Publicado em 23/07/2014
Estouro de orçamentos em função de mau detalhamento de projeto
Resumo: Nos dias atuais é comum vermos orçamentos de projetos de engenharia e construção sofrerem estouros ao longo da vida de implantação do projeto. Estes estouros possuem várias causas, e uma delas é em função de elaboração de uma planilha de quantitativos e preços não condizentes com a realidade do projeto, e isto deve dentre outras coisas, o mau detalhamento do projeto na sua fase de planejamento. Este artigo tenta esclarecer a importância de se ter um bom detalhamento do projeto para que o orçamento do projeto seja coerente com a realidade executiva.
Introdução
A elaboração de um orçamento de um projeto de engenharia inicia com a montagem da PQP. Esta PQP ira relacionar todas as atividades que serão desenvolvidas durante a execução do projeto, e o mais importante, ela informará os quantitativos e suas respectivas unidades de medidas. Portanto, para elaboração de um orçamento, é necessário que o responsável tenha informações necessárias para sua elaboração.
Um projeto sempre se inicia com a elaboração de um anteprojeto, um projeto conceitual, o qual se resume em uma representação técnica da opção aprovada no estudo de viabilidade, apresentado em desenhos sumários, em número e escala suficientes para a perfeita compreensão da obra planejada, contemplando especificações técnicas, memorial descritivo e orçamento preliminar. Com este anteprojeto já é possível elaborar um orçamento preliminar, porém o nível de precisão desta estimativa não é muito confiável, podendo sofrer variações de até 20%. Normalmente, esta estimativa é realizada adotando-se índices de referência do mercado. Caso este orçamento preliminar seja aprovado, passa-se então para a próxima fase de elaboração do projeto, a elaboração do projeto básico.
De acordo com o IBEC, o projeto básico é o conjunto de desenhos, memoriais descritivos, especificações técnicas, cronogramas e demais elementos técnicos necessários e suficientes a precisa caracterização da obra a ser executada, elaborado com base em estudos anteriores que assegurem a viabilidade do empreendimento.
Com o projeto básico, já possível fazer o orçamento detalhado ou analítico, orçamento este que contempla os quantitativos de serviços apurados no projeto, e custos obtidos em composições de custos unitários com preços de insumos oriundos de tabelas referenciais ou de pesquisa de mercado relacionados ao mercado local, levando-se em conta o local, o porte e as peculiaridades de cada obra. A precisão deste orçamento é da ordem de 10%.
Após a aprovação do orçamento analítico, passe então para fase de elaboração do projeto executivo. Ainda de acordo com o IBEC, projete executivo é aquele que contempla o conjunto dos elementos necessários e suficientes à execução da obra. Com o projeto executivo, é possível realizar o orçamento detalhado, que se caracteriza por ser elaborado com base nas composições de custos unitários e extensa pesquisa de preços dos insumos, realizado a partir do projeto executivo. A precisão do orçamento detalhado é da ordem de 5%.
Para que não ocorram erros no momento da elaboração da planilha de quantidades e preços, é de extrema importância que se tenha um projeto bem detalhado, no qual seja possível identificar todos os serviços necessários para total implantação do projeto, caso contrário, a PQP corre o risco de ser mal elaborada, omitindo itens necessários a execução do projeto, e que vão levar ao estouro do orçamento na fase de implantação do projeto.
Ao se desenvolver um novo projeto, é muito importante que se tenha uma fase de planejamento muito bem elaborado no início do ciclo, é nessa fase que se deve fazer todo o detalhamento do projeto, elaboração de especificações técnicas, metodologias executivas a serem adotadas, pois, caso contrário, se for necessário fazer mudanças no projeto após o início da implantação do mesmo, estas mudanças irão gerar custos e estes por sua vez sofrem um aumento exponencialmente ao longo do tempo, conforme gráfico abaixo:
Gráfico 1: Custo das Alterações de Projeto
Portanto, para a elaboração de uma boa PQP, que reflita o custo real de implantação de um projeto, é muito importante que a equipe de projeto e engenharia realizem um bom planejamento e um bom detalhamento do projeto, pois caso contrário, teremos estouros no orçamento do projeto.
Planilhas de quantidades falhas irão gerar estouro do orçado
É sabido que o orçamento mal elaborado de um projeto de engenharia e construção é uma das causas de estouro de orçamentos.
No momento em que vive a economia do Brasil, com grandes empreendimentos de engenharia e construção sendo executados, tanto pela iniciativa privada, quanto pelo poder público, é importante que os técnicos da área de engenharia de custos, responsáveis pela elaboração dos orçamentos desses empreendimentos, não cometam erros na sua fase de elaboração do orçamento, caso contrário, o sucesso do projeto pode ser comprometido.
Em se tratando de empreendimentos públicos, a situação é ainda mais delicada, pois os recursos envolvidos nos empreendimentos são recursos públicos, oriundos de impostos pagos por contribuintes, e que por isso devem ser muito bem aplicados, evitando que os investimentos não sejam em vão.
