Publicado em 22/03/2014
Vez ou outra (poderia ser vez e outra) nos deparamos com manchetes de jornais e portais de notícias trazendo atrasos e prejuízos em obras públicas e privadas causadas pela engenharia de baixa qualidade ou até pela sua falta. Uma das graves conseqüências é o empreendimento ficar parado no momento da sua execução (leia-se construção ou fabricação) e os prejuízos são imensuráveis.
Mas afinal, de onde vem a Engenharia Ruim?
Conforme cada setor da Economia ou tipo de empreendimento é possível listar causas que irão culminar em projetos (documentos) de engenharia com qualidade dubitável. Recentemente os alunos da 8ª turma de Engenharia de Planejamento do IETEC (Belo Horizonte, MG / 2014) fizeram uma pesquisa interna para identificar esses principais fatores.
Antes de falarmos sobre as causas vamos analisar os problemas mais prováveis causados por uma engenharia ruim:
- Atraso no momento da execução: com isso os prazos estabelecidos para entrega do empreendimento ficam prejudicados.
- Refazer o que já foi fabricado ou construído: além do atraso causado, existem as perdas materiais, financeiras e desmotivação da equipe em refazer algo que já havia sido feito.
- Descumprimento de leis ambientais ou normas regulamentadoras do trabalho: as entidades governamentais de fiscalização poderão embargar o empreendimento ou no pior dos casos acidentes fatais podem ocorrer durante a execução do empreendimento ou quando já está entregue para uso.
Outros problemas como baixa eficiência do empreendimento instalado (como indústria, usina de beneficiamento, etc), inviabilização do empreendimento por atrasos ou custos excessivos (estouro do orçamento) poderiam também serem conseqüências de uma engenharia pobre, sem muitos recursos ou informações faltantes. Mas, afinal, quais são as causas?
Podemos listar as causas para Engenharia Ruim separadas em três grupos:
- Fatores internos;
- Fatores contextuais e;
- Fatores externos.
Os fatores internos são causas dentro da empresa projetista, do dia a dia da elaboração dos documentos de engenharia. Já os fatores contextuais têm a ver com mercado, fatores que não estão ligados com a projetista ou com a empresa contratante. E as causas originadas por parceiros, fornecedores ou clientes serão classificadas como fatores externos.
Vejamos a seguir essa relação causal:
Figura 1 – Relação causal que contribui para Engenharia Ruim – Fonte: autor, 2014.
Fatores Contextuais:
- Padronização / “Industrialização” dos Projetos: empresas que fazem projetos (projetistas) aplicam a mesma solução de outro empreendimento.
- Falta de Capacitação de Profissionais: capital humano capacitado é raro nesse seguimento e demora-se tempo para preparar bons profissionais.
- Fatores ambientais/ Legislação: pela imensidão de leis, normas, padrões e regulamentos das empresas, o projeto de engenharia fica prejudicado por não conseguir atender a todas.
Fatores Internos:
- Deficiência no Planejamento: estimativas ruins ou até mesmo sequenciamento de atividades ineficiente.
- Falta de Cultura de Planejamento: gestão fica apenas com o gerente do contrato e não permeia engenheiros, projetistas e desenhistas.
- Falta de interação entre os Profissionais: como os profissionais de disciplinas diferentes não conversam entre si, a compatibilização dos projetos fica deficiente.
- Dimensionamento de Equipe: fazer Engenharia é um trabalho intelectual, fica extremamente difícil quando não se tem planejamento ou dados históricos, conseguir estimar o número adequado de engenheiros, projetistas e desenhistas.
- Turn-over / Troca Profissionais: a mudança de profissionais durante a execução dos projetos de Engenharia do empreendimento faz com que histórico de informações e estratégias adotadas se percam.
- Dificuldades em comunicação e informação: equipes trabalham em locais diferentes, mas mesmo quando estão no mesmo local a comunicação não é favorecida com reuniões produtivas.
