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Gestão de projetos e Design Thinking: primeiro espaço de inovação

Publicado em 23/11/2016

Resumo

A metodologia Design Thinking tem ganhado ampla utilização nas mais variadas empresas e sendo utilizados e projetos não apenas no segmento de Design para trazer à tona produtos inovadores e serviços disruptivos. Empresas como a IBM tem mantido esforços para a implantação desta mentalidade em sua organização, treinando centenas de funcionários nesta metodologia.

Assim podemos perceber que o Design Thinking, como uma nova forma de buscar soluções para os problemas se mostra como uma ferramenta interessante na gestão de projetos. Tal premissa se apoia nas vantagens competitivas que essa abordagem oferece. Modelo esse que é estruturado em três espaços de inovação (inspiração, ideação e implementação).

No presente trabalho será abordado o espaço INSPIRAÇÃO, e como essa etapa, orientada pela mentalidade do design, se diferencia de outros processos de levantamento. Além disso será demonstrado como essa nova visão pode favorecer as equipes de projeto e a prevenção de inconsistências no que diz respeito ao levantamento das necessidades dos projetos.

Introdução

Não é novidade que a falha no levantamento e gestão dos requisitos traz uma enormidade de problemas nos mais variados tipos de projetos. O PMI – Project Management Institute, em seu trabalho de fomento da área de gestão de projetos, tem desenvolvido um trabalho importante no sentido de alertar a grande necessidade de se atentar com muito cuidado para essa área crítica da gestão dos empreendimentos.

Neste sentido uma das premissas que o instituto orienta os praticantes e as empresas que desenvolvem projetos é o enfatizar a necessidade de se ter um processo estruturado para o levantamento e gerenciamento dos requisitos. Fator este que visa em primeiro lugar um levantamento assertivo dos requisitos, em se tratando de necessidades do projeto e alinhamento com os negócios e a sua posterior gestão.

Partindo então da importante demanda de se possuir um processo estruturado de gestão de requisitos o Design Thinking e Business Design traz em sua matriz uma poderosa ferramenta para preencher essa lacuna. Metodologias essas que são a base do framework PlanD, que visa orientar as equipes de projetos em torno do levantamento de requisitos com uma visão orientada pelo design.

O Design Thinking como processo traz um entendimento de que os projetos podem ter seu planejamento estruturado seguindo os conceitos de espaço de inovação, abordados por essa metodologia como sendo espaços de INSPIRAÇÃO, IDEALIZAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO.

Neste contexto de espaços de inovação encontramos uma diversidade na nomenclatura e estruturação das fases, no que tange a aplicação destes conceitos encerradas nestas etapas. Contudo a base conceitual é a mesma e entendida como:

  1. Inspiração: espaço de coleta de dados e insights utilizando uma série de ferramentas e variadas fontes. Podemos entender que essa é uma etapa na qual dados são colhidos a fim construir um entendimento das demandas dos projetos, das necessidades dos atores envolvidos etc. Por meio destes levantamentos e insights podemos realizar definições importantes para a fase seguinte.
  2. Idealização: tradução dos insights por meio de propostas de soluções e ideias que podem ser uma oportunidade de inovação ou solução para as demandas que o projeto identificou.
  3. Implementação: as ideias mais factíveis são implementadas por meio de um plano concreto de ação. Protótipos podem ser realizados a fim de testar as propostas a serem implementadas

Ser humano no centro do processo

Uma das principais bases do processo de inovação e busca por soluções em um ambiente cada vez mais complexo se mostra no retorno do ser humano ao centro das descobertas e desenvolvimentos de soluções. Uma das premissas do Design Thinking é justamente trazer o foco de todo tipo de projeto para o ser humano, uma vez que, em um ou outro grau, este é o elemento principal de qualquer solução. Desta premissa surge a necessidade da empatia para um entendimento e aplicação consistente dos processos de Design Thinking. Sem este entendimento podemos prejudicar grandemente essa etapa inicial de definições das demandas do projeto (INSPIRAÇÃO) e perder oportunidades e insights valiosos que essa premissa pode oferecer-nos.

Podemos conceituar empatia como a capacidade de se identificar com outra pessoa, ter entendimento e percepções a partir de seu ponto de vista. Em um mundo complexo em que a descoberta de solução para os problemas e a inovação tornam-se cada vez mais imunes aos métodos puramente analíticos o Design Thinking percebe na empatia um modo capaz de se enxergar soluções “fora da caixa”, dentro deste novo cenário. Nasce deste processo serviços, produtos mais aderentes a realidade de seus stakeholders ou oferecendo inovações disruptivas.

