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O que as empresas centenárias podem nos ensinar

Publicado em 19/04/2018

Num Mundo em Mudança Constante, as Organizações Centenárias Conseguiram se Adaptar e Antecipar Tendências, Escrevendo Uma Sólida História Que Já Atravessa Um Século

Uma em cada quatro empresas abertas no Brasil fecham suas portas após 2 anos, segundo um estudo do SEBRAE. Se passar dos 2 anos é um desafio, imagine sobreviver por 1 século. Num mundo em que a palavra de ordem é mudança, as organizações que atingiram a maturidade dos 100 anos enfrentando crises, guerras e revoluções, servem de inspiração para aquelas que estão no começo dessa jornada. Mas, o que essas centenárias têm em comum?

“Manter a coerência entre o discurso e a prática”, diz Renato Bernhoeft, autor do livro “Empresas Brasileiras Centenárias”. Dessa forma, fazer valer no cotidiano o que pregam – como sua missão e valores – é o primeiro passo e talvez o mais difícil. Outro passo especialmente importante é planejar e agir no longo prazo, além de saber diferenciar inovação de modismos. Confira a seguir as lições de quem comenda algumas dessas corporações centenárias.

I. A Lição da IBM: Ser Capaz de se Reinventar

“Toda grande tecnologia muda o perfil de uma sociedade e, investir em inovação, apresenta riscos porque tudo o que é novo causa estranhamento. No começo, quando trouxemos nosso primeiro computador para o Brasil em 1959, houve resistência e incredulidade de sucesso.

Hoje, falamos em inteligência artificial para um cenário complexo, diversificado, com uma quantidade de dados que não temos capacidade de analisar. Então, obviamente, temos de enfrentar questionamentos válidos por parte da população e das empresas.

Mas, assim como fizemos antes, estamos constantemente nos reinventando e, para isso, é necessário sair da zona de conforto, o que por si só já é um grande desafio. Costumo dizer que conforto e crescimento não coexistem durante esse processo de transformação, pois nós lidamos com as mudanças culturais que ocorreram no país nos últimos anos.

Em 2004, por exemplo, a empresa adotou um programa que oferece aos casais homo afetivos o direito de incluir seu parceiro no plano de saúde, antes mesmo de a união estável homo afetiva ser reconhecida legalmente no Brasil e, hoje, a companhia já tem banheiros neutros para os funcionários. O segredo para ser uma empresa centenária e com a mente jovem, é manter-se firme num propósito e olhar sempre para o futuro” (Marcelo Porto – Presidente da IBM – Brasil)

II. A Lição do Sicredi: Criar um Vínculo Com a Comunidade

(A Primeira Cooperativa de Crédito Brasileira Surgiu em 1902, no Rio Grande do Sul, Com o Nome de Caixa Rural e, a Marca Sicredi, Acabou Sendo Adotada em 1992)

“Não nos distanciamos do ideal dos fundadores, que é o da de mútua e, a união em torno de uma causa, é um norte claro para a nossa atividade. Crédito tem a ver com risco e, por isso mesmo, é necessário construir todo dia uma relação de confiança com nossos públicos e desenvolver neles o espírito de colaboração.

Essa necessidade vai além de formar líderes aderentes a nossos valores e preparar sucessores que levem adiante nossa missão. Criamos vínculo com as comunidades para estimular nelas a mentalidade do fundador e, em consequência disso, investimos em cursos, palestras e programas para jovens, estudantes e mulheres – não só para os associados, mas também para familiares e interessados.

Temos parcerias com escolas para desenvolver atividades de cooperação e cidadania. Fazemos reuniões dos dirigentes do Sincredi com sócios, as quais são abertas a não sócios em todo o Brasil, a fim de prestar contas, responder a perguntas e ouvir sugestões. Isso gera pertencimento, que não é apenas um valor exibido na parede…….é uma das práticas que nos define” (Manfred Dasenbrock – Presidente do Sistema Sicredi)

III. A Lição da Siemens: Atuar Globalmente, Valorizando a Cultura Local

(Apesar de Ter Chegado ao Brasil em 1895 Com Representação Própria, a Companhia Alemã de Engenharia Só se Estabeleceu no País em 1905)

“O maior desafio de uma empresa centenária está em manter-se relevante e, para isso, é preciso antecipar as necessidades do mercado e incorporar a realidade local, estimulando o desenvolvimento de soluções próprias quando necessárias. A Siemens do Brasil é dirigida por brasileiros e eu sou o quarto CEO brasileiro da empresa e quase a totalidade da nossa diretoria é composta de profissionais nascidos aqui.

