Publicado em 15/06/2015
A estimativa de custos é uma importante ferramenta para a tomada de decisões referentes a um novo projeto, ou até mesmo a um projeto em andamento. O artigo em questão auxilia na classificação da estimativa de custos, assim como se relacionam entre si e como podem ser aplicadas em diferentes projetos.
Introdução
As indústrias de forma geral estão sempre atreladas a projetos, sejam eles de expansão, melhorias, reformulação, entre outros. Para tanto, o gerenciamento desses projetos se torna uma ferramenta indispensável e a engenharia de custo é parte importante no processo de gerenciamento de um projeto.
A aplicação de conhecimentos e habilidades especificas contribuem para que o projeto caminhe de forma efetiva e eficaz. Essa competência tem a principal meta unir os resultados dos projetos com os objetivos do negócio, para que a empresa seja competitiva no mercado.
Visando guiar as escolhas dos envolvidos com o projeto, a AACE, instituição de maior representatividade junto à comunidade internacional de Engenharia de Custos, criou um guia de “Práticas Recomendadas”. Dentre eles, temos o guia 17R97 – Sistema de Classificação de Estimativa de Custos, que tem a intenção de melhorar a comunicação entre aqueles que visam utilizar a estimativa de custos em seus projetos.
Fornecimento de método de classificação aplicável em todos os setores, inequívoca identificação, referência cruzada, benchmarking e avaliação empírica são múltiplas características relacionadas com a classe de estimativa de custos.
Esse artigo abordará a prática recomendada pela AACE Internacional que fornece diretrizes para a aplicação dos princípios gerais de classificação da estimativa de custos.
Desenvolvimento
Como em todo projeto, a fase de estimativa de custo pode ser obtida em diversas fases do processo. Para isso faz-se necessário um tratamento direcionado para cada etapa, que pode conter numerosas características. Assim diretrizes devem ser seguidas de modo a proporcionar parâmetros de entendimento comum, evitando erros de interpretação, má aplicação e levantamentos com resultados falsos ou distorcidos da realidade.
A AACE Internacional no final de 1960 ou início de 1970 criou uma diretriz para a classificação da estimativa de custos, diretriz essa com uma ampla aceitação dentro da engenharia e comunidade da construção e indústria. Essa orientação por sua vez tem como objetivo principal fornecer uma metodologia genérica de classificação das estimativas de custo do projeto em qualquer setor, com adendos para setores específicos.
O Sistema de Classificação de Estimativa de Custos mapeia as fases e estágios da estimativa de custos, juntamente com maturidade genérica e uma matriz de qualidade. Estes métodos podem ser utilizados em uma grande variedade de industrias. As mais significantes classificações para estimativas de custos são: grau de definição do projeto, uso final de estimativa, metodologia de estimativa e esforço e tempo necessário para preparar a estimativa. Para esse guia a característica mais significativa e que vai definir a categoria de classificação da estimativa de custos é o grau de definição do projeto, sendo os outros parâmetros tratados como secundários, geralmente relacionadas à primeira classe.
O quadro abaixo apresenta uma matriz genérica para a classificação da estimativa de custos.
Figura 1 – Matriz de classificação das estimativas de custo. Fonte: Teses USP – Dissertação Evandro Jose Silva Eloy
Classificação Primária
Nível de definição do projeto
A primeira característica é denominada “Nível de definição do projeto”. Esta característica é baseada em quanto a definição do projeto está concluída. Ela define a maturidade ou a extensão e quais tipos de informações iniciais estão disponíveis para o processo de estimativas. Cada indústria possui um tipo diferente de informações iniciais, mas basicamente elas são divididas em definição do escopo, documentos necessários, especificações, planos de projeto, desenhos, cálculos, aprendizado com projetos passados, dados de reconhecimento, etc. À medida que as informações ficam mais definidas e completas, o nível de definição do projeto aumenta.