Os fundadores do serviço de locação de imóveis temporários Airbnb, em seu início, viram suas receitas caírem, semana a pós semana, e não sabiam qual era o motivo disso. Os fundadores começaram a examinar os anúncios de imóveis oferecidos em Nova York, por meio de sua plataforma, e perceberam que as imagens eram de péssima qualidade é não mostravam exatamente o que os clientes estavam alugando. Neste sentido eles tentaram ver, por meio da perspectiva de seus clientes e solucionaram o problema por meio de uma abordagem criativa: os fundadores da empresa viajaram até Nova Iorque, alugaram uma câmera e gastaram um tempo orientando os moradores a tirarem fotos e melhores.

A empatia também exerce um diferencial, naqueles que observam este aspecto, na condução dos projetos, na formação e gestão de equipes. Esse diferencial acontece no momento em que os gestores passam a tentar entender o ponto de vista dos mais variados atores componentes das equipes de projetos e passam a exercer esforços no sentido de que suas expectativas e necessidades sejam atendidas e ao mesmo tempo estejam alinhadas às necessidades e demandas do projeto.

Partindo do importante pilar, a empatia –  é que deve estar presente em todo o processo de planejamento orientado pelo design – observamos o primeiro espaço de inovação como sendo a etapa de INSPIRAÇÃO, onde a equipe do projeto se aproxima do problema, demanda ou necessidade realizando as DEFINIÇÕES importantes do que fará ou não parte do escopo do projeto, objetos de análise e ferramentas adequadas para as próximas etapas.

Neste ponto o leitor pode chegar a uma conclusão óbvia: mas todo processo de planejamento de algo deve se iniciar com uma análise inicial e definição daquilo que se tem que levantar para criar uma solução ou inovação. Assim sendo, o que de novo o Design Thinking traz neste sentido? O que o Design Thinking traz como novidade é propor uma mudança no modelo mental, aliando uma visão analítica com uma abordagem criativa na busca por soluções.

A contemporaneidade tem se apresentado como um cenário complexo e ambíguo. Neste contexto os problemas não estão tão bem definidos como no passado. Problemas que o uso apenas de métodos analíticos (como o ciclo PDCA) eram capazes de resolver. Contudo no cenário atual de problemas complexos, sem clareza em seus limites e muitas vezes apresentando um alto nível de ambiguidades faz com que os métodos analíticos apenas não sejam suficientes para trazer resultados. Essa realidade exige maneira diferente do PARADGMA ANALÍTICO[1] de abordagem dos problemas e a busca por inovação.

Desta forma a abordagem orientada pelo Design se torna uma proposta competitiva, no sentido de estabelecer uma nova forma de conduzir projetos, sendo que na etapa de definição das demandas dos projetos o Design Thinking apresenta como diferencial, em relação ao paradigma analítico, as seguintes abordagens:

  • Pensamento abdutivo: diferentemente do padrão estabelecido, os praticantes do Design Thinking têm como característica o de aliar o pensamento indutivo dos cientistas com a curiosidade e a escuta ativa – eles não mais desejam ter a resposta prontas, mas antes preferem convergir sua atenção para observar os cenários, apreender e compreender os fenômenos para em seguida questionar o que já está posto. Confrontar padrões existente e a realizar questionamentos corretos. Este tipo de raciocínio é conhecido como pensamento Abdutivo, sendo “essa habilidade de se desvencilhar do pensamento lógico cartesiano” (VIANNA et al, 2012 P. 14)
  • Insight como fonte de informação: uma das principais origens de informações para os praticantes do Design Thinking, o insight, “não provém do âmbito dos dados quantitativos que mensuram exatamente o que já temos e nos dizem o que já sabemos” (BROWN,2010, Pag. 38). Neste sentido o que o Design pode contribuir em relação ao desenvolvimento de projeto de qualquer natureza é o seu caráter criativo, diferente do que estamos costumeiramente utilizando, qual seja, o paradigma analítico, onde as respostas geralmente estão sob o espectro da análise analítica, esperando que sejam descobertas. Contudo uma abordagem orientada pelo design as respostas reside no trabalho criativo da equipe, uma vez que as soluções não estão esperando ser descobertas, escondidas em algum lugar (BROWN, 210, Pag. 39). E é neste contexto que as equipes criativas lançam mão de ferramentas como a ETNOGRAFIA para ter turbilhões de insights e propor saídas impossíveis de se obter por meio da abordagem puramente analítica.
  • Pensamento divergente > convergente: neste no contexto posto em nossa cultura, o pensamento baseado na lógica e na dedução é sempre enfatizado. Os ocidentais tem como uma forte premissa para soluções de problemas por meio da captação de uma série de dados e para depois convergir estas informações em uma resposta apenas. Já o pensamento divergente funciona na construção de alternativas e criar escolhas: “pode ser tratar de diferentes insight no comportamento do consumidor, visões alternativas de novas ofertas de produto ou escolhas entre diferentes alternativas de se criarem experiências alternativas (BROWN, 2010, p. 62).

