Publicado em 31/08/2015
Resumo
Para muitas organizações o gerenciamento de riscos é visto como uma atividade complementar, muito conceitual e teórica e longe da realidade dos seus negócios. Porém, um bom gerenciamento de riscos pode se tornar uma poderosa ferramenta de gestão, ajudando a avançar com mais rapidez e segurança em direção a um futuro com mais oportunidades, auxiliando na obtenção e ampliação dos objetivos e reduzindo as perdas em longo prazo.
Introdução
O gerenciamento de riscos como ferramenta de gestão além de proteger o valor atual dos negócios, também potencializa o valor futuro, auxiliando na qualidade da tomada de decisões, permitindo mais agilidade, custos reduzidos e melhor desempenho. Ela funciona como um radar que avisa com antecedência sobre os obstáculos ao longo do percurso, nos permitindo contorna-los a tempo.
No entanto, muitas organizações não reservam orçamento para o gerenciamento de riscos e outras não percebem os benefícios de seus investimentos na gestão de riscos, pois estes costumam ser executados de forma desconectada dos processos organizacionais.
A maioria das organizações direcionam seus esforços para os processos da cadeia de valor, como se estes estivessem restritos a um modelo de negócio estático no tempo, desta forma não consideram as transformações dos cenários o surgimento de outros que podem ameaçar o valor produzido por seus processos.
Os planejamentos são elaborados com base em premissas da Rede de Valores na ocasião em que este é desenvolvido. Após aprovação do planejamento, este é gravado como linha de base para fins de verificação e medição do desempenho da sua execução. Entretanto, para a maioria dos planejamentos, a Rede de Valores que forneceu as suas premissas, sofre mudanças ao longo do tempo, sem que os possíveis cenários sejam considerados na ocasião do planejamento e tão pouco acompanhados na execução do projeto.
As atividades de negócios estão cercadas de incertezas, ameaças e oportunidades que, se negligenciadas, podem distanciar os esforços da organização de seus objetivos originais. Sem a aplicação do gerenciamento de riscos como ferramenta de gestão, os desvios do rumo da organização em relação aos seus objetivos, passa desapercebido pela tripulação comprometida em seguir o planejamento pré-estabelecido.
Causa e Efeito
Grande parte dos riscos que acometem as organizações é derivada de falhas nos seus processos de gestão. Se considerarmos um projeto de construção como exemplo, podemos identificar os seguintes riscos, que se não forem tratados poderão vir a se tornar problemas no futuro:
- Entregas rejeitadas pelo cliente;
- Materiais ou equipamentos entregues antes da necessidade;
- Interrupções no negócio;
- Roubo de informações sigilosas;
- Hostilidade das comunidades vizinhas;
- Vazamento de produtos tóxicos em mananciais;
- Interdição das atividades por determinação da justiça;
- Especialista chave contratado pela concorrência;
Podemos observar que a maioria destes riscos pode ser evitada se os processos organizacionais incluíssem a gestão de risco como ferramenta de gestão. A aplicação da gestão de riscos pode identificar as causas e executar ações efetivas para a eliminação ou redução da probabilidade de ocorrência dos eventos de risco e a das consequências de suas ocorrências. Numa análise superficial dos eventos de riscos listados acima, podemos identificar as seguintes causas:
- As estacas não seriam rejeitadas se os procedimentos de qualidade e técnicas corretas tivessem sido adotados ao longo da execução das atividades;
- As entregas não teriam sido antecipadas caso houvesse um processo de planejamento eficaz;
- Os negócios não teriam sido interrompidos caso os principais indicadores estivessem sendo monitorados;
- As informações sigilosas não teriam sido roubadas se a politica e o sistema de segurança da informação estivessem atualizados;
- As comunidades vizinhas apoiariam o empreendimento se o processo de comunicação social contemplasse o monitoramento das necessidades das comunidades;
- Não haveria vazamento de produtos tóxicos se o processos de segurança e monitoramento dos direcionadores de risco ambiental funcionassem;
- As atividades não teriam sido interditadas se o processo de decisão contemplasse uma assessoria jurídica especializada;
- O especialista não teria ido para a concorrência caso os processos de RH incluíssem uma política para recursos críticos;
Como podemos observar, grande parte das causas citadas acima são devidas a falhas nos processos organizacionais e nas suas aplicações.