Somos uma empresa brasileira que faz parte de um conglomerado de origem alemã, mas acima de tudo, global. E isso nos beneficia muito, especialmente pelo conhecimento tecnológico. Um fator importante aqui na Siemens é a inserção de nossos funcionários na cadeia global da companhia. Temos mantido uma média histórica anual de pelo menos 60 brasileiros trabalhando em projetos internacionais ou em delegações em países como a Alemanha, Estados Unidos, Reino Unido, Emirados Árabes e China.

Também trazemos colegas dessas localidades para cá e, atualmente, temos cerca de 20 estrangeiros atuando no Brasil. A troca de experiência e a transferência de conhecimento são importantes, inclusive para manter nossa capacidade de inovação alta” (André Clark – Presidente da Siemens no Brasil)

IV. A Lição da Bayer: Diversificar Sem Perder o Foco

(As Operações da Empresa Química Alemã Chegaram ao Brasil em 1896 e, Em 1911, Ganharam Sede Própria)

“A Walt Lindt & Cia foi a primeira representante dos produtos Bayer a chegar ao Brasil. Em 1896 apenas sete anos depois da proclamação da República, o país foi um dos dez primeiros mercados em que a Bayer passou a atuar fora da Alemanha. Naquela época, o foco da companhia era o corante para tecidos e couro, mas logo depois, em 1899, a Bayer registrou a patente da aspirina, que se tornaria a marca de analgésico mais conhecida e consumida no mundo.

A companhia sempre se destacou por sua presença em diferentes mercados: _ químico (com poliuretano e policarbonato); saúde humana, com medicamentos de prescrição e não prescrição médica; saúde animal e agrícola. Mas, o foco sempre foi o mesmo; ou seja, dar uma vida melhor às pessoas, às plantas e aos animais.

Segundo o IBGE, na década de 40, o brasileiro tinha uma expectativa de vida de 43 anos e, hoje, a média é de 75 anos e, no Sudeste, é ainda mais elevada. A população está vivendo mais e nós trabalhamos para tornar essa jornada melhor”. (Theo Van Der Loo – Presidente do Grupo Bayer Brasil)

V. A Lição da Bunge: Ser Ágil Para Atender às Demandas

(A Companhia Holandesa de Agronegócio Chegou ao Brasil em 1905 Com Investimento Inicial no Mercado de Moagem de Trigo)

“Na época em que começamos, tivemos a maior onda de imigração europeia da história brasileira, a qual afetou não só a oferta de mão de obra, como também os hábitos alimentares. Em 1929, quando lançamos o “Óleo Salada” – o primeiro óleo vegetal comestível do país – eram usados, essencialmente, banha de porco ou, raramente, os importados e caros azeites de oliva.

Na década de 90, o Brasil passou por um programa de abertura da economia e eliminou, de uma só vez, parte das tarifas aduaneiras. Com isso, as empresas e os produtores rurais viram-se obrigados a competir com concorrentes internacionais com altos índices de produtividade.

E, para sobreviver nesse ambiente, passamos por um reposicionamento radical: _ nos desfizemos de ativos alheios ao nosso foco e adquirimos outros que nos fortaleceram, integrando nossa cadeia produtiva e o modelo operacional. Ainda na década de 90, “Soya” foi o primeiro óleo a migrar de latas de metal para garrafas pet. As pessoas têm acesso a uma crescente e gigantesca quantidade de informações sobre produtos e serviços e, diante disso, as organizações precisam ser cada vez mais ágeis para atender às novas demandas”. (Andrea Márquez – Vice-Presidente de Gente e Gestão da Bunge)

VI. A Lição da Basf: Prever e Criar o Futuro

(As Operações da Química Alemã Começaram em 1911 no Rio de Janeiro e, Em 1959, Veio a Primeira Fábrica em São Paulo)

“Ao longo do último século, a indústria, de um modo geral, tornou-se mais digital e inovadora e, além de modernizar as fábricas e os laboratórios, a Basf investiu – e continua investindo – em soluções que vão atender às demandas da sociedade do futuro. Os processos de criação que desenvolvemos com nossos parceiros, as parcerias com universidades e o apoio aos startups ajudaram a companhia a se manter inovadora.

