Publicado em 20/11/2014
Resumo
Projeto é um conjunto de atividades temporárias, realizadas em grupo, destinadas a produzir um produto, serviço ou resultado único. Os projetos são realizados através de processos, técnicas e ferramentas de gerenciamento relacionadas ao contexto no qual são realizados. O surgimento de projetos modernos que envolvem atividades com alto grau de complexidade, em um ambiente caracterizado por mudanças rápidas e desafios culturais e legais, demanda um gerenciamento de projetos eficaz. O objetivo desse artigo é estudar a complexidade de projetos no Brasil e os desafios a ela relacionados.
Introdução
De acordo com MORIN (2011), complexidade é um problema, é um desafio e não é uma resposta. A complexidade corresponde à diversidade, ao entrelaçamento e a contínua interação de infinidade de sistemas e fenômenos que constituem o mundo natural. Ela ocorre não apenas pela existência dos fatores que a compõe, mas, sobretudo, pelo desconhecimento ou inexperiência sobre como lidar com ela.
Projetos complexos são assim classificados por uma composição de fatores e demandam uma gestão focada nas interfaces dos produtos gerados, sem perder a atenção da condução de cada produto. Os projetos complexos exigem: conhecimento técnico e gerencial especializados, atenção focada nas interfaces e objetivos, consciência dos pontos de complexidade do projeto pela equipe de gestão e, principalmente, o gerenciamento das comunicações e dos relacionamentos com as partes interessadas.
A complexidade de projetos apresenta um grande desafio para a gestão dessa área no Brasil, uma vez que, são influenciados por fatores econômicos, legais, políticos e socioculturais, demandando grande experiência e destreza dos líderes de projetos na condução de sua execução.
Desenvolvimento
A complexidade de projetos é um assunto relativamente recente e poucos são os estudos sobre esse tema no Brasil. Ela advém da natureza distinta e da necessidade de uma gestão específica para os tipos de projetos com seus diversos contextos. No entanto, as práticas de gestão de projetos ainda não oferecem suficiente suporte para lidar com as características de projetos com elevada complexidade. Os desafios impostos pelo mercado competitivo às organizações têm acentuado cada vez mais as demandas por uma gestão efetiva da complexidade dos projetos.
Todavia, todos os projetos, de acordo com o PMI (2013), são incertos, pois são desenvolvidos e concebidos com base em um conjunto de hipóteses, cenários ou premissas, e que devem ser analisados com relação aos riscos associados ao caráter inexato, instável, inconsciente ou incompleto das premissas. Assim, a complexidade dos projetos está diretamente relacionada sob o ponto de vista de dois parâmetros específicos:
- Dinâmica: quantidade de mudanças de um projeto
- Imprevisibilidade: quantidade de incertezas e riscos do projeto
Ao início de um projeto, quando há um maior nível de incertezas e mudanças, a complexidade é elevada. À medida que o escopo é definido e as certezas se tornam mais evidentes, a complexidade diminui. Como também, na medida em que os riscos são tratados e as mudanças ocorrem, a complexidade poderá ser controlada, desde que não surjam novas mudanças e incertezas.
As incertezas representam pontos chaves na gestão da complexidade e podem ser minimizadas quanto maior o grau de conhecimento das necessidades do projeto. Além disso, o gerenciamento de riscos e da integração é fundamental para obter sucesso no gerenciamento da complexidade.
Os projetos comumente considerados de maior complexidade geralmente são os de maior porte ou que demandam um alto grau de avanço em tecnologias e inovações. No entanto, projetos de menor porte podem se tornar complexos quando exige certo cuidado com a administração das partes interessadas, fator crítico para o impacto das mudanças e riscos relacionados aos projetos.
No Brasil, o termo complexidade de projetos deve levar em consideração o chamado “Custo Brasil” que é um termo genérico, usado para descrever o conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que encarecem o investimento no Brasil, dificultando o desenvolvimento nacional, aumentando o desemprego, o trabalho informal, a sonegação de impostos e a evasão de divisas. Por isso, é apontado como um conjunto de fatores que comprometem a competitividade e a eficiência da indústria nacional.