O gerenciamento de riscos como ferramenta de gestão nos fornece uma antevisão dos problemas que ainda não ocorreram, além de mostrar as possíveis causas e nos preparar com mais segurança para criar as soluções que poderão evitá-los no futuro.
Riscos Recorrentes
A análise de riscos, seja ela corporativa ou mesmo de projetos, nos permite identificar as falhas nos processos de gestão que se manifestam pela ausência de processos específicos para tratar a ocorrência dos riscos, quando estes vierem a ocorrem.
Algumas ferramentas de gerenciamento de riscos, tais como a análise SWOT, árvore de decisões, análise de causa e efeito (Ishikawa), entre outras, nos permite identificar e tratar as causas recorrentes de riscos.
Pela análise de riscos podemos perceber que muitos riscos são recorrentes devido a causas comuns, tais como:
- Demora na entrega de mercadorias por falha nos processos de suprimento e de planejamento;
- Insatisfação do cliente com a qualidade do produto por falha nos processos de produção;
- Perda de mercado para a concorrência por falha nos processos de marketing;
- Problemas com subcontratadas devido a processos de contratação;
O gerenciamento de riscos como ferramenta de gestão permite a identificação prévia dos riscos e o tratamento das suas causas através de melhorias antecipadas nos processos. Desta forma, não é necessário esperar que os problemas aconteçam para que sejam resolvidos.
Transformando Riscos em oportunidade
Outra contrapartida da aplicação do gerenciamento de riscos como ferramenta de gestão é podemos transformas as ameaças em oportunidades. Por exemplo, a ameaça de uma nova tecnologia a ser lançada pela concorrência pode nos criar a oportunidade de desenvolver uma tecnologia mais avançada, ou descobrirmos outros segmentos não atendidos pelas tecnologias existentes.
Uma falha nos processos de gestão pode nos forçar a sair da “zona de conforto” e buscar inovações que nos tragam um diferencial que agregue novo valor para os nossos clientes.
A identificação do risco de alterações no cenário tecnológico pode nos abrir a oportunidade para melhorar nossos serviços ou criar novos produtos.
A visão antecipada de que um determinado segmento de mercado pode desaparecer em razão de mudanças na legislação, fornece uma oportunidade para encerrar uma atividade e criar novos produtos ou serviços que atendam às necessidades do novo cenário.
Os riscos causados por chuvas pode nos conduzir a identificar novos produtos e tecnologias que nos permitam melhorias nos métodos construtivos em projetos de contratos EPC.
Conclusão
A gestão de riscos como ferramenta de gestão reduz as perdas futuras, mantém a organização alinhada e sincronizada com a dinâmica do mundo dos negócios, mantendo os processos de gestão antecipadamente atualizados.
A gestão de riscos como ferramenta de gestão não apenas fornece melhor proteção para a empresa e seus empreendimentos, como ainda melhora o desempenho dos negócios, a tomada de decisões e, por fim, a vantagem competitiva.
Finalmente, lembrando o refrão da música “As rosas não falam”, que sintetiza a essência do gerenciamento de riscos:
“Hei, vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.”
Geraldo Vandré
Sobre o Colunista: Carlos Alexandre Rech Lyra, PMP é Engenheiro eletrônico e analista de sistemas e passagem em empresas como Promon Engenharia, Siemens, Equitel, HP, Banco Nacional e outras. Com mais de 30 anos de experiência em consultoria e gerenciamento de projetos em empresas de grande e pequeno porte. Como consultou, atuou em empresas como Proderj, TJERJ, CET-RIO, URBS – Urbanização de Curitiba S.A. , TAUÁ Biomática, BRQ/IBM, Aurizônia/BroadWave, JF Produções, RDC—Republic Democratic of Congo, JAB Engª., Confed. Brasileira Associações Comerciais (CBAC), EMBRATEL. Professor de redes de computadores e gerencia de projetos em cursos de pós graduação, especialização e MBA em instituições de ensino como UVA, Estácio de Sá, IDEC. Coordenador da área de convênios do PMI-Rio e de equipes de voluntários na preparação de treinamentos para a formação de profissionais em gerência de projetos
E-mail de contato: alyra@prasys.com.br
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