Publicado em 09/02/2017
Resumo: Este artigo apresenta algumas características peculiares sobre o trabalho de gerenciamento de projetos em operadoras de planos de saúde. Para melhor localizar o leitor neste contexto, é preciso inseri-lo no ambiente de mercado da saúde suplementar, segmento dinâmico que movimenta grandes cifras e incorpora considerável evolução tecnológica ano a ano. Para fins didáticos, restringiremos essa análise ao cenário brasileiro.
Assim como na maioria dos mercados, a saúde atravessa um momento crítico, afetada pela crise econômica nacional. Alguns indicadores confirmam isso: queda do PIB, pressão inflacionária, juros elevados, desemprego, baixo nível de rendimento, entre outros. Além disso, em 2016 vivenciamos a epidemia das doenças derivadas do Zika vírus, aumento dos casos de AIDS nos adolescentes e retorno de doenças infecto contagiosas que já tinham sido erradicadas. Como se não fosse suficiente, o caos crônico da política brasileira deixou o mercado ainda mais instável. Tudo isso afetou a confiança dos empresários em voltar a investir, fator decisivo para estimular a economia e voltar a fazer o Brasil crescer.
Nessa esfera turbulenta, as operadoras de planos de saúde tiveram que administrar grandes desafios. Para se ter uma ideia, entre dez/15 e set/16 o setor já perdeu 1,1 milhões beneficiários de planos médico-hospitalares, o que representa uma queda de
-2,2% (fonte: ANS – TABNET – set/16). A queda do número de beneficiários faz diminuir a receita das operadoras, comprometendo o financiamento da saúde suplementar.
Outro grande desafio é controlar os custos da saúde. A inflação médica, calculada pelo Índice de Variação dos Custos Médico-Hospitalares (VCMH), é o mais importante indicador utilizado pelo mercado de saúde como referência sobre o comportamento de custos. O VCMH registrou em mar/16 uma alta de 19,3%, crescimento atribuído a incorporação tecnológica, envelhecimento populacional, inclusão de novos procedimentos no rol de atendimentos obrigatórios e maior utilização dos convênios. A título de comparação, a inflação geral do país, medida pelo IPCA, ficou em 9,4% no mesmo período, o que significa dizer que a inflação médica segue muito acima da inflação do país e pressiona os custos e margem do mercado de saúde.
Gestão de Projetos em Operadoras de Planos de Saúde
E onde os profissionais em gerenciamento de projetos estão inseridos nesse complexo universo? Diria que o papel do gerente de projetos (GP) é fundamental às organizações de saúde. Sabe-se que, em geral, o gerenciamento de projetos pode ser aplicado a qualquer situação onde exista um empreendimento que foge ao que é fixo e rotineiro na empresa e nas operadoras de saúde isso não é diferente. Porém, o tipo de negócio e características dos produtos relacionados a provimento de saúde e bem estar, por se tratar de cuidar da vida as pessoas, torna ainda maior a responsabilidade destes profissionais na condução de projetos e programas com esse escopo.
Vamos tentar entender um pouco mais sobre a rotina de trabalho do gerente de projetos nas organizações de saúde. Especificamente, os GPs se deparam com iniciativas cujo objetivos podem estar atrelados a criação de um novo produto ou serviço, como um plano de saúde com rede de atendimento restrita e preço mais atrativo voltado para a classe média; implantação de um novo modelo de atenção à saúde, contemplando a incorporação gradativa de novas formas de prestação de serviços e metodologias inovadoras de pagamento aos prestadores; instalação de equipamentos e criação de um novo serviço assistencial nos recursos próprios; certificar a operadora no Programa de Qualificação da ANS; entre outros. Pode-se comprovar que os projetos de saúde têm características variadas, podendo atender a propósitos de mercado, assistenciais, regulatórios e administrativos, não se limitando a isso.
Os projetos nas operadoras de saúde também se distinguem pelo perfil de seus stakeholders. Entre as partes interessadas tradicionais, tais como acionistas, clientes, fornecedores, sociedade, e não tradicionais, tais como órgãos regulatórios, poder público e sindicatos, existem muitos conflitos de interesse a serem gerenciados. Em algumas situações, por exemplo, o acionista da organização pode ora assumir um cargo de gestão, ora ser um prestador da rede credenciada e ora estar na condição de cliente, acumulando estes papéis. Caberá ao gerente de projetos gerenciar as relações humanas, de modo a manter o foco no objetivo central do projeto e não permitir que essas restrições conflitantes comprometam o mesmo.
Seguindo o mesmo nível de importância, outros aspectos como premissas, indicadores, processos, custos, pessoas, comunicação e riscos, guardam particularidades só observadas em projetos no segmento de operadoras médico-hospitalares. Qualquer gerente de projetos devidamente capacitado e munido de opinião especializada é capaz de conduzir projetos nesta área, mas o desempenho poderá ser ainda melhor se este profissional tiver amplo conhecimento sobre o mercado e expertise no segmento de saúde suplementar.
Referências:
- http://www.ans.gov.br/
- http://saudebusiness.com/
- Vargas, Ricardo Viana – Gerenciamento de projetos: estabelecendo diferenciais competitivos – 8ª Ed. – Rio de Janeiro: Brassport, 2016.
Sobre o Colunista:
Heitor Zamboni, Bacharel em Economia, MBA em Gerenciamento de Projetos e MBA em Logística Empresarial. Profissional executivo com sólida experiência nos processos de planejamento estratégico e gestão de projetos no mercado de saúde suplementar. Atuação como consultor empresarial e professor em cursos de pós-graduação. Associado ao Project Management Institute (PMI).
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