Classificação secundária
A classificação secundária abrange quarto classes diferentes, sendo elas:
Uso final
As várias classes de estimativas de custos preparadas para um projeto normalmente têm diferentes usos finais ou propósitos. Como o nível de definição do projeto aumenta, o uso final de uma estimativa normalmente progride de avaliação e estudos de viabilidade estratégicas para autorização de financiamento e orçamentos para projetar efeitos de controle.
O uso final pode ser obtido a partir de métodos estocásticos ou determinísticos. Os métodos estocásticos normalmente envolvem simples ou complexos modelos baseados em relações estatísticas entre custos e parâmetros técnicos. Os métodos determinísticos tendem a contagens diretas ou medidas de unidades de itens, multiplicadas ao conhecimento dos fatos ou custos.
É importante entender que qualquer combinação de métodos pode ser encontrada em qualquer classe de estimativa.
Intervalo de precisão esperado
O intervalo de precisão de uma estimativa é dependente de um número de características da informação da estimativa de entrada e o processo de estimativa. A extensão e a maturidade da informação de entrada medida pela porcentagem de conclusão (e relacionada ao nível de definição do projeto) é um determinante altamente importante de precisão. No entanto, existem outros fatores além da informação de entrada disponíveis que também afetam grandemente nas medidas de precisão. A principal entre estas são o estado da tecnologia no projeto e da qualidade dos dados estimativa de custos de referência.
Tecnologia – o uso da tecnologia pode ter uma ordem de importância de 10 a 1 nos efeitos do intervalo de precisão. Projetos que não repetem práticas de projetos passados tem menos confiança e projetos com menor nível de confiança tendem a menor sucesso em sua execução.
Qualidade de referência dos dados de estimativa – a precisão depende da qualidade dos dados de referência utilizados para gerar a estimativa de custos. A qualidade da precisão da estimativa será melhor quando verificados dados empíricos e estatísticas utilizados para o processo de estimativas.
A precisão não é necessariamente determinada pela metodologia usada. A estimativa da precisão deve ser avaliada em estimativa por bases de estimativa, usualmente em conjunto com uma análise de riscos do processo.
A exatidão pode variar de acordo com determinantes de precisão, como tecnologia, qualidade da referência dos dados, qualidade do processo de estimativa e habilidades e conhecimento de quem está realizando a estimativa.
Metodologia utilizada
O nível da metodologia utilizada é uma indicação de custo, tempo e recursos requeridos.
A medida de custo da metodologia é normalmente expressa na porcentagem do custo total do projeto para um determinado tamanho de projeto. À medida que a definição do projeto aumenta, o esforço para estimar os custos também aumenta, aumentando também, seu custo em relação ao total do projeto.
Esforço para elaboração da estimativa
O esforço para preparar a estimativa é determinado pelas informações iniciais disponíveis. Normalmente, o esforço aumenta, à medida que o número e a complexidade do nível de definição do projeto aumenta. Porém, com uma metodologia de estimativa de custos eficiente, utilizada em repetitivos projetos, essa relação diminui.
Normalmente, métodos de estimativa da preparação de custos excluem o esforço para preparar as entregas do projeto.
Relacionamento entre classes
Abaixo segue, para cada classe de estimativa de custos, sua relação com as demais:
CLASSE 5 – Normalmente são preparados com base em informações muito limitadas, tendo sua precisão com uma faixa muito variada. São preparadas com um período de tempo muito curto, as vezes em questão de horas, com pouco esforço despendido. Muitas vezes o tipo de planta, localização e capacidade são conhecidos no momento da preparação da estimativa.
Nível de Definição do Projeto Obrigatório: 0% a 2% da definição do projeto completo.
Uso final: são preparados para dar número a negócios estratégicos, tais como, mas não limitados a estudos de mercado, avaliação de viabilidade inicial, avaliação de esquemas alternativos, triagem de projetos, estudos de localização de projeto, avaliação de necessidades de recursos e orçamento, etc.
Métodos de estimativa utilizado: curvas de custo / capacidade e fatores, escala de fatores operacionais e outras técnicas paramétricas e modelagem.