Fonte: BROWN, 2010, p.63

Logicamente este tipo de pensamento também implica em uma complexidade maior e mais dificuldades para os líderes de projetos que devem controlar cronogramas e custos. Contudo essa lógica favorece o surgimento de novas possibilidades, e ao longo prazo as empresas podem colher os frutos deste pensamento que favorece a inovação e não apenas melhorias obvias e incrementais. No curto prazo o pensamento convergente pode ser mais eficiente, contudo com o passar do tempo ele “torna a organização mais conservadora, inflexível e vulnerável a ideias revolucionarias dos concorrentes” (BROWN, 2010, P. 63).

Outro aspecto importante a respeito do pensamento divergente e convergente é que tal premissa perpassa também pela etapa de IDEAÇÃO.

  • Etnografia: a etnografia é um método que consiste na coleta de dados por meio do contato intersubjetivo entre objeto estudado e do antropólogo. É uma abordagem que os praticantes do Design Thinking se apropriaram da Antropologia. Diferentemente do pratica corriqueira das empresas, que coletam informações por meio “de opiniões e comportamentos das pessoas quanto à situação atual ou expectativa de contextos futuros” (VIANNA et al, 2012, P.15) os métodos etnográficos estão mais interessados em estar com as pessoas e perceberem como elas utilizam um determinado produto ou desenvolvem suas atividades in loco.
  • Tal abordagem se torna mais efetiva em relação a pesquisas estruturadas, grupos focais e outras ferramentas tradicionais (amplamente utilizada pelas corporações) uma vez tais ferramentas não levam a insights relevantes. O indivíduo geralmente é incapaz de revelar uma necessidade por meio de um questionário, mas revela uma demanda em sua engenhosidade de improvisar soluções, como usar uma folha dobrada para manter uma porta aberta. Desta observação que nasceram os mais variados e revolucionários produtos e serviços.
  • Usuários extremos: são os “pontos fora da curva” dos usuários, clientes que utilizam produtos e serviços de forma não usual. Ao observar a massa de consumidores de um determinado produto ou serviço, as marcas correm o risco de realizarem levantamentos de dados que elas próprias já possuem. Na busca de soluções inovadoras e não incrementais, os praticantes do Design Thinking, no processo de definição das demandas de seus projetos, encontram nos usuários extremos valiosas fontes de insights para construir produtos e serviços inovadores.

Conclusão

Como podemos observar, o Design Thinking representa uma nova é competitiva forma de se aproximar de uma demanda e levantar definições de forma estruturada, com métodos e ferramentas inovadoras. Elas respondem de forma inovadora as necessidades de um cenário atual, diferentes das do passado, no que se trata na busca de soluções de problemas e inovação.

Abordagem essa que se mostra aplicável em projetos de qualquer natureza e que, dentro de um contexto de maior complexidade, pode ser o grande diferencial das empresas que desejam ter ou permanecer com relevância em seus mercados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

  1. BROWN, Tim. Design Thinking: uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
  2. VIANNA, Maurício; VIANNA, Ysmar; ADLER, Isabel K.; LUCENA, Bruno; RUSSO, Beatriz. Design Thinking: inovação em negócios. Rio de Janeiro: MJV Press, 2012.
  3. BBVA – Invation Center. Ebook – Design Thinking: a creative and different approach to take on projects and resolve problems arising on business. Disponível em: http://www.centrodeinnovacionbbva.com/en/ebook/ebook-design-thinking – Acesso: 15 Novembro 2016.
  4. DUARTE, Alisson. Inovação no gerenciamento de projetos: o design como novo orientador dos processos de planejamento e gestão. Disponivel em: https://pmkb.com.br/artigo/inovacao-no-gerenciamento-de-projetos-o-design-como-novo-orientador-dos-processos-de-planejamento-e-gestao/ – Acesso: 15 Novembro 2016.

Nota:

[1] Paradgma analítico: termo utilizado pelo CEO da IDEO, Tim Brown, em referência às abordagens puramente analítica e quantitativas que são utilizadas pelos profissionais e empresas para resolver os mais diversos problemas e desenvolver soluções.

Sobre o Colunista:

Alisson Duarte, Gerente de projetos especialista, graduado pela Universidade Fumec no curso de Design Gráfico e pós-graduando no MBA – Gestão de Projetos pelo IETEC/MG. Atuante como Gerente de Projetos, possuindo experiência em gerenciamento de projetos na área de design, desenvolvimento de softwares, comunicação , além de coordenar equipes de Design e TI. Pesquisador de design thinking aplicado à gestão de projetos. E-mail de contato: alsndrte@outlook.com

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