Publicado em 05/04/2017
O Prof. Lúcio Fonseca aborda, neste texto, as maravilhas e as ameaças trazidas pelo desenvolvimento tecnológico cada vez mais acelerado.
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A dois dias do início do Fórum de Davos (2016), a entidade que o organiza apresentou (…) um relatório que analisa as transformações que a economia mundial e o mercado de trabalho sofrerão na próxima meia década.
O estudo afirma que, por causa da automatização, o mundo perderá sete milhões de empregos “de escritório”. O estudo prediz o desenvolvimento nas áreas de inteligência artificial, robótica, nanotecnologia e impressão 3D.
Esta transformação tornará alguns empregos supérfluos e desnecessários, mas ao mesmo tempo abrirá a oportunidade para outra grande gama de funções. É por isso que os economistas que assinam o estudo advertem que esta perda será compensada com a criação de dois milhões de novos empregos nas áreas de computação, engenharia, arquitetura e matemática.
(Revista Exame.com – Jan/2016)
COMENTÁRIO
Estamos em plena 4a. Revolução Industrial. Não há o que duvidar: o desenvolvimento tecnológico, que se dá em escala exponencial, tem oferecido cada vez mais comodidades para as pessoas – o Uber, com seu modelo de transporte urbano barato e confortável; o Airbnb, colocando casas inteiras ou quartos no mundo todo à disposição do viajante, por um custo expressivamente mais baixo que o dos hotéis (lembrar que ambos são meros aplicativos móveis, não possuindo nenhum ativo físico). Na área da Medicina, já são realidade muitos avanços que aumentam expectativa de vida ou a sua qualidade – tratamentos muito mais precisos baseados em nanotecnologia e Engenharia Genética, próteses sofisticadas mas de baixo custo produzidas em já muito baratas impressoras 3D (que, em escala maior, são também capazes de “entregar” uma casa inteira a cada 24 horas ou menos), bem como diagnósticos médicos de alta precisão em várias áreas, baseados em Computação Cognitiva e Inteligência Artificial. E mais: aconselhamento jurídico, de seguros ou de investimentos produzidos por sistemas de Inteligência Artificial, quase ou totalmente sem intervenção humana.
Este é o lado bom, o das maravilhas. No entanto, tem sido crescente a preocupação de entidades internacionais e governos com um efeito colateral potencialmente catastrófico: a perda de milhões de empregos, que já vem acontecendo, em ritmo acelerado. Já se contam às dúzias profissões que podem ser varridas do mapa por este “tsunami tecnológico” – e não estamos falando apenas das profissões braçais como a de pedreiro, carpinteiro, cobrador de ônibus, motorista, inclusive de Uber – sim, a própria Uber já está em pleno desenvolvimento do seu modelo de carro autônomo, sem motorista) e outras. Falamos de vários ramos da Engenharia (Civil, por exemplo), da Medicina (Oncologia é uma delas) e da Advocacia, além de professores, entre outras.
Os sistemas de Computação Cognitiva, como o Watson da IBM, são capazes de ler um número impensável de leis e jurisprudências em questão de segundos, combinar dados e responder às dúvidas dos clientes com margem de acerto que já supera a de um Advogado. O mesmo se dá na área médica: lendo milhares de textos científicos em milésimos de segundo e submetendo os resultados de exames de um paciente a este pano de fundo, o Watson já é capaz de emitir diagnósticos sobre vários tipos de câncer e outras doenças com precisão maior que a de um Médico. Na área da Educação, já surgem universidades, patrocinadas por grandes empresas, totalmente sem professores: os alunos estudam sozinhos ou em grupos em plataformas computacionais, uma avalia o outro e não há preocupação em saber se alguém colou ou não: o mercado só vai absorver os que demonstrarem competência efetiva.
Casos de extinção de empresas consideradas “imortais” já se contam aos montes: num caso clássico, a fotografia digital liquidou com a Kodak (líder mundial na venda de filmes e papel fotográfico até o final do século XX). 170.000 funcionários tiveram que buscar outro ramo para trabalhar. A maior fabricante de computadores do mundo, a IBM, teve que abandonar este mercado e se reinventar, para não desaparecer. O ramo da hotelaria – e seus milhares de empregados – já perdeu parte substancial de market share para o Airbnb e outros serviços semelhantes; das cooperativas de táxi nem se fala. E assim está para acontecer com muitas outras indústrias, ramos de negócios e profissões.
Chamo a atenção para o inapropriado tom de otimismo ao final do alerta do Fórum Econômico de Davos: (…)os economistas que assinam o estudo advertem que esta perda será compensada com a criação de dois milhões de novos empregos nas áreas de computação, engenharia, arquitetura e matemática.
Ora, a perda informada no início do alerta é de 7 milhões. Se vão ser criados 2 milhões – e em áreas que exigem excelente formação e alta competência intelectual – como ficará a situação dos remanescentes ou dos que não estiverem preparados para estas novas vagas? Além dos gravíssimos problemas sociais que isto acarreta, há também um efeito “tiro no pé” do próprio sistema capitalista: pessoas sem renda não têm como consumir. Quem vai comprar as maravilhas tecnológicas – sejam produtos ou serviços – produzidas neste “admirável mundo novo”?
No nível macro, esta é uma preocupação para as entidades internacionais e para os governos. Alguns já estão elaborando respostas, como a Finlândia, que já vai começar a testar uma política social de “Renda Universal Básica” para seus cidadãos. Outros ainda dormem sossegados ou pensam que tudo não passa de uma “marolinha”.
Mas, e você: acredita que tudo vai se ajeitar e que você não será afetado? Vai esperar que o governo, com sua proverbial vagareza, resolva o seu problema? Qualquer que seja sua profissão ou ramo de negócio: tem procurado se inteirar das transformações em geral e, em especial, àquelas afetas à sua área? Já começou a se informar sobre outras possibilidades ou a buscar qualificação em outras áreas? Em síntese: já tem um Plano B?
Sobre o Colunista:
Prof. Lúcio de Andrade Fonseca, Consultor Empresarial e Educacional e palestrante reconhecido no Brasil e no exterior. Foi Executivo Educacional do Grupo Kroton, por longos anos, exercendo as funções de Diretor de Unidades Escolares, no Brasil e no Iraque, e de CIO (Diretor de Tecnologia). É Consultor de Gestão Estratégica de entidades públicas, privadas e do terceiro setor, no Brasil e em Angola. Exerce também a função de Vice-Presidente de Assuntos Educacionais da SUCESU-MG. Através da empresa FF Digital Tecnologia, Treinamento e Desenvolvimento, da qual é fundador e Diretor Executivo, coordena programas de capacitação para executivos, que têm participação expressiva de gestores de empresas de mineração de Angola. E-mail de contato: lucio@luciofonseca.com.br – site: http://ffdigital.com.br
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