Faixa de Precisão: tipicamente são de – 20% a – 50% no lado de baixo, e + 30% a + 100% sobre o lado alto, dependendo da complexidade e informação do projeto.
Esforço para se preparar: uma hora ou menos, talvez, mais de duzentas horas, dependendo do projeto e da metodologia de estimativa utilizada.
CLASSE 4 – Normalmente são preparadas com base em informações limitadas e utilizados para análise do projeto, determinação da viabilidade, avaliação conceito, e aprovação do orçamento preliminar. A engenharia é de 1% a 5% completa, composta por no mínimo: a capacidade da planta, diagrama de blocos, layout, diagramas de fluxo de processo para sistemas de processos principais, preliminares e utilidades e listas de equipamentos.
Nível de Definição do Projeto Obrigatório: 1% a 15% de definição do projeto completo.
Uso final: são preparados para uma série de finalidades, tais como: planejamento estratégico detalhado, desenvolvimento de negócios, análise do projeto em estágios mais avançados, análise de esquema alternativo, confirmação da viabilidade econômica e/ou técnica, e aprovação do orçamento preliminar ou aprovação para avançar para próxima fase.
Métodos de estimativa utilizado: fatores de equipamentos, custos unitários brutos / proporções, e outras técnicas paramétricas e modelagem.
Faixa de Precisão: tipicamente são de -15% a -30% no lado de baixo, e + 20% a + 50% sobre o lado alto, dependendo da complexidade tecnológica do projeto.
Esforço para se preparar: vinte horas ou menos, talvez, mais de trezentas horas, dependendo do projeto e da metodologia de estimativa utilizada.
CLASSE 3 – Normalmente são preparadas para formar a base para a autorização orçamentária, apropriação e/ou financiamento. Nessa classe é gerada a linha base para controle de custos e a engenharia tem de 10% a 40% de conclusão. É composta por: diagramas de fluxo, diagramas de instrumentos, metodologia executiva, desenhos de layout desenvolvidos e o processo de engenharia básica completa com lista de equipamentos.
Nível de Definição do Projeto Obrigatório: 10% a 40% da definição do projeto completo.
Uso final: obtenção do financiamento completo do projeto. Elas são usadas como o orçamento do projeto até serem substituídos por estimativas mais detalhadas. Em muitas empresas, uma estimativa classe 3 já seria o suficiente para o controle de custos.
Métodos de estimativa utilizado: são estimados em planilhas de preços unitários, embora estes podem estar em um nível de detalhe de montagem em vez de componentes individuais.
Faixa de Precisão: tipicamente são de -10% e -20% no lado de baixo, e + 10% a + 30% sobre o lado alto, dependendo da complexidade tecnológica do projeto.
Esforço para se preparar: cento e cinquenta horas ou menos, talvez, mais de mil e quinhentas horas, dependendo do projeto e da metodologia de estimativa utilizada.
CLASSE 2 – Normalmente são preparadas para formar a linha de base do projeto, para monitoramento dos custos e avanços. É nessa classe que normalmente os empreiteiros formam o valor do contrato. A engenharia tem de 30% a 70% completa, com diagramas de fluxo de processo, utilidades, tubulação e instrumento, balanços térmicos e materiais, metodologia executiva final, desenhos de layout final, processo de engenharia completo e listas de equipamentos, diagramas unifilares, cotações de fornecedores, etc.
Nível de Definição do Projeto Obrigatório: 30% a 70% da definição do projeto completo.
Uso final: controle detalhado dos custos com relação ao orçamento realizado.
Métodos de estimativa utilizado: são elaboradas com grande detalhe, e em muitas vezes envolvem dezenas de milhares de unidades de itens de linha de custo.
Faixa de Precisão: tipicamente são de -5% a -15% no lado de baixo, e + 5% a + 20% sobre o lado alto, dependendo da complexidade tecnológica do projeto.
Esforço para se preparar: trezentas horas ou menos, talvez, mais de três mil horas, dependendo do projeto e da metodologia de estimativa utilizada.
