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Qual o caminho do nosso projeto? Trilho ou Trilha?!

Publicado em 23/10/2013

Até 400 a.C., os romanos utilizavam caminhos de terra para deslocar-se, mas um ataque gaulês de Breno, em 390 a.C., mostrou a ineficácia dos sistemas defensivos romanos, principalmente devido à lentidão de movimentação das tropas. Então, em 312 a.C., foi criada por Ápio Cláudio Cego a primeira via para unir Roma e a cidade de Cápua: a Via Ápia. Após esta, mais 150.000 quilômetros de vias foram pavimentados pelos romanos, criando o ditado popular: “Todos os caminhos levam a Roma” (Wikipedia, 2013).

A grande malha de vias pavimentadas permitiu o desenvolvimento das carroças e o consequente aumento do transporte de carga e pessoas entre as cidades. Em torno de 1550, os alemães desenvolveram vias com trilhos de madeira, chamados Wagonweg (Caminho das Carroças), na qual carroças puxadas por cavalos moviam-se com mais facilidade, e velocidade, do que nas estradas de terra ou pavimentadas. Em 1776, o ferro substituiu a madeira nos trilhos e nas rodas das carroças e se espalhou pela Europa. Em 1789, o inglês Willian Jessup criou o primeiro carro com rodas com flange e em 22 de fevereiro de 1804, a maquina a vapor de Richard Trevithick puxou uma carga de 10 toneladas de ferro, 70 homens e 5 carros extras por 9 milhas, em aproximadamente 2 horas, fazendo o mundo entrar em uma nova era (About.com, nd).

Erro de páginaFigura 1 – Fawcet, 1750

Apesar da grande facilidade de locomoção por trilhos, estes não permitem desvios e até pequenos desníveis podem provocar o descarrilamento das composições.

Mas o que isso tem a ver com planejamento de projetos?

Quando planejamos um projeto, definimos quais ações, ou atividades, precisamos executar e em qual ordem para que consigamos atingir seus objetivos. Muitas vezes, durante os cursos de gerenciamento e/ou planejamento de projetos, uso um mapa como figura de linguagem para identificar o caminho que precisamos traçar para ir do ponto inicial até o termino do projeto. Neste ponto começam as semelhanças e os problemas.

Não é incomum encontrarmos planejadores que desejam criar caminhos bem detalhados e que acabam permitindo pouco ou nenhuma flexibilidade de execução, como se fossem trilhos de uma estrada de ferro. Como também não é incomum encontrarmos equipes de construção que entendam que o planejamento entregue a eles deverá ser executado a risca.

Para criar um planejamento adequado, é necessário o suporte da alta gerência da empresa e a disponibilização dos recursos suficientes e capacitados para essa tarefa.

O Benchmarking realizado em 2012 mostra que 59% das empresas suportam completamente as iniciativas de gerenciamento de projetos e em outras 33% o nível de suporte é considerado médio. Mas somente 22% destas organizações provêm o tempo e recursos adequados para um planejamento efetivo. O resultado é que apenas 7% das empresas terminam 100% dos projetos incluídos em seus portfolios (PMSurvey.org, 2013).

Quando o planejamento do projeto é feito, as atividades têm sua duração e esforço estimados utilizando técnicas com a paramétrica, análoga, experiência anterior entre outras. Mas, por mais precisa que seja a técnica, esta continua sendo um Cálculo Hipotético que Utiliza Técnicas Estatísticas (CHUTE). Nos Estados Unidos é muita vezes usada a expressão “Educated Guess”, que significa Adivinhação Educada, mas, no país do futebol, podemos dizer que quanto melhor o jogador, ou técnico de planejamento, melhor será seu chute.

O planejamento visa criar o caminho a ser percorrido e, não importa o quão familiarizado estejamos com o caminho, não é possível garantir que este seja percorrido da forma como foi planejado. Devido a este grau de incerteza que existe, não podemos limitar nosso caminho como se este fosse um trilho. Se assim fosse, da mesma forma que a locomotiva, não poderíamos prosseguir se as condições não estivessem em perfeita conformidade com aquilo que foi planejado.

O projeto precisa ser planejado com a flexibilidade suficiente para se adequar aos possíveis ajustes, mas sem comprometer a execução do mesmo. Assim, nosso caminho se equivale mais a uma trilha, com todas suas incertezas e possibilidades de pequenos desvios, do que um trilho e a certeza do caminho.

Referências:

About.com, nd. The History of Railroad Innovations. [Online] – Disponível em: http://inventors.about.com/library/inventors/blrailroad.htm [Acesso em 20 10 2013].

PMSurvey.org, 2013. PMSurvey – Report 2012 – Brazil, s.l.: PMSurvey.

Wikipedia, 2013. Estradas Romanas. [Online]
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Estrada_romana – [Acesso em 20 Oct 2013].

Figura 1 – Brian Fawcet, 1750 – Stalemate at the Causey Arch on Tanfield Wagonway, County Durham. Disponível em http://www.bbc.co.uk/arts/yourpaintings/paintings/stalemate-at-the-causey-arch-on-tanfield-wagonway-county-d43896 – [Acesso em 20 Oct 2013].

Sobre o Colunista: 

Paulo Roberto Cid Loureiro, PMP, Prince2 Practitioner, com mais de 15 anos de experiência em gerenciamento, é engenheiro eletricista formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, pós-graduado em Administração pela Fundação Getúlio Vargas e cursando o Mestrado em Gerenciamento de Projetos com ênfase em Óleo & Gás na Universidade de Liverpool. É instrutor em Gerenciamento de Projetos e Oracle Primavera e colunista do PMKB. Hoje atua como consultor de planejamento para a Petrobras.

E-mail de contato: paulo.cid@qetcprojetos.com

Se você tem comentários, sugestões ou alguma dúvida que gostaria de esclarecer, aproveite o espaço a seguir.

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  1. MatthewBloor disse:

  2. Alexandre Ataide disse:

    Cid! Que artigo bacana! Adorei o CHUTE, rs! Existe a máxima de que 90% dos problemas em Projetos é Comunicação deficiente. O excesso de detalhamento em cronograma é um problema não só para quem vai construir como também para quem vai controlar e o pior: tornará a comunicação de projeto ineficaz. Quando o controle gera mais mal estar do que resultado efetivo está na hora de rever a forma de gestão. Se o famoso “barrão” for feito com métricas baseadas nas condições de campo que serão executados os serviços e com informações de projeto consistentes, tornará simples o acompanhamento e, principalmente, o entendimento entre as equipes. Esta comunicação simples e objetiva vai gerar ações corretivas e preventivas realmente eficazes.

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