaweb.com.br / facebook.com/italonaweb
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Este artigo me chamou atenção, pois trata-se de uma tecnologia inovadora de gerenciar projetos que tem como objetivo principal de aumentar a colaboração dentro das equipes de projeto, o que levará a melhoria da rentabilidade, redução de custos, melhor gestão do tempo e relacionamentos com clientes. Tendo os dados e as informações obtidos através de softwares específicos, a possibilidade de se ter a compreensão do empreendimento é mais real, das etapas ou disciplinas envolvidas (estrutura, hidráulica, elétrica, prevenção de incêndios, acessibilidade, etc), permitindo que todos os membros das equipes permaneçam coordenados, aprimorem a precisão, reduzam desperdícios e tomem decisões mais bem fundamentadas.