CLASSE 1 – Normalmente são detalhadas partes do projeto. As partes do projeto estimadas nesse nível de detalhes servirão para cotação de serviços de empresas subcontratadas. Essa classe gera a nova linha de controle de custos e avanços e embasa possíveis ajustes comerciais entre as partes. A engenharia tem de 50% a 100% concluída, contendo praticamente toda a documentação de engenharia e desenhos do projeto, projeto detalhado e planos de comissionamento.
Nível de Definição do Projeto Obrigatório: 50% a 100% da definição do projeto completo.
Uso final: linha base final do projeto para controle dos custos e recursos em relação ao orçamento. Elas podem ser usadas para avaliação e verificação de licitação, para apoiar negociações entre as partes, ou para a avaliação de sinistros e de resolução de litígios.
Métodos de estimativa utilizado: é a classe que requerer uma grande quantidade de esforço, pois as estimativas são elaboradas com grande nível de detalhe, são realizadas apenas nas áreas mais importantes ou críticas do projeto.
Faixa de Precisão: tipicamente são de -3% para -10% no lado de baixo, e + 3% a + 15% sobre o elevado, dependendo da complexidade tecnológica do projeto.
Esforço para se preparar: é a que exige mais esforço para criar, sendo utilizadas em áreas especificas do projeto, ou para fins de licitação. Essa estimativa pode ser realizada com seiscentas horas ou menos, ou as vezes com mais de seis mil horas, dependendo do projeto e da metodologia de estimativa utilizada.
Conclusão
Vimos que por maior importância que todas as classes apresentam, as quatro caraterísticas secundarias geralmente são relacionadas ao nível de definição do projeto, pois este determina a classe da estimativa, assim, todas as características apresentam-se determinantes, uma vez que o nível de definição do projeto foi bem estruturado.
Podemos perceber ainda, que a análise das classificações da estimativa de custos são extremamente uteis e aplicáveis na fase de avaliação de investimento, orçamentos, acompanhamento de custos e recursos, dentre outras. Elas quantificam o quão assertivo esses levantamentos são e em quais situações eles devem ser aplicados, permitindo o entendimento comum entre todos os envolvidos no projeto.
Referência Bibliográfica
- AACE International Recommended Practice No.17R-97, Cost Estimate Classification System.
- ANSI Standard Z94.2-1989. Industrial Engineering Terminology: Cost Engineering.
- Teses USP – Dissertação Evandro Jose Silva Eloy, disponível em http://www.teses.usp.br/index.php?option=com_jumi&fileid=11&Itemid=76&lang=pt-br&filtro=evandro
Sobre os Autores:
Fernanda Hoehne Mattos de Oliveira, Engenheira de Energia formada pela PUC-MINAS em 2012. Atualmente cursando MBA em Gestão de Projetos com ênfase em Engenharia de Custos e Orçamento pelo IETEC. Atua como orçamentista de subestações de energia elétrica pela empresa REMO Engenharia há um ano. E-mail para contato: fehoehne@gmail.com
Kendson Junior de Souza de Cristo é formado em Engenharia de Produção pela Faculdade Pitágoras e cursado MBA em Gestão de Negócio com ênfase em Custos e Orçamento. Atua há 3 anos com gestão de obras e contratos pela empresa Inbrape – Construções Modulares. E-mail para contato: kendsoncristo@yahoo.com.br
Tiago Carlos Condé é graduado em Engenharia Elétrica pela UFSJ. Atualmente cursando Pós-graduação em Engenharia de Custos e Orçamentos pelo Ietec. Atua na área de Engenharia e Orçamentos, pela empresa REDE Montagens Elétricas. Levantamento de custos da obra, elaboração de Propostas Técnica e Comercial. E-mail para contato: tiagoconde_bq@yahoo.com.br
Contexto: o presente trabalho é resultado de pesquisa realizada com alunos da 7a Turma de Engenharia de Custos e Orçamento – AUEG – com a coordenação do Prof. Ítalo Coutinho do IETEC. O presente trabalho tem como base a norma da AACE – Recommended Practices – http://www.aacei.org/
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