Publicado em 14/09/2016
Cardoso (2011) define que o “design nasceu com o firme propósito de pôr ordem na bagunça do mundo industrial”. Tal definição é justificada pela necessidade premente da nova sociedade industrial, que a partir da segunda metade do século 19, se encontra com o desafio de tornar os artefatos e produtos fabris mais atraentes e eficientes. A partir deste momento até os dias atuais a participação do design nos negócios vem se ampliando. O crescimento de tal participação pode beneficiar os processos de gestão das empresas no momento em que uma mentalidade orientada pelo design proporciona uma série de vantagens competitivas quando comparadas a outras formas de gestão. Além disto, coloca em foco um fator cada vez mais relevante para a tomada de decisões e estratégias: o ser humano.
Vivemos um momento onde empresas como IBM, HP, Google, Océ e tantas outras compartilham um entendimento de que design e negócios não são uma atividade distinta. Os dirigentes destas empresas perceberam que a função do design, em um mundo complexo como o atual, pode oferecer soluções que vão além dos aspectos funcionais e estéticos. O design tem sido entendido cada vez mais pelas empresas de ponta e os gestores inovadores como ferramenta que impacta os negócios e que favorece a tomada de decisões. Tal afirmativa parte da premissa de que uma gestão orientada pelo design proporcionaria um certo nível de clareza na imprecisão do mundo complexo.
Assim, torna-se cada vez mais competitivo um olhar mais atento, por parte das organizações e dos gestores, em torno de como os profissionais da área de design desenvolvem um modo de se orientarem e de desenvolver soluções nos mais diferenciados projetos. Além disto, lançar mão das ferramentas e técnicas comumente utilizadas pelos designers tem se mostrado aplicáveis nos mais diferentes segmentos, impactando positivamente os negócios e projetos.
Uma outra matriz mental proposta para a gestão de projetos
Mas afinal qual é o valor que o design pode entregar à gestão de projetos? Acreditamos que a mentalidade estabelecida no segmento de design para criar soluções, modelar produtos e serviços seria o primeiro grande valor a ser aplicado no gerenciamento de projetos. Em segundo lugar as ferramentas que são utilizadas neste segmento seria outro importante valor oferecido pelo design.
Entende-se a mentalidade do design como uma matriz mental no qual características como visão holística, pensamento integrativo, empatia, curiosidade, intuição, inteligência emocional e social, entre outras são fatores presentes na condução, pelo designer, do desenho de soluções, produtos e serviços. Muitas dessas características tem sido sinalizadas pelo próprio PMI – Project Management Institute como excelentes para a atribuição designada aos gerentes de projetos.
Desta forma a adoção de uma matriz mental orientada por tais fatores indica uma vantagem competitiva na direção dos projetos de qualquer natureza, possibilitando que o gerente de projetos possa, com tais características, realizar uma gestão mais assertiva. Citamos como exemplo a afirmação de Alexander Osterwalder – Coautor do livro Business Model Generation – quando informa que um bom designer leva em consideração diversas variáveis para se alcançar um resultado que pode ser transformado em um produto ou serviço. Essa capacidade de se pensar de forma holística favorece essa assertividade, no momento em que tal visão proporciona a inclusão de fatores que seriam ignoradas por um raciocínio mais analítico. Como informa Tennyson Pinheiro, Diretor do curso de Design Thinking da ESPM que confiar apenas na racionalidade e no universo analítico tem se mostrado arriscado na condução dos negócios.[1]
Em se tratando de ferramentas e processos orientados pelo design temos como referência o Design Thinking. Metodologia essa que tem sido utilizada pelas empresas mais inovadoras do mundo.
Partindo destas (e outras) características do universo dos designers é proposto pelo CEO da IDEO – Tim Brown – uma metodologia que fosse aplicável a qualquer tipo de negócio a fim de favorecer a inovação e o crescimento das empresas. Tal metodologia tem sido utilizada como base para a criação de diversas outras ferramentas como o próprio Business Model Generation, Business Design e o PlanD (planejamento orientado pelo Design), nossa proposta de aplicação do Design Thinking e Business Design na gestão de projetos.
O Design Thinking apresenta uma maneira de se estruturar a busca por soluções de um determinado problema ou mesmo a criação de algo novo – seja um produto ou serviço. Essa estruturação é realizada por meio de três espaços a saber:
- Inspiração: espaço de coleta de insights por meio das mais variadas fontes possíveis.
- Idealização: tradução dos insights por meio de ideias que serão utilizadas na próxima fase.
- Implementação: as ideias mais factíveis são implementadas por meio de um plano concreto de ação.
Estes espaços acontecem de forma iterativa onde os profissionais podem lançar mão de uma série de recursos para realizar levantamento de dados, criação de soluções de forma colaborativa e suprir diversas outras demandas e necessidades inerentes ao planejamento e criação de um novo produto ou projeto.
Krigsman afirma ainda que a pratica do Design Thinking favorece à equipe de projetos a se estruturarem de forma a promover a integração, criatividade e o alinhamento dos participantes em torno de objetivos em comum.
Desta forma, partindo das possibilidades de valor que essa mentalidade orientada ao design juntamente com um estudo aprofundado do Design Thinking e Business Design podemos verificar que eles oferecem uma serie de conhecimento e práticas que pode favorecer a gestão de projetos em diversos sentidos como:
- Matriz mental inovadora: A aplicação do Design Thinking na gestão de projetos proporciona uma visão que fomenta a criatividade, colaboração e inovação no momento que estimula, na equipe, o pensamento sistêmico e integrativo, uma visão holística e uma abordagem em torno do ser humano.
- Alinhamento dos projetos com negócios: atualmente uma das responsabilidades do gerente de projetos e cuidar do alinhamento entre o que o projeto está entregando e se tais entregas representam o valor que o negócio deseja oferecer aos seus stakeholders (internos ou externos). As práticas do Design Thinking e Business Design, quando aplicados à gestão de projetos, favoreceriam esse alinhamento, uma vez que tais ferramentas proporcionam processos uteis para a verificação continua deste direcionamento.
- Estruturação para levantamento de requisitos: o PMI – Project Management Institute informa em seu relatório PMI Pulse – Gerenciamento de Requisitos do ano de 2014 demonstra por meio de uma ampla pesquisa o grande desperdício e falha de projetos provocados pela negligencia no levantamento e gestão de requisitos. Além disto o relatório mostra a importância das equipes de projeto realizarem o levantamento de requisitos de forma estruturada. Neste sentindo o Design Thinking apresentaria uma metodologia capaz de oferecer as bases para essa estruturação, uma vez que ele apresenta um caráter basilar de estruturação dos esforços de para a criação de produtos e serviços.
Desta forma verificamos a grande potencialidade da aplicação das visões, práticas do Design Thinking e Business Design no cenário da gestão de projetos que podem impactar positivamente o gerenciamento dos empreendimentos a fim de tornar seu planejamento e gestão mais assertivos e alinhado ao negócio que os promovem.
[1] BROWN, Tim. Design Thinking: uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.Pág. Apresentação.
Sobre o colunista:
Alisson Duarte, Gerente de projetos especialista, graduado pela Universidade Fumec no curso de Design Gráfico e pós-graduando no MBA – Gestão de Projetos pelo IETEC/MG. Atuante como Gerente de Projetos, possuindo experiência em gerenciamento de projetos na área de design, desenvolvimento de softwares, comunicação , além de coordenar equipes de Design e TI. Pesquisador de design thinking aplicado à gestão de projetos. E-mail de contato: alsndrte@outlook.com
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