Outro movimento significativo nesses 100 anos foi a busca pela sustentabilidade e, nas últimas décadas, o tema ganhou cada vez mais espaço, influenciando os cidadãos, as empresas e a legislação. As pessoas estão consumindo de forma mais responsável e cobram isso dos fabricantes.

Existem muitos fatores que irão influenciar as próximas mudanças como a economia e a tecnologia e, as corporações que permanecerem bem-sucedidas e relevantes ao longo de décadas, e até séculos, serão as que entenderão e irão prever o futuro e cria-lo”. (Ralph Schweens – Presidente da Basf na América do Sul)

Os Cinco Segredos das Empresas Longevas

Boa Parte das Empresas das Empresas Conhece o Discurso do Sucesso, Mas Nem Todas Praticam Essas Atitudes Que Estão no DNA das Empresas Centenárias

1.     Manter-se fiel à vocação de origem: um dos equívocos das empresas é envolver-se em atividades que não dominam, pois cada negócio tem sua peculiaridade e é preciso saber diversificar sem desprezar as origens.

2.     Ter visão de longo prazo: não basta planejar os anos seguintes. É preciso evitar medidas de curto prazo como os cortes abruptos e o forte compromisso com resultados vinculados a bonificações.

3.     Preservar a própria história: Num país de memória curta e mercado desafiador como o Brasil, valorizar os passos que conduziram a companhia ao presente serve de inspiração e transmite solidez e coerência entre o discurso e a prática.

4.     Comprometer-se com a comunidade: As centenárias retribuem parte do que recebem com ações sociais e ambientais sólidas. Essa prática aumenta o engajamento dos funcionários, cria vínculo com o público externo e fortalece a imagem da organização.

5.     Estar atenta à inovação e não aos modismos: Mirar o futuro e antecipar tendências exige conhecer intimamente os consumidores e clientes. Para isso, mais importante do que o olhar global é ter sensibilidade para entender – e atender – os anseios dos brasileiros.

Sobre o Colunista:

Julio Cesar S. Santos, Professor, Consultor e Palestrante. Articulista de Vários Jornais no RJ, autor dos seguintes livros: “Promoção e Merchandising Eficientes Para Pequenas Empresas” e “Vendedor Profissional” (Ed. Aprenda Fácil); “Qualidade no Atendimento ao Cliente” e “Liderança, Atitude e Comportamento Gerencial (Ed. Clube de Autores); “Estratégia: o Jogo Nas Empresas” e “Planejamento de Vendas” (AGBook Editora) e Co-Autor de “Trabalho e Vida Pessoal – 50 Contos Selecionados” (Ed. Qualytimark, Rio de Janeiro, 2001).Por mais de 25 anos treinou equipes de Atendentes, Supervisores e Gerentes de Vendas, Marketing e Administração em empresas multinacionais de bens de consumo e de serviços.Elaborou o curso de “Gestão Empresarial” e atualmente ministra palestras e treinamentos presenciais e à distância nas áreas de Marketing, Administração, Técnicas de Atendimento ao Cliente, Secretariado e Recursos Humanos.Graduado em Administração de Empresas, Especialista (MBA) em Marketing e Mestre em Gestão Empresarial. E-mail de contato: jcss_sc@yahoo.com.br – profigestao@yahoo.com.br  / Site:  www.profigestaoblog.blogspot.com

Se você tem comentários, sugestões ou alguma dúvida que gostaria de esclarecer, aproveite o espaço a seguir.

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  1. Diva Maria da Silva disse:

    O artigo fala da forma como as empresas centenárias tiveram que se reinventar com o passar do tempo, sem perder a origem. De acordo com o artigo as empresas para não perder espaço no mercado tiveram que acompanhar as mudanças no cenário internacional e os hábitos dos brasileiros. Outra ponto importante para longevidade é não diversificar muito o leque de produtos e não aventurar em áreas que não possui muito domínio. O tempo de duração da empresa também conta ponto a favor junto aos consumidores, pois passa a imagem de seriedade e solidez.

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