Publicado em 30/09/2015
Vivemos em um mercado cada vez mais globalizado e competitivo, que tem levado as Organizações a viverem em permanente estado de mudança. Isso me faz lembrar um pensamento de Heráclito de Éfeso[1]: “A única coisa permanente é a mudança”. Para melhor lidar com as mudanças temos presenciado a valorização do gerenciamento de projetos.
A reportagem de capa da Revista Veja 2.270 de 23 de maio de 2012, como resultado da entrevista com 70 líderes no Brasil, apontou que Conhecimento e Habilidades em Gestão de Projetos era uma das oito características do profissional mais cobiçado do mercado.
Esse conhecimento e habilidades estão associados à utilização de processos, também chamados de “práticas”, de gerenciamento de projetos. Quanto maior a conscientização e utilização dessas práticas, maior é a maturidade da organização em gerenciamento de projetos. Porém, algumas perguntas se fazem necessárias. Quem dita essas práticas em gerenciamento de projetos? Devemos simplesmente copiar o que é ensinado em sala de aula e / ou tem sido publicado em livros, revistas e artigos? Devemos utilizar o mesmo método de gerenciamento de projetos em todos os projetos?
Capacidade de Adaptação às Mudanças
“It’s not the strongest of the species that survives, nor the most intelligent; it is the one that is most adaptable to change.” Charles Darwin
É comum durante cursos e consultorias, alunos e clientes me questionarem acerca do perfil ideal de um profissional de gerenciamento de projetos. Será que é aquele que fez um mestrado ou MBA nessa área? Ou aquele que é certificado Project Management Professional (PMP) pelo Project Management Institute (PMI)? Ou aquele que tem muitos anos de experiência em projetos? Ou até mesmo aquele com uma combinação das características acima? Eu costumo responder, parafraseando Charles Darwin[2], que não são os mais fortes, em conhecimento e experiência, que sobrevivem no mercado, mas aqueles com maior capacidade de adaptar esse conhecimento às necessidades de cada projeto. Nessa mesma linha, o físico Stephen Hawking disse que “Inteligência é a habilidade de se adaptar às mudanças”.
Essa minha opinião é fruto da observação do desempenho de profissionais de gerenciamento de projetos, durante consultorias que venho realizando em vários segmentos do mercado. A revista ISTOÉ[3] publicou o resultado de uma pesquisa internacional que aponta a capacidade de mudança como sendo uma das qualidade mais valorizada pelas empresas em processos de seleção de gerentes executivos. Essa capacidade, na área de projetos, significa não somente a de mudança de empresa e/ou de cargo, mas também a mudança de tipo e porte de projetos, em que o profissional deve adaptar o seu estilo gerencial e a aplicabilidade dos conceitos e experiências vividas a cada ambiente, com atenção especial aos diversos stakeholders (pessoas e organizações, como clientes, equipe, patrocinadores, organizações executoras e usuários, que estejam ativamente envolvidas no projeto ou cujos interesses possam ser afetados de forma positiva ou negativa pela execução ou término do mesmo).
O Darwinismo
Voltando ao Charles Darwin, em seu livro de 1859, “A Origem das Espécies” (do original, em inglês, On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life), ele introduziu a ideia de evolução a partir de um ancestral comum, por meio da seleção natural. O termo Darwinismo tem sido utilizado como referência a todas as teorias propostas por Charles Darwin, que foram nomeadas posteriormente de: Seleção Natural e Teoria da Evolução. Estas teorias são utilizadas em diferentes ramos científicos. Nos quadros abaixo traço um paralelo entre as principais características do processo darwinista e a atuação do profissional de gerenciamento de projetos.
a) Reprodução
Teoria Darwinista
Os agentes devem ser capazes de produzir cópias de si próprios e essas cópias devem ter igualmente a capacidade de se reproduzirem.
Darwinismo no Gerenciamento de Projetos
Uma das características de um líder, segundo James C. Hunter[4] é que ele cria novos líderes. Desta forma, é papel do gerente de projeto produzir profissionais capazes de gerenciar a parcela do projeto que estão alocados e, até mesmo, outros projetos. Esta reprodução é feita através de exemplos comportamentais e da transferência de conhecimentos e experiências.
b) Hereditariedade
Teoria Darwinista
As cópias devem herdar as características dos originais.