No que se refere ao nível de incertezas, o aparato de disfunções burocráticas no Brasil certamente contribue para sua elevação, acarretando, por consequência, no aumento da complexidade aos projetos. Isso pode ser verificado nas obras de infraestrutura que dependem de licenciamento ambiental. Segundo ARAUJO (2007) “a legislação ambiental é vasta e complexa, e existem conflitos de atribuições e responsabilidades entre os vários entes da Federação responsáveis pela gestão ambiental, o que tem levado a impasses no processo de licenciamento ambiental de empreendimentos estratégicos para o desenvolvimento do País” [1]. Nesse contexto, a definição de prazos para concessão das licenças ambientais torna-se tarefa obscura, prejudicando o planejamento dos projetos, uma vez que essas licenças representam marcos obrigatório para o andamento dos projetos.
Contudo, os exemplos apresentados nesse texto são algumas das diversas variáveis que influenciam na complexidade de projetos no Brasil. A falta de clareza nas leis em todas as esferas, federal, estadual e municipal, juntamente com a ineficácia dos governos na exigência do cumprimento destas, a escassez de uma cultura voltada para um planejamento efetivo (“trabalhamos sempre para apagar incêndios”), são também fatores que dificultam ainda mais o fortalecimento da gestão dos projetos complexos brasileiros.
Conclusão
Os projetos são importantes, pois fazem parte da gestão estratégica organizacional. O portfólio de projetos das organizações é geralmente definido por meio de iniciativas que buscam inovação e eficiência, o que envolve diferentes graus de complexidade e incerteza. O planejamento, a execução, o monitoramento e controle e o encerramento dos projetos de forma satisfatória são essenciais para o alcance do sucesso.
As organizações não devem considerar projetos no Brasil como cenários estáveis e previsíveis, em função do panorama atual em que há um grande número de mudanças ocorrendo no percurso dos projetos e de suas complexidades influenciadas pelos diversos fatores, como legislações e inovações tecnológicas.
A complexidade ainda é um grande desafio a ser superado na gestão dos projetos brasileiros. Deve-se, prioritariamente, atentar para as diversidades e as adversidades as quais o país está sujeito, a fim de buscar soluções pertinentes e eficientes à condução desse desafio.
NOTA DO PORTAL PMKB: faça download de modelo de Mapa de Interfaces, Fluxograma e Checklist para Complexidade.
Referências Bibliográficas
- MORIN, Edgar; LE MOIGNE, Jean-Louis. A Inteligência da Complexidade. São Paulo: Petrópolis, 2000.
- PMI. Project Management Institute. A Guide to the Project Management Body of Knowledge, 5ª Edição – The Management Institute, 2013.
- Elias, E. M. Gestão de Mudanças Passo a Passo em projetos na indústria da construção [apresentação na internet]. 2011 [acesso em 8 novembro 2014]. Disponível em: http://pt.slideshare.net/ConstrutoraIben/gesto-de-mudanas-9874730?next_slideshow=1
- Tellmann, P., Scussel, M. C., Formoso, C., Miron, L. Desafios para a gestão de projetos urbanos com elevada complexidade: análise do Programa Integrado Entrada da Cidade em Porto Alegre, RS. 2011. [acesso em 9 de novembro 2014]. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/ambienteconstruido/article/view/19856
- Amorim, E. S. Os desafios das licitações de obras públicas. 2006. [acesso em 7 de novembro 2014]. Disponível em: http://ie.org.br/site/noticias/exibe/id_sessao/5/id_noticia/141/Os-desafios-das-licita%C3%A7%C3%B5es-de-obras-p%C3%BAblicas
- Araújo, S. M. V. G. Martins, I. A. G. Alternativas para resolver os impasses relativos ao licenciamento ambiental de obras de infra-estrutura. 2007. [acesso em 9 de novembro 2014]. Disponível em http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/1164
[1] http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/1164
Autores:
Anelise Moraes de Oliveira,
Lidiane Aparecida Maia,
Nebai Tavares Gontijo,
Pedro Franzoni,
Rafael Martins,
Sirlene Cristina Alves e Silva
Contexto: o presente trabalho é resultado de pesquisa realizada com alunos da 20a Turma de MBA em Gestão Avançada de Projetos com professor Ítalo Coutinho do IETEC. Para saber mais sobre o MBA.
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Este artigo faz um interessante paralelo entre a teoria de gestão de projetos e a realidade brasileira. a adminstração pública brasileira, fortemente marcada por seu insulamento burocrático, constitui-se em verdadeiro entrave para o ambiente de négócios, e, por consequência, à gestão de projetos. A identificação dos riscos, dos stakeholders deve ser realizada adequadamente, para que as situações que envolvam a burocracia estatal não impactem negativamente o sucesso dos projetos.