Fatores Externos:
- Redução das Etapas para fazer os Projetos: quando os clientes iniciam ou retomam os projetos, as etapas clássicas da Engenharia (Viabilidade, Conceitual, Básica, Detalhada) são sobrepostas ou algumas extintas.
- Prazos Curtos: como os empreendimentos precisam ser implantados em um momento determinado de mercado os prazos sempre são apertados.
- Custos baixos para aquisições caras de capital humano: a Engenharia é comprada em A1 (formato) ao invés de se buscar uma forma mais inteligente para se comprar engenharia de qualidade.
- Morosidade nas decisões/ burocracia: processos de informações internas e externas são morosos e passam em diversas mãos até a decisão final.
Conclusão
O que se pôde perceber é que os desafios para resolver cada causa apontada são grandes; somente nesse levante foram ao todo 13 e poderiam ser mais! Engenheiros e gestores precisam ficar atentos para a coordenação do projeto de Engenharia, deverá haver uma coordenação adequada entre o contrato e o produto final esperado pelo cliente a fim de se evitar a pior conseqüência: Engenharia Ruim.
A seguir as principais causas estudadas pelos alunos da Turma 8 do Curso de Engenharia de Planejamento do IETEC:
Saiba mais:
- Causa 1: Consequências da falta de interação e qualificação de profissionais na Engenharia de Qualidade (estará disponível para leitura em 26/03/2014)
- Causa 2: A importância do Custo na Qualidade de Projetos (estará disponível para leitura em 02/04/2014)
- Causa 3: Uma das Causas de Engenharia Ruim: “Turn-over” (estará disponível para leitura em 09/04/2014)
- Causa 4: O dimensionamento de equipes de trabalho (estará disponível para leitura em 16/04/2014)
- Causa 5: O Problema de Qualidade em Projetos de Engenharia – Produção de Engenharia X Produção de Desenhos (estará disponível para leitura em 23/04/2014)
- Causa 6: Planejamento ruim causa Engenharia ruim (estará disponível para leitura em 30/04/2014)
Referências
- Casarotto, N.; Fávero, J. S., Castro, J. E. E. GERÊNCIA DE PROJETOS / ENGENHARIA SIMULTÂNEA. Ed. ATLAS, 1998
- Prado, Darci dos Santos, Planejamento e Controle de Projetos, 7a. ed., Belo. Horizonte, Editora de Desenvolvimento Gerencial, 2011
- COUTINHO, Ítalo. TABORDA, Philippe. Gestão de Interfaces e Multidisciplinaridade em Projetos de Engenharia. Artigo apresentado no 7º Congresso de Gerenciamento de Projetos do PMI-MG. 2012.
Sobre o Colunista: Ítalo Coutinho é formado em Engenharia Industrial Mecânica, Especialista em Gestão de Projetos e Mestre em Administração de Empresas. Gerente de Projetos e Engenharia da Saletto Engenharia. Coordenador e Professor de Cursos de Pós nas áreas de Engenharia de Planejamento, Gestão de Projetos de Construção e Montagem e Engenharia de Custos e Orçamentos.
E-mail de contato: contato@italonaweb.com.br / facebook.com/italonaweb
Contexto: o presente trabalho é resultado de pesquisa realizada com alunos da 8a Turma de Engenharia de Planejamento do IETEC. Para saber mais sobre a Pós, clique aqui.
Se você tem comentários, sugestões ou alguma dúvida que gostaria de esclarecer, aproveite o espaço a seguir.
Quando você diz que “fatores contextuais têm a ver com mercado, que não estão ligados com a projetista ou com a empresa contratante”, você deixa de fora o fator principal: má formação, escolas ruins e alunos que querem passar de ano. Esse é o mau do país: falta de educação, falta de formação. Esse é o fator gerador de tudo. Querem adotar anglicismos e palavras difíceis antes de aprenderem o português básico. Os textos sáo tristes, os alunos não entendem, os professores não se fazem entender e é um caos na troca de informações. Triste de se ver.