Darwinismo no Gerenciamento de Projetos
“As idéias que defendo não são minhas. Eu as tomei emprestadas de Sócrates, roubei-as de Chesterfield, furtei-as de Jesus. E se você não gostar das ideias deles, quais seriam as ideias que você usaria?” – Dale Carnegie[5]
Os profissionais de gerenciamento de projetos devem absorver os ensinamentos de seus gerentes, as lições apreendidas de projetos anteriores e os conceitos divulgados em cursos e publicações.
c) Seleção Natural
Teoria Darwinista
Os indivíduos são selecionados pelo ambiente. A seleção natural destrói e não cria. Quando uma espécie encontra-se em um meio favorável, o número de indivíduos daquela espécie aumentará até o limite de capacidade daquele ambiente.
Darwinismo no Gerenciamento de Projetos
O entendimento do ambiente em que o profissional se encontra é fator fundamental para a aplicação de seus conhecimentos em gerenciamento de projetos. Por exemplo, se trabalha em uma organização sem fins lucrativos, não deve utilizar o conceito de “cliente”, mas sim de “comunidade” ou “investidor social”, dependendo do caso. Se a empresa em que trabalha é resistente ao uso de práticas de gerenciamento de projetos e você não tem força política para mudar essa situação, procure outro lugar para trabalhar.
Quando você não se adapta ao meio, naturalmente você será excluído do mesmo.
d) Variação
Teoria Darwinista
Ocasionalmente, as cópias têm de ser imperfeitas (diversidade no interior da população).
Darwinismo no Gerenciamento de Projetos
Em outro artigo discutirei a importância das variações na utilização adaptada de conhecimentos e experiências (lições aprendidas, por exemplo), o que denominaremos “A originalidade da cópia”.
Conclusão
Vimos neste artigo que o gerenciamento de projetos é uma área de conhecimento que tem sido demandada cada vez com mais intensidade nos últimos anos. A atualização constante, através da participação em cursos e da leitura de livros e artigos, é fator crítico para aqueles que pretendem ter sucesso nessa área. Porém, não basta frequentar bancos escolares, ler diversos materiais sobre o assunto, ter vários anos de experiência, se o profissional não possuir a capacidade de adaptar todo esse conhecimento à realidade de cada projeto.
Refêrencia
- [1] Heráclito de Éfeso (datas aproximadas: 540 a.C. – 470 a.C. em Éfeso, na Jônia) foi um filósofo pré-socrático, recebeu o cognome de “pai da dialética” (http://pt.wikipedia.org).
- [2] Charles Darwin (1809-1882), inglês naturalista e autor da Teoria da Evolução.
- [3] Revista Brasileira “Isto é” – número 2018 – 9/7/2008 – página 85.
- [4] O Monge e o Executivo – Uma História Sobre a Essência da Liderança. James C. Hunter Editora Sextante
- [5]Escritor norte-americano, especialista em comunicação, autor de vários livros, entre eles, “Como fazer amigos e influenciar pessoas” – http://pt.wikipedia.org/wiki/Dale_Carnegie.
Sobre o Autor:
Carlos Magno da Silva Xavier (Doutor, PMP), Diretor do Grupo Beware – Eleito, em 2010, uma das cinco personalidades brasileiras da década na área de gerenciamento de projetos. É autor/coautor de 14 livros, Doutor em Administração pela Universidad Nacional de Rosário, Mestre pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) e certificado Project Management Professional (PMP) pelo Project Management Institute (PMI). É sócio-diretor da Beware Consultoria Empresarial e professor do MBA em Projetos da Fundação Getúlio Vargas desde 2001. Sua experiência profissional, de mais de 20 anos em gestão de projetos, programas e portfólio, inclui a consultoria em várias organizações, como TIM, Marinha do Brasil, BR Distribuidora, Petrobras, Halliburton, SESC-Rio, Eletronuclear, Eletropaulo, Odebrecht, Shopping Iguatemi entre outras.
E-mail de contato: magno@beware.com.br – Site: http://beware.com.br
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