Para se evitar este tipo de ocorrência muito comum, principalmente em projetos vultosos, é preciso adotar algumas premissas básicas para elaboração dos orçamentos, premissas essas que se forem seguidas podem levar a maior confiabilidade e valor justo ao orçamento elaborado.
Um erro muito comum na elaboração de uma planilha de quantidades e preços, PQP, é a omissão de itens necessários para total execução dos serviços e quantitativos de execução divergentes com a realidade encontrada “in site” no momento de execução dos serviços.
Muitas vezes estes erros ocorrem em função de falta de informações no momento de elaboração do orçamento. Esta falta de informação ocorre por falta de um projeto executivo bem detalhado, ou até mesmo por ausência de um projeto básico, o que leva a elaboração de um PQP falha, não condizente com a realidade encontrada em campo.
Em se tratando de planilhas de quantitativos mal elaborados, outras causas que geram o estouro do orçamento são: verificação de aumento de quantidade durante a execução do projeto sem observação da capacidade de produção seja do subcontratado já no projeto ou do próprio empreiteiro, situação que o leva a rever todos os insumos a serem alocados para aquele aumento utilizando custos novos para preços de venda antigos.
De acordo com o IBEC, Instituto Brasileiro de Engenharia de Custos, em sua orientação técnica OT-004/2013, para elaboração de um orçamento detalhado de uma obra é preciso que se disponha das informações necessárias, em grau de detalhamento suficiente, a fim de evitar a ocorrência de distorções ou acréscimos significativos nos quantitativos. Ainda de acordo com o IBEC, devem-se seguir os seguintes passos para uma boa elaboração de orçamento:
- Análise das condicionantes;
- Levantamento de quantidades;
- Cálculo do orçamento.
São referências adequadas os seguintes intervalos para fins de aferição do grau de precisão do orçamento nas diversas fases do projeto:
Quadro 1: Faixa de precisão esperada do custo estimado de uma obra em relação ao seu custo final.
Somente é possível seguir estes passos se o responsável pela elaboração do orçamento tiver de sua posse informações confiáveis, ou seja, um projeto bem detalhado, com todas as especificações do projeto, metodologias executivas e quantitativas reais. Somente assim será possível realizar um orçamento confiável e evitar estouros no orçamento ao longo da execução do projeto.
Conclusão:
Sendo assim concluímos que a melhor estratégia sempre é a prevenção. Uma engenharia detalhada bem desenvolvida leva a um orçamento mais fidedigno, exequível e atualizado com relação ao mercado construção civil e fabricação que vivemos atualmente.
Por isso, podemos dizer que o Engenheiro de Orçamentos ou Técnico de Orçamentos que não tiver as habilidades, conhecimentos e técnicas durante a elaboração dos levantamentos da PQP de atividades a serem executadas, não alcançará o sucesso. Então, cabe ao gerente da área guiar a sua equipe e aplicar a metodologia correta para garantir a conquista dos objetivos estabelecidos dentro dos parâmetros de qualidade determinados.
O orçamento a beira do estouro é um problema sério, mas um problema contornável desde que sejam utilizadas as iniciativas adequadas.
As ações apresentadas acima podem mitigar os efeitos negativos de uma engenharia falha em um projeto, recuperando sua viabilidade e garantindo a entrega dentro do orçamento planejado.
Referências
- https://pmkb.com.br/planejamento-ruim-causa-engenharia-ruim
- http://www.ibec.org.br
- http://www.ibraop.org.br
- Engenharia de Custos, uma metodologia de orçamentos para obras civis. Autor: Paulo Roberto Vilela Dias, 9ª edição.
Sobre os Autores:
Autor: Leonardo Ferreira; Eng. de Produção Civil graduado pela Universidade FUMEC. Pós graduado em Avaliações e Perícias de Engenharia pela PUC Minas / IBAPE. Atuante no ramo de patologias de estruturas de concreto, com experiência em gestão de contratos e orçamentos de obras. E-mail de contato: leo.fdasilva@hotmail.com.br.
Autor: Pedro Salles, Administrador de Empresas graduado pelo Centro Universitário Newton Paiva em 2009, MBA em Gestão de Projetos pelo Centro Universitário UNA. Atuação na área de construção civil desde 2009, trabalhando com orçamento, planejamento, controle e custos de obras pesadas. Atualmente atua com gestão dos Custos da Construção do Centro Cultural Itamar Franco – MG e construção da Sede da Radio Inconfidentes, empreendimento sendo construído pela Construtora OAS S/A e inscrito na Pós Graduação de Engenharia de Custos e Orçamento no Instituto de Educação Tecnológica – IETEC. E-mail de contato: phasalles@gmail.com.
Contexto: o presente trabalho é resultado de pesquisa realizada com alunos da 5ª turma de Pós em Engenharia de Custos e Orçamento do